domingo, 28 de fevereiro de 2010

Duplo-twist-cafeinado




Engraçado como desperdiçamos nossos talentos, não?! Dia desses, no auge da temporada de chuvas caudalosas que umedeceram São Paulo, estava na zona Norte, nas proximidades do Campo de Marte. Fim de tarde, depois de uma dia inteiro de trabalho. Tudo o que mais queria (e precisava) era um bom balde de café.


Ainda não chovia quando entrei no Mc Donalds (parênteses: taí uma surpresa! O café do Mc, da lanchonete mesmo, além de baratinho, é coado, tem as versões 200 e 300ml e, geralmente, é passado na hora... vale a pena! Fecha parênteses) e pedi o tamanho mega-master-power-gigante:



- 7 minutos, senhora. Aguarda?



- Estarei cronometrando!! – ameacei simpaticamente.



Como o café é aquecido nas lavas de um vulcão (só isso explica o fato de o coitado sair em chamas da cafeteira!), sempre peço para viagem, dessa forma, até chegar no meu destino, a temperatura já está suportável à boca humana. Então, acrescente-se aos 7 minutos do preparo mais 2 para a mocinha entender que é para viagem, mais 3 para achar o suporte de papelão (a mão humana não suporta segurar um copo cuja temperatura ultrapassa a de carvão em brasa!), mais 5 para ela trocar o açúcar por a-do-çan-te, ‘adoçante, adoçante, querida!’.



Quando finalmente saí da loja, o estrago lá fora já estava feito. O mundo havia desabado em água. Para piorar um boucadinho, a região é uma baixada e, portanto, qualquer garoa inunda as ruas... se o caso for de dilúvio, daí a coisa piora significativamente.



Como já estava em cima da hora para meu compromisso, não poderia me dar ao luxo de esperar a chuva acalmar e as correntezas não estarem tão propícias ao rafting, enchi-me de coragem, abri minha sombrinha e fui me esgueirando pelos cantinhos. Quem me conhece sabe: morro afogada, mas não me atraso.



Estava super fácil: éramos eu, uma bolsinha básica de mulher pesando 7 kg no ombro, numa mão a sombrinha (que insistia em se transformar numa antena parabólica) e na outra um suporte de papelão com um copo de café em labaredas. Desvia de uma cachoeira aqui, dribla um bueiro aberto ali e vamos que vamos!



Tudo corria (nadava) bem até eu precisar atravessar a rua. Na sarjeta havia uma correnteza imensa que ia até o meio da rua. Eu precisava atravessar. Foi nesse momento que descobri meu talento: dei uns 3 passinhos para trás, enchi os pulmões de ar, corri e saltei... como se não houvesse amanhã! Pena que não foi suficiente, afinal as pernas são curtas e a poça era gigantesca, faltou pouco (infelizmente, afundei meu All Star branquinho na água suja), mas foi um lindo salto! Lindo! Senti vontade de fazer ‘tã-nam’, levantando os braços, tal qual Daiane dos Santos depois de seu duplo-twist-carpado.



Daiane é boa?! Sim, sim, mas aposto que ela nunca fez um salto com um copo de café sem derramar uma gota sequer. Estou esperando o contato da Confederação Brasileira de Ginástica Olímpica para registrar meu salto: um duplo-twist-cafeinado!



Cheguei ao meu destino congelada, pés encharcados, mas tinha um consolo de 300 ml! Estava grata ao café e ele grato a mim, por tê-lo salvado. Final feliz, afinal!



domingo, 21 de fevereiro de 2010

RSVP versus CPM



Além do suflet, do fuet, do abajour, do pão francês e do trauma em Copas do Mundo... a França também é responsável por aquela sigla que aparece em alguns convites: RSVP - Réspondez, S’il Vouz Plaît! Um gentil pedido para que o convidado em questão confirme sua presença e não coloque o organizador em pânico.


Infelizmente, aqui pelos trópicos, essa coisa de confirmar presença não cola muito não, viu?! A tropicalidade, juntamente com a informalidade e a brasilidade, caetanamente falando, fazem com que essas quatro letrinhas sejam sumariamente ignoradas.


Organizar um evento no Brasil é praticamente um desafio matemático. Já explico por que.


Alguns raciocínios levam os convidados a ignorar a confirmação:


1. Pra quê confirmar? É óbvio que eu vou!


2. Não vou confirmar porque se aparecer coisa melhor no dia, não fica chato se eu não aprecer!


3. Confirmar? Eu? A gente cresceu junto, ele sabe que eu não perderia por nada!


4. Não vou confirmar porque só resolvo as coisas na última hora, sou brasileiro, pô!


5. RSVP? Que que é isso? Melhor não mexer com essas coisas!


E por aí vai, as possibilidades são infinitas!


Funciona mais ou menos assim: de 200, 20 ligam confirmando presença. Desses 20, 10 perguntam se podem levar dois amigos super-fofos-queridos que a-do-ra-ri-am ir a essa festa. Fazer o quê?! Os 10 viram 30! Os outros 10 confirmam, mas dizem que não é certeza. Dos 180 restantes, 90 estão pensando seriamente em ir, mas depende da Lua. Dos outros 90, 20 terminaram o namoro, mas estão de flerte novo, que fazem questão de levar à festa e fazer ciúme à ex-companhia. Logo, os 20 viram 40 ou 80, afinal, as novas companhias acham que não vão conhecer ninguém na festa e, para não se sentirem sós, levam um (a) amigo (a) ou dois, porque é difícil escolher. Dos 70, daqueles 90, 15 não vão porque têm outro evento no dia, mas nem se atrevem a dizer, senão nunca mais serão convidados pra nada se forem sinceros assim; outros 15 também não vão, mas ligam confirmando, pra não ficar chato, mas não aparecem no dia e, depois, 10 inventam uma desculpa óóóóóótima para justificar a ausência e 5 preferem acreditar que sua ausência nem será notada porque têm o rosto tão comunzinho! Dos 40, 15 aparecem, mas só para dar um oizinho rápido e saem, sem comer ou beber nada, 5 minutos depois, à francesa; 10 não vão de jeito nenhum porque acham um absurdo terem convidado apenas eles e não o restante da família; 15 pensam da mesma maneira, mas vão e levam o restante da família, transformando isso em 60 ou 120, depende do grau de apego aos familiares.


Fizeram as contas? Nem Oswald Souza seria capaz de chegar a um resultado preciso. Nem o primeiro colocado no Enem conseguiria marcar uma alternativa correta. Nem mãe Diná arriscaria toooooda sua credibilidade chutando um palpite. No Brasil, uma lista de 200 convidados pode variar entre zero e 850 convidados! Daí o porquê de lista de festa ser um verdadeiro desafio matemático!!


Talvez se RSVP fosse adaptada às circunstâncias brasileiras, pode ser que as pessoas se entusiasmassem mais a confirmar presença. Algumas sugestões: SNCNE (se não confirmar, não entra); SCNANCNM (se confirmar e não aparecer não convido nunca mais); CPM (confirme por misericórdia)... nessa linha, nessa linha!


Mas a verdade é que se o jeitinho brasileiro atrapalha na organização, ele também dá uma forcinha para que no final as coisas se ajeitem e acabe dando tuuuuudo certo! É como dizem: onde comem 2, comem 200!



domingo, 14 de fevereiro de 2010

Era uma vez... (explicando o século XXI)

- Era uma vez, num reino muito rico e populoso, uma princesinha que adorava bolinho de chuva. Era uma paixão alucinada, uma fascinação inexplicável. Sempre que lhe perguntavam qual era seu prato favorito ela logo dizia, sem pestanejar ‘um prato cheio de bolinhos de chuva’. Em vão, as pessoas, fossem outros reis, rainhas, conselheiros, ministros ou rudes plebeus, tentavam explicar à pequenina que bolinho de chuva não era comida, que era apenas um belisquetezinho, um lanchinho. Aos argumentos desse tipo ela tinha a resposta na pontinha da língua real: ‘se eu como é porque é comida!’... o que não deixa de ter lá sua razão!! Engraçadinho ou não o fato é que a garotinha só queria saber dos tais bolinhos... todos os dias, fosse no café da manhã, almoço, lanche da tarde ou jantar. Bolinhos de chuva tornaram-se seu néctar dos deuses, seu elixir da alegria. E a pobrezinha (modo de falar) rainha mãe já beirava o desespero, afinal, como pode uma pessoa viver só de bolinhos de chuva? A fixação começou numa tarde chuvosa no reino, quando, pela primeira vez, a mãe resolveu encomendar da cozinheira do palácio a tal iguaria para servir a sua filhinha. Foi amor à primeira mordia. Dali em diante, todos os dias, a garotinha suplicava com lágrimas nos olhos para que os bolinhos fossem feitos. A dona rainha tentava resistir ao máximo, mas acabava cedendo com o coração apertado. Algumas semanas se passaram, então a mãe teve a brilhante ideia de pedir uma ideia à anciã do reino, uma velha senhora que tinha fama de curandeira, meio bruxa, cheia de sabedoria e autora dos melhores conselhos de que se tinha notícia. Escondida de todos, foi à vila mais distante do reino, onde a velha morava, e consultou-se com ela. No dia seguinte, ao raiar do dia, a menininha, ao despertar, gritou para que as criadas trouxessem seus bolinhos, mas, ao invés deles, entrou, nos braços da rainha mãe, um prato de frutas. Depois que a princesinha da mamãe gritou, esbravejou, rosnou e chorou, a mãe lhe disse que não serviria mais os tais bolinhos. Aos gritos a menina perguntava o porquê de tamanho castigo, então ela repetiu o conselho da velha senhora: “porque só se pode comer bolinhos de chuva em dias de chuva” e saiu do quarto, deixando a bandeja de frutas. A menininha enfureceu-se. Não tocou nas frutas, nem mesmo quando seu pequeno estômago real grudara nas costinhas reais, então, quieta, encolhida na cama, desejou com todas suas forças que daquele dia em diante chovesse todos os dias. Desejou com tanta paixão que assim aconteceu. Daquele dia em diante, chuvas torrenciais desabaram sobre o reino e também desabou o tal argumento da mãe que teve de continuar servindo os tais bolinhos à filha...


- Então quer dizer que essa é sua explicação para tanta chuva em São Paulo, mãe?!


- Você tem uma melhor?!


-Não! ...mas... então me diz: por que parou de chover nesses últimos dias?!


- A princesinha empapuçou! Não aguenta mais ver bolinhos de chuva na frente! Agora vai dormir menino, porque amanhã você tem aula cedo!


-------


Minha sugestão para tentar explicar para crianças esse fenômeno climático inexplicável que se sucedeu nos últimos dias em alguns estados do Brasil!! Um toque de doçura ao aquecimento global!


domingo, 7 de fevereiro de 2010

Miojo Gourmet (...oi?!)


Um amigo meu disse certa vez que as palavras miojo e delícia não cabem na mesma frase. De barriguinha e geladeira cheias, pode até ser que essa combinação soe deveras estranha, maaaaas... pensando naquele dia de fome-de-leão-selvagem-sem-zebra-dando-sopa (traduzindo: fome animal, combinada com geladeira e despensa fazendo eco de tão vazias)... aquele miojinho esquecido e desprezado não só cabe na mesma frase como ainda combina com divino, magnífico, gourmet!

Os fiéis leitores desse blog devem estar notando uma certa semelhança nessas palavras, pois não?! Sim, sim... já falei do miojo e de sua aparente incompatibilidade com a palavra delícia, mas é que no post Use apenas em casos de emergência* havia dito que 'em breve'** daria dicas sobre como dar uma melhorada nesse salvador da pátria... e esse dia chegou***!!

Miojo suave e cremoso - em um prato fundo, coloque cerca de 150ml de água filtrada e leve ao micro-ondas por 1min. Abra, coloque o miojo e deixe mais 30seg. Abra, vire o bloco de miojo, dê uma desmanchadinha com o garfo e deixe mais 30seg. Termine de desmanchar os fios que insistem em ficar unidos aos parceiros e deixe mais 1min. Prove. Está al dente?! (kkkkk!!) Digo, está a seu gosto?! Se estiver, retire do micro, escorra cuidadosamente o excesso de água (se ainda restar) e... hora de do toque gourmet (hehehehe): ao macarrão, misture duas colheres de sopa de requeijão (uso o Danúbio zero), 1/4 do pacotinho do tempero que vem junto com o macarrão e (se não for pedir demais pra geladeira...) 1 colher de sobremesa de queijo parmesão ralado. Prontinho!

Miojo carbonara - (não é piada!) antes de qualquer coisa, corte alguns pedacinhos de bacon e leve para fritar (no micro-ondas) embrulhado em vááááááárias folhas de papel toalha. Ficou crocante?! Ótimo, reserve! Repita o passo a passo da receita anterior, mas antes do último minuto, quebre um ovo sobre a pasta (pasta não no sentido nona, no sentido meleca, mesmo!), dê uma bela misturada, adicione o bacon e volte ao micro por mais 1min. Adicione queijo parmesão a gosto. Prontíssimo! Quase um milagre! (Ah, pode descartar o pacotinho de sódio... digo, de tempero que vem junto!)

Miojo colorido - repita o modo de preparo básico do miojo como na primeira receita. Ao final, adicione 1colh. de sopa de milho, 1 de ervilha, algumas azeitoninhas picadas e salsinha picadinha a gosto. Se achar necessário adicione os problemas renais... digo, o pacotinho de tempero, mas acreditem, já há sabor suficiente nesses ingredientes adicionais.

Miojo-pura-ousadia-tipo-mata-nona-do-coração - sabe aquele molho divino que você fez num momento de súbita inspiração e congelou a sobra para um momento de extrema necessidade?! Chegou o momento dele! Descongele-o no micro-ondas. Ah! Você vai precisar de pelo menos 1xíc. e 1/2 desse molho, ok?! Adicione mais 1/2xíc. de água filtrada. A essa mistura, adicione o miojo. Sim, você irá cozê-lo (!) diretamente no molho! Faça aquele passo a passo de 1min., 30seg., 30seg. e 1min. Cubra o prato enquanto cozinha... do contrário, você terá um trabalho do cão para limpar a sujeirada de molho por todo lado! Terminado o tempo, prove. Está kkkkkk al dente?! Está comestível?! Adicione umas folhinhas de manjericão, o queijinho ralado e tã-nam! Está pronto!


Lembrando a todos que as 4 receitinhas foram testadas e, acreditem, ficaram boas!! Mas claro... à todas elas foi adicionada uma dose extra de fome!! hehehe

Se alguém se aventurar a provar com a própria fome, me digam o que acharam!

Bom, dadas as dicas... só resta uma dúvida: se há todos esses ingredientes disponíveis... por que diabos não fazê-las com macarrão de verdade?! Resposta: ...sabe Deus!



* interessou-se por tão rico tema?! leia o que falei anteriormente sobre o miojo: http://claraemneve.blogspot.com/2009/06/use-apenas-em-casos-de-emergencia.html

** não trataremos aqui sobre a relatividade do tempo, ok?!

*** reparem que hoje não é dia 1° de abril!