domingo, 29 de agosto de 2010

Invasão


Chegando tarde da faculdade, depois de um dia exaustivo de trabalho, ela passou pela cozinha, mas só porque era caminho, e foi para o quarto. O sono, certamente, era maior do que a fome, que até achou apetitoso o bolo com cobertura de granulado que a mãe deixara sobre a mesa, mas se ela tivesse dado bola, muito provavelmente, acordaria com a cara enfiada no prato de bolo. Seguiu para o seu quarto, tomou um banho sonambulando e nem se lembra de como foi parar na cama.


Antes de o sol nascer, lá estava ela, em pé, de novo. Enquanto escova os dentes, seu estômago a lembrou do bolo que não comera ontem. Já pensou num bom naco, acompanhado de uma caneca de café fresquinho. Arrumou-se rapidamente e foi pra cozinha. Lá chegando, qual não foi sua surpresa ao encontrar o prato completamente vazio, limpo. Não havia nem uma única migalha de bolo para contar-lhe quem tinha sido o esganado que devorara aquele bolo inteiro. Tomou apenas a caneca de café, intrigadíssima.


Passou o dia todo pensando no fato. Seu pai não podia ter sido, afinal era um diabético pra lá de consciente. Sua mãe, numa disciplina militar, vivia de dieta, jamais trairia sua tabela de calorias por um bolo inteiro no meio da noite... a menos que... Bom, há um tempo atrás ouviu uma história de que a amiga da prima da vizinha da cunhada da nora da sogra da tia da avó da irmã da mãe de uma amiga sua virou assaltante de geladeiras* e, pior, a coisa começou assim, na calada da noite, as coisas simplesmente sumiam da cozinha. Será? Achou melhor nem perguntar pra mãe se ela havia comido o bolo todo, mas iria ficar atenta aos pneuzinhos dela.


À noite, voltando pra casa, a mesma cena se repetiu. Lá estava o bolão, lindo, apetitosamente lotado de chocolate granulado. Não comeu. Resolveu pagar pra ver. Bebeu um copo de leite e foi pra cama. Na manhã seguinte... nada, no caso, nada do bolo! Novamente o prato estava vazio. Durante o dia não se conteve, ligou pra mãe:


- Mãe, está tudo bem?


- Está sim filhinha, por quê?


- Não, nada... na verdade liguei pra agradecer pelos bolos que você tem deixado pra mim... – jogou verde.


- De nada, meu amor! Você, pelo visto, tem chegado faminta em casa, né? Não sabia que você gostava tanto de bolo de fubá!!


- ... sim, sim... mãe, preciso desligar... nos falamos depois, beijo!


- Beijo.


Ficou pasma: não era sua mãe a comilona! O pai não poderia ser, afinal, se tivesse comido tanto açúcar e tanto carboidrato, a essas horas estaria internado! Será que algum vizinho estava assaltando sua casa de noite?! Que loucura... deixa de paranoia. Procurou não ficar penando no assunto. Até que, no meio da aula, na faculdade, um clic! Bolo de fubá?Lembrava-se nitidamente de sua mãe ter mencionado 'bol-lo de fu-bá'. Mas com granulado? Eca! Não combina, sua mãe sabe disso.


Resolveu pôr fim naquela loucura. Chegando em casa, lá estava o bolo. Não comeu. Escondeu uma pequena filmadora apontando para o prato de bolo. Foi dormir. De manhã, mais uma vez, apenas o prato. Pegou a filmadora e foi trabalhar.


Já no escritório, descarregou as imagens no computador e quando deu o play, simplesmente não podia acreditar no que via: um bolo inteiro andando pelo armário e saindo pela janela!! Coisa que faria qualquer ateu fazer o sinal da cruz de joelhos segurando um terço. No entanto, antes de chamar um exorcista, ela aproximou a imagem ao máximo e... o que era aquilo? Ou melhor: o que eram aquilos?! Sim, quilos de... formigas tomando conta do bolo!! Um esquadrão, uma tropa, um exército inteiro. Não era chocolate granulado, afinal, eram formigas.


Estava solucionado o mistério. No mesmo minuto, contratou uma empresa de dedetização para não correr o risco de um dia ser ela e sua família carregadas para um formigueiro qualquer em troca de pagamento de resgate. Sim, as bichinhas estão se aprimorando e não se contentam mais com migalhas. Atenção: ao primeiro sinal de uma invasão dessas, chamem a dedetização, ou a polícia, sei lá, depende do caso, da urgência e do que está sendo levado, né?!


*sobre esse causo: http://claraemneve.blogspot.com/2009/10/bandida.html

domingo, 22 de agosto de 2010

Top 5 - Você tem cara de quê?!

1º Cara de limão azedo – não é exatamente com a cara do limão, mas sim a cara de quem chupou limão. Não qualquer um, mas um bem, bem azedo. Essa careta geralmente aparece quando a pessoa não está vivendo o melhor de seus dias. Demonstra uma rabugice que não dá pra disfarçar. É bem comum que as pessoas acordem com essa cara. Sabe aquela cara de segunda-feira de frio e chuva que você precisa levantar às 6h pra ir trabalhar? Corra pro espelho e espia sua cara... é exatamente a cara de limão azedo!


2º Cara de quem comeu e não gostou – essa é quase irmã gêmea da anterior, mas há sutis diferenças. A primeira é uma cara mais passageira, sua permanência tem tempo limitado. Se dura muito, daí passa a ser a cara de quem comeu e não gostou. Trata-se de uma carranca daquelas que assusta criancinha. Como quando se toma óleo de fígado de bacalhau. Se você foi criança nos anos 80 sabe bem do que estou falando. É aquela cara de total insatisfação com as pessoas, com o mundo, com o mosquitinho que voa lá na China. É a própria cara do mau-humor-galopante. Cuidado com essa, afinal, se não tratada pode se tornar permanente!!


3º Cara de pamonha – sabe aquela pessoa inexpressiva? Aquela que tem exatamente a mesma feição para momentos de alegria, tristeza, medo, felicidade, pavor, euforia? Essa é a cara de pamonha. Incapaz de manifestar emoções por meio de suas feições, o sujeito cara de pamonha possui a habilidade de tirar qualquer cristão do sério quando, no auge de uma briga, enquanto o outro ralha e espuma, ele fica ali, parado, como se nada estivesse acontecendo. Não se trata da famosa ‘cara de paisagem’, essa é mais cínica. A cara de pamonha é, na verdade, a manifestação de um abobalhamento crônico.


4º Cara de pastel – não, não, não... não se trata de um sujeito com cara dominada por espinhas, esse é um cara de chokito. O cara de pastel é aquele meio sem graça, meio metido a esperto, que vive fazendo uma malandragenzinha aqui, outra ali, que quer sempre levar vantagem em tudo, mas, no fim das contas, só se dá mal e acaba ficando com... cara de pastel! Bem feito!!


5º Cara de maracujá de gaveta – essa cara não se limita a um único sentimento ou comportamento, mas se trata de uma junção de vários. Se você é do tipo que acorda com cara de limão azedo, passa o dia com cara de quem comeu e não gostou, só muda de expressão pra ficar sem expressão alguma, ou seja, com cara de pamonha e suas investidas só o deixam com cara de pastel: cuidado, muito cuidado, você pode acabar ficando com cara de maracujá de gaveta! Pior, além da cara todinha enrugada e amassada, o interior é ácido. Xiii, difícil de aturar. Contra a ranhetice, apenas um remédio: boas gargalhadas! Levar a vida com bom humor deixa qualquer um com cara de docinho de coco e pele de pêssego! Vale a pena.

domingo, 15 de agosto de 2010

Almas Gêmeas, Quadrigêmeas, Óctuplas...


O amor tem razões que a própria razão desconhece. A história deles começa assim:


Ele levava uma vida pra lá de comum. Trabalho, casa, amigos. Um dia se deu conta disso e entristeceu. Começou a buscar mudanças, novidades, transformações, mas ao que tudo indicava, seu destino era mesmo a pasmaceira.

Alguns amigos diziam que o que lhe faltava era uma grande, intensa, esfuziante, radiante, palpitante história de amor. Depois de muito relutar contra a ideia, deu-se por rendido e pôs-se a procurar por ela, a tal história de amor.

Falar é fácil, né?! Mal podiam saber os amigos que essa nova busca o deixava cada vez mais entristecido. Isso porque ele procurava, procurava, procurava e nada de achá-la, a tal história de amor.

Um dia, jururu que só, sentou-se numa mesa de bar e, assim, como um desabafo, ao ser perguntado pelo que desejava, pediu que o garçom lhe trouxesse uma moça bonita. Ele não podia adivinhar que 'moça bonita' era justamente o nome do drinque mais forte e cabuloso da casa.

Depois da primeira, o que se seguiu foi uma verdadeira orgia, tamanha fora a quantidade de 'moças bonitas' que desceram goela abaixo. Saiu de lá carregado pelo garçom.

No dia seguinte, a despeito da dor de cabeça que o alucinava, sentiu um alívio que há muito não sentia. Infelizmente. Sim, porque a partir daquele dia, não passou um se quer sem suaS moçaS bontiaS. Dia após dia, eram doses e mais doses. Resultado: em menos de um mês tinha se tornado um alcoólatra.

Os amigos ficaram desesperados, afinal, no fundo, no fundo sabiam que tinham lá sua pontinha de responsabilidade naquilo. Por que diabos não mandamos o cara montar um quebra-cabeça de 200mil peças?! Para aquela situação, só havia duas alternativas: convencê-lo a frequentar o AA ou inventar uma máquina do tempo e voltar no momento exato do primeiro gole.

A escolha não poderia ser mais óbvia, afinal, até terminarem a máquina do tempo, o pobre amigo já teria morrido de cirrose. Trataram, portanto, de munir-se dos melhores argumentos para levar o amigo a uma reunião do AA. Foi uma batalha, tendo em vista que ele nunca estava suficientemente sóbrio para admitir que era alcoóltra e que precisava de ajuda. Mas depois de muitos gritos, lágrimas, súplicas e pedidos, ele topou, porque, acima de tudo, ele era um cara gente boa, que não negava nada aos amigos.

No dia e hora marcados, lá estava ele, de cara limpa, ou quase isso, afinal, as moças bonitas ainda bailavam por seu sangue.

Entrou na sala. Não estava muito cheia, mas pareceu que uma multidão a lotava quando todos o aplaudiram. Sentiu-se envergonhado, mas havia prometido aos amigos que assistiria a palestra até o final só para provar que não tinha problemas com a bebida. Procurou um lugar para se sentar. Nem esolheu muito, só queria não ser mais a pessoa em pé sendo aplaudida por estranhos, sabe-se lá porquê.

Só depois de alguns segundos, reparou que havia se sentado ao lado de uma moça bonita, dessa vez uma moça mesmo. Ela também parecia constrangida.

- Seu primeiro dia?

- É.

- O meu também.

- Você é alcoólatra?

- Nããããão, mas meus amigos acham que sim.

- Os meus também.

- Que bobagem, né?!

- É mesmo. Sabe qual a justificativa deles pra me taxarem de alcoólatra?!

- Qual?

- Que só os alcoólatras bebem sozinhos. Eu sempre estou sozinha.

- Mas olha só que coincidência: meus amigos disseram a mesma coisa!

Deram-se uma risadinha e silenciaram por alguns segundos até que ele disse:

- Depois da palestra, você não gostaria de sair comigo pra beber alguma coisa?

- Adoraria.

E foi assim que, a partir daquele dia não se desgrudaram mais. Nunca mais beberam sozinhos. Bebiam juntos, religiosamente, todos os dias.

Os amigos de ambos ficaram tranquilos, afinal, beber acompanhado não caracteriza alcoolismo.

Eram almas gêmeas... embora, depois de alguns goles, eram almas quadrigêmeas, óctuplas... e assim por diante. Mas acima de tudo, felizes da vida. Estavam vivendo a tal história de amor, ainda que nunca estivessem sóbrios o suficiente para perceber isso.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Afinal de contas, todo mundo um dia já foi criança!


Ontem, foi aniversário do meu praticamente-sobrinho num buffet super fofo. Muitos brinquedos, games, jogos, monitores animadíssimos. Impossível ficar indiferente por muito tempo. Em menos de meia hora já está todo mundo com a mesma idade, brincando, pulando, cantando e... comendo.

Quando o assunto é comida, em festinha de criança, quem é que se lembra da tal dieta?! É muito interessante perceber que todos entram no clima (ok, ok... a grande maioria!) e voltam ao tempo que ninguém se preocupava com quantidade de calorias, gordura, açúcar. A única preocupação: é gostoso? então, eu quero! E, claro, tudo é gostoso em festinha de criança! Coxinha, bolinho de queijo, esfirra, mini-pizza, mini-cachorro quente, mini-hambúrguer.

São tantas opções de delícias que o melhor mesmo é não escolher e comer um de cada de tudo... ou bem mais de um, o que é mais provável!! Os adultos só se lembram de sua condição pós-18 anos quando passa um chopp geladinho pra acompanhar as gostosurinhas. Eu diria que é o melhor de dois mundos, afinal.

Quando tudo já está pra lá de bom, eis que vem ele: o bolo. Irresistível. Os olhos de todos miram uma direção: o aniversariante... que coincidentemente está bem na frente do bolo. Quilos de chantilly e recheio, intercalados por bolo fofinho, molhadinho, nessa ordem, afinal, há muito mais receheio e cobertura do que o bolo, propriamente dito.

Quem ousaria pensar que são milhares de calorias indo pra dentro?! Come-se, sem o menor constrangimento, cada garfada, juntamente com brigadeiros e bejinhos (aliás, diga-se de passagem, os de ontem estavam simplesmente divinos! E o brigadeiro branco?! o que era aquilo?! Deus do céu, comeria um quilo... pena que não cabia mais nada! hehehehe).

No final, estão todos felizes e satisfeitos (literalmente). Tudo tão bom, tão gostoso, tão feliz! Por que será que tem gente que não gosta de comemorar aniversário?! Existe coisa melhor do que celebrar mais um ano de vida, cercado das pessoas que ama, comendo coisas gostosas e brincando a valer?! Eu adoro, desde sempre.
Se o problema é a idade pesando, que tal fingir que é criança de novo?! Só por algumas horas, dando um tempo na vida adulta. Afinal de contas, todo mundo já foi criança um dia... que que custa relembrar?! Experimente isso na próxima festinha de criança. Se sentir dificuldade... roube um brigadeiro da mesa e coma escondido... vai ver que esse pode ser um portal pra voltar no tempo! Boa viagem.

*

PS: Felipe, amorzinho da minha vida, parabéns pelo 7º aniversário (tudo isso, já!).