domingo, 26 de outubro de 2008

Louça suja se lava em casa... mas ela seca!


Era sempre assim, fosse almoço ou jantar, tão logo todos terminavam de comer a sobremesa, ela, num pulo, pegava o pano de prato e anunciava em altos brados: "Eu seco!Eu seco!". Era sempre assim. Sempre antes de todos.

A família toda já estava acostumada. Alguns achavam que era algum tipo de fascinação por panos de prato, outros achavam que ela era hiperativa, que não conseguia ficar sem fazer nada. Outros achavam que ela era uma puxa-saco da sogra. A sogra, por sua vez, achava ela uma gracinha de moça, tão prestativa! Achava que o filho tinha tirado a sorte grande ao se casar com uma mulher que não fugia à luta! Das três, era a norinha favorita! A mãe se enchia de orgulho! Não falava, mas sempre pensava, com um sorrisinho nos lábios, que tudo que a filhinha sabia, havia aprendido com a mamãe!

Não esperava ninguém pedir, ela tomava a iniciativa e era admirada por isso. De pano em punho, ia pra beira da pia esperar o lavador, não importava quem fosse! Daí era um instantinho... logo alguém se ofereceria pra lavar, afinal, pegava até mal ninguém se oferecer prontamente pra lavar depois que ela estava a postos, prontinha para sua atividade!

Mal sabiam todos.

Enquanto o clã observava e aplaudia, ainda que em silêncio, o marido ficava impassível. Calado sempre. Era o único que conhecia o segredo dela. E se ressentia.

Anos e anos assim. Depois de 8, quando o casamento estava às vésperas do fim e as brigas se tornaram públicas, o marido, num desses encontros de família, num rompante de sinceridade, não pôde mais calar-se diante daquilo. Num clamor de fúria trouxe à luz o segredo dela:

- É mentira! Ela é uma mentira! Ela só se oferece pra secar a louça para não ter de lavar! Ela não ama secar, ela odeia lavar louça!! Ninguém consegue, ninguém é capaz de perceber a estratégia dela?! Estão vendo minhas unhas moles, fracas e quebradiças?! Eu passei os últimos 8 anos lavando louça... eu, eu... eu nunca tive chance de secar... nem uma única vez! Ela sempre se oferecia antes. É impossível viver com uma pessoa como ela...

Um choque. O casamento acabou. Ela acabou. Todos ficaram magoadíssimos com ela. Como era falsa! Mentirosa! Ardilosa! A sogra não queria mais vê-la, nem pintada de ouro e enrolada num pano de prato de prata. As outras noras diziam baixinho... "Eu sempre soube... essa nunca me enganou!". Até a mãe se distanciou... que vergonha... isso ela não havia ensinado! O (ex) marido fez terapia e manicure, comprou uma lava-louças e não se casou novamente, não quis correr o risco... as unhas ficaram ótimas!

Casamento tem cada uma!

sábado, 18 de outubro de 2008

Bakery Itiriki


Depois que os super, hiper, mega mercados passaram a brincar de vender pão francês, as padarias tiveram de rebolar para se manter na ativa. A competição parecia vencida pelos mercados: preços competitivos, diversas opções de complementos, sem contar a praticidade de comprar num mesmo lugar o café da manhã, o almoço e o jantar, mas as padocas não abaixaram a cabeça, nem as portas! Se modernizaram, ampliaram a gama de produtos, diversificaram, passaram a vender de tuuuudo... até pão!

Padarias são o templo do bom aroma e por mais que os mercados se esforcem, nunca conseguirão ter aquela atmosfera cheirosa e aconchegante. Algumas, porém, vão além do trivial e conseguem se superar, são um verdadeiro absurdo e uma dessas é a Bakery Itiriki* no bairro da Liberdade em São Paulo (Rua dos Estudantes, 24 - (11) 3277-4939). Uma festa para todos os sentidos.

Logo que se abre a porta dessa padaria, uma nuvem deliciosa e perfumada de gostosuras entra pelo nariz e faz disparar o coração: cheirinho de pão assando, de doces, de café. O ambiente é encantador. A iluminação é confortável aos olhos e destaca o colorido dos lindíssimos pães, bolos e tortas artesanais. O sistema é self service... dá vontade de pegar um de cada de tudo! No entanto, praticamente todos os itens têm tabela nutricional; ao dar uma espiadinha no valor calórico, a idéia de lotar a bandeja fica um pouco prejudicada pelo bom senso! Ufa! É tudo tão fofinho, sucolento, são tantas opções que o pão francês fica todo tímido ali na cestinha no canto... mas é reconfortante saber que ele resiste! Há também os pães chineses cozidos no vapor com diversas opções de recheios e o pão de feijão. Os bolos confeitados são obras de arte, as porções são generosas e os preços são proporcionais ao tamanho e à beleza.

Seguindo o tilintar das xícaras, subindo as escadas, há um mezanino onde pode-se degustar as delícias acompanhadas por um espresso fresquinho, confortavelmente acomodados numa das mesas com cadeiras ou com fofos sofás. Seria possível passar uma vida inteira ali... não fosse um detalhe: a "música" ambiente. Ficou claro que essa não era uma preocupação para tornar o ambiente totalmente agradável... tocava uma seqüência pavorosa dos piores pagodes de todos os tempos! Ui! Talvez seja esta uma estratégia para manter a boa circulação, afinal, quem consegue ficar durante muito tempo ouvindo tanto sofrimento, dor de cotovelo e afins?!

A Bakery Itiriki é uma padaria encantadora, charmosa, cheirosa e que merece, no mínimo, uma visita... mas garanto que quem passar por lá pra dar uma olhadinha, não vai resistir aos apelos dos sentidos!! Recomendo!


*até o nome é gostosinho de falar, né?! Itiriki, Itiriki, Itiriki, Itiriki... hihihihihi

domingo, 12 de outubro de 2008

Sobre o paladar, o tempo e arrepios!


Ah, a doce infância! O mundo era outro. Não que fosse o mundo da lua... era esse mundo mesmo, mas de outra forma, com outros olhos. Quando se é criança, há o futuro todiiiinho pela frente, ainda que não se pare pra pensar nisso, ele simplesmente vai chegando. O passado é tão curtinho, que nem dá pra ficar se segurando nele. E o presente... ah, sempre se espera que seja dos grandes! E as mudanças! Tantas e tão rápidas e cada vez mais. Nessa fase, algumas coisas mudam a olhos vistos, como o corpo. Outras vão mudando, mudando e só nos damos conta quando paramos pra pensar no assunto. Um exemplo?! O paladar!


O paladar é, talvez, o sentido que mais se transforma ao longo da vida. Da infância à vida adulta há sabores que permanecem deliciosamente intocáveis, eram, são e sempre serão os favoritos, no entanto, conforme tudo vai mudando, o paladar também vai se modificando, se apurando, se refinando. Por isso, sabores que precisavam fazer nossas mães segurar o chinelo na mão para nos "convencer" a degustar, depois de algum tempo, necessidade ou pura consciência, passaram a ser o manjar dos deuses na vida adulta. E vice-versa, evidentemente!


Há coisas que só de lembar me causam arrepios (... e não são arrepios de emoção!). Quando era criança, a minha sobremesa favorita, a gostosura dos meus sonhos era o que chamávamos de gemada! Era uma receitinha nossa: gema, açúcar e Toddy! Urgh! Tudo devidamente misturado num copo, um creme que era degustado beeem lentamente, para que todo o sabor da gema com o achocolatado fosse apreciado com minúcia! Dá pra acreditar?! E tinha a versão "branca": gema, açúcar e uma pitadinha de canela pra apaziguar o cheirinho peculiar da gema! Lembro que essa iguaria era motivo de chantagem: "Se não comer tal coisa, não tem gemada!". Hoje, somente o contrário funcionaria bem: "Se não comer tal coisa, vai ter gemada!". Praticamente uma tortura!


Frutas, verduras, legumes e tudo que era saudável passava longe do meu cardápio! Era uma criança normal: detestava tudo e lutava com veemência (muita veemência, acreditem!) contra a presença dessas coisas em meu prato... só comia se rolasse uma gemada depois, claro! Hoje, porém, não posso imaginar um só dia sem uma frutinha, uma saladinha, um refogadinho! O paladar mudou completamente, não só pelo tempo, mas pela consciência da necessidade e pelo prazer das novidades.


Todavia, nem só do tempo nascem as mudanças. É também por conta de transformações físicas que mudamos alguns aspectos de nosso paladar. Brigadeiro, por exemplo, quando criança era capaz de comer aos quilos sem o mínimo esforço. Já adulta, porém, como um, dois, (...mentira, como três!), no máximo. Só. O sabor do brigadeiro continua maravilhoso, mas a forma física querendo se arredondar faz com que seu gosto fique um pouquinho mais amargo agora! O "paladar" mudou!


Hoje, dia das crianças, é dia de comemorar! Chute o balde! Mande a dieta dar uma volta! Um diazinho só não mata ninguém. Pense em algo que você adorava comer quando era criança (menos gemada!) e aproveite para se deliciar... vale chocolate, sorvete, macarronada, pastel! Provoque sua memória, dê um presente a seu paladar da infância! Amanhã, dá-se um jeito!!



PS:...ah, que maravilha: Fernando Alonso ganhou de novo!! Venceu lindamente o GP do Japão. Valeu a pena acordar à 1:30h, valeu sim! Meu presente. Uma rodada de brigadeiro (porque é dia das crianças!) pra todo mundo, por minha conta! Eba!

domingo, 5 de outubro de 2008

Muito bom! Tomara que tenha segundo turno.

Dia de eleição é sempre nostálgico pra mim. É nesse dia que volto à escolinha onde estudei praticamente toda minha vida, refaço caminhos, revejo professoras, amigos*. Pra dizer a verdade, o pleito eleitoral em si é um coadjuvante, um mero pretexto para voltar no tempo! Hoje não foi diferente, mas foi especial!

Como de costume, fui votar logo cedinho, a primeira de minha seção, junto com a turma da terceira idade!! Voltando pra casa, encontrei uma graaande amiga querida, uma segunda mãe que me conhece desde quando eu ainda era apenas uma barriga em minha mãe. Era pra ser só uma conversinha de portão, mas o papo começou a ficar bom, então ela me convidou pra entrar.
A casa dela é minha referência de casa feliz. Um quintal gigantesco com inúmeras árvores: ameixa amarela**, jabuticaba***, goiaba, laranja, limão, pitanga, cambuci, sem falar das que não davam frutas, apenas lindas flores, como o ipê amarelo. Nessa casa, nesse quintal, passei toda minha infância e sempre que volto é impossível não lembrar e não me sentir muuuuito bem lá!
Como era cedinho, o marido dela (... praticamente meu segundo pai, bom lembrar!) foi buscar pão quentinho pra tomarmos café. Que luxo! Nesse meio tempo os filhos (meus irmãos de coração!) acordaram, outros amigos chegaram e o café da manhã virou uma festa! Café da manhã como se deve ser: todos sentados à mesa, café fresquinho, pão quentinho, frutinhas, queijinhos, gente feliz selebrando mais um dia que começa.

E conversas, e lembranças, e risadas, e o tempo passando. Quando já estava quase na hora do almoço, fui ajeitando as coisas pra voltar pra minha casa, mas, eis que surge... o cambuci, ou quase isso!
Levanta a mão quem já comeu cambuci! Aposto que quase ninguém nem conhece cambuci. É uma fruta típica da mata atlântica, sua árvore está na lista das espécies ameaçadas de extinção, hoje já é uma fruta rara, pois é dificílima de encontrá-la em feiras, sacolões e supermercados, nunca vi... todas as vezes que comi cambuci, tinha um pé logo ali. É uma fruta verde, frágil e tem formato de disco voador (é essa galera aí da foto). Se comê-la purinha, tirada do pé, é capaz que sua boca dê um nó... ela amarra mesmo! Mas, socada com açúcar fica uma delícia! Quando era criança, temporada de cambuci era festa! A criançada ficava até com dor de barriga de tanto comer cambuci com açúcar!! É uma das frutas da minha infância (juntamente com as ameixas amarelas!).
Pra dar um toque de contemporaneidade a esse dia tão nostálgico, o cambuci de hoje veio numa versão um pouco mais interessante, mais adulta: licor caseiro de cambuci!! Pinga, açúcar e cambuci, tudo num vidro, curtindo até o cambuci ficar parecendo uma uva passa!! Fica deliciooooooooooooso. Acho até que o cambuci nasceu pra pinga! É uma combinação perfeita. O cambuci suaviza a cachaça, ela, por sua vez, saboriza-se com o gosto marcante da fruta e o açúcar dá o docinho necessário à vida! Um suquinho delicioso... hehehehe!

De pinga em punho, mais conversa, mais lembranças, mais gente chegando... e vieram as fotos, as fitas com as vozes da infância e meu mundo ficou mais feliz!! Tomara que tenha segundo turno!!

*em alguns casos vejo como o tempo foi cruel pra alguns... hehehehehehe
**eram, são e sempre serão ameixas amarelas pra mim!! http://claraemneve.blogspot.com/2007/10/mei-xa-ameixa-sim.html
***espero que todos tenham tido o privilégio de conhecer uma jabuticabeira... é uma das árvore frutíferas mais lindas que existe...