domingo, 26 de setembro de 2010

Top 5 - 'Foi alguma coisa que eu comi'

1º a desculpa coringa – segunda-feira chuvosa, frio de rachar os ossos. Junte-se a isso um final de semana exaustivo de festas e diversão. Quando o despertador toca, o sono não dá a menor pinta de que vai embora tão cedo. Você luta contra Morfeu, até que um lapso de lucidez o domina e vem a mente uma ideia genial ‘Vou ligar para o chefe e dizer que não estou bem’, plano perfeito! Mas... e se ele perguntar o que você tem?! ‘Não estou me sentindo bem... acho que foi alguma coisa que eu comi’;

2º boa desculpa, mas não dura muito – de repente, uma mulher começa a ficar meio verde, sente uma tontura e corre para o banheiro... sim, o sistema digestivo resolveu fazer seu trabalho de maneira inversa. Meio constrangida, tentando se recompor, ela avisa a todos que está melhor, foi um enjoo passageiro e, para que as dúvidas/fofocas sejam mantidas bem longe, pelo menos por um tempo: ‘Foi alguma coisa que eu comi... já vai passar’. Hummm... em nove meses passa;

3º assim... do nada – no provador de uma loja de roupas, de repente a vendedora abre a cortina e pega você no flagra tentando fechar, a todo custo, o zíper daquela calça 36. Depois de ela oferecer a 40, você, com um sorriso meio amarelo diz que deu ‘uma inchadinha, assim, do nada... foi alguma coisa que eu comi’... ah tá, a gente acredita!

4º assim... um milagre – ai, ai... a inveja! Depois de malhar por meses, durante 2 horas, 5 dias por semana, você está com aquele corpinho que sempre desejou. Então, as amigas ficam todas doidas, enlouquecidas querendo saber qual a dieta que você fez, qual o cirurgião que a esculpiu e você, com seu melhor ar blasé, diz: ‘ah, você acham? Na verdade não fiz nada... deve ter sido alguma coisa que eu comi...’ Ah, tá, a gente acredita!

5º só pode ter sido você – no elevador, só você e outra pessoa, de repente, um odor desagradável. Você sabe que não foi o outro, ou seja, só pode ter sido você. O silêncio ajuda nesses momentos, mas, às vezes, dizer algo é quase uma obrigação, então, só resta: ‘desculpe-me, acho que foi alguma coisa que eu comi... ’.

domingo, 19 de setembro de 2010

Convite para o almoço na casa de estranhos?! Corra.


Ah, os riscos que um inocente convite para o almoço pode esconder! Quem nunca se viu numa tremenda roubada depois de, delicadamente, aceitar a oferta de uma refeição na casa de um 'desconhecido'?


Se o anfitrião for conhecido/ íntimo é possível, sendo o caso, ter uma noção do que o aguarda. Portanto, ainda que não se possa ter certeza absoluta de que o que o aguarda nas panelas seja de seu estrito agrado, você poderá, valendo-se da boa amizade e do bom eufemismo, dizer que ‘Poxa vida! Fica pra uma próxima’.


No entanto, quando aquele que faz o convite não pertence ao seu círculo de íntimo convívio e, mais, sua relação com o referido sujeito precisa, necessariamente, ser regida pela política-da-boa-vizinhança, daí, meu caro... lascou!


Receber um convite desses significa risco total. É como se jogar no vazio sem para-quedas, descer a serra num fusca sem freio, aceitar conhecer aquela pessoa blaster-linda da foto do Orkut, ou seja, não dá para prever o que irá acontecer. Pode ser que depois da queda livre um colchão fofo o aguarde, air-bags pulem (milagrosamente) do painel no momento da batida ou a pessoa que o espera logo ali seja, de fato, a cara do Brad Pitt/Angelina Jolie (conforme o caso), resumindo: pode ser que a refeição seja uma bela surpresa.


Certo mesmo é que não há como adivinhar, mas há como fugir! Anote aí algumas desculpas-esfarrapadas de grande utilidade:


1) ‘Sou vegetariano desde criancinha’ – isso pode livrá-lo de comer aquela carne ensopada esquisitíssima que parece estar viva na panela.


2) ‘Sou ovo-lacto-vegetariano desde criancinha’ ­– pensando no fato de que você possa estar verde de fome, dizer isso reserva-lhe o direito de pedir um ovo cozido (nunca frito, ok?! Lembre-se você não conhece a idade do óleo!!) e, ainda, sendo seu dia de sorte, ainda pode garantir um docinho de leite de sobremesa!!


3) ‘Sou vegetariano macrobiótico’ – não sendo possível o ovinho salvador, coloque o mínimo das outras opções de comida possível no prato (arrozinho, saladinha...) e coma muito, muito, muito lentamente, diga que precisa mastigar 40 vezes antes de engolir e, por isso, sente-se saciado com porções inacreditavelmente pequenas.


4) ‘Alimento-me de luz’ – se tudo que houver na mesa parecer-lhe um tanto estranho, apele! Diga que não come, nem bebe nada. Se alimento é a luz. Levante-se da mesa vá para a janela abra os braços e olhe com cara de doido para o sol (de olhos fechados, ok?!). Caso esbarre com o anfitrião num rodízio qualquer, faça um ar de alívio e diga que largou daquela vida maluca e descobriu o prazer nos alimentos de verdade!


Por mais que sempre existam aqueles que topam qualquer parada, que têm estômago de avestruz, uma hora ou outra eles hão de deparar-se com um convite para uma refeição estranhíssima a qual não poderão recusar. Usem as dicas! Usem as dicas! Ou, simplesmente, corram.

domingo, 12 de setembro de 2010

Vontade estranha


Sabe aquela vontade de comer alguma coisa a qual você não sabe ao certo o que é? Uma vontade genuína, embora não deixe clara o que a satisfaria. Uma vontade estranha.

Não é como desejo de grávida. Essa é uma vontade clara que, diferentemente da estranha, não é a vontade que é estranha, mas sim o que a satisfaz. Explico: a vontade de gravidez brota nítida, por exemplo, vontade de comer feijão gelado com cobertura de caramelo, decorado com jujubas azuis (Jesus!).

Embora seja de absurdo mau gosto (e que somente uma pobre mulher com os hormônios sacaneando seu paladar fosse capaz de comer tal iguaria), eis uma vontade com todos os ingredientes.

Já a vontade estranha é abstrata. Sinestesicamente, misturam-se os sabores, aromas, imagens e texturas. Trata-se de uma vontade que beira o etéreo, o sublime, não revela sua identidade. Parece que a comunicação entre os sentidos não está funcionando perfeitamente.

Em certo momento, sabe-se o gosto, mas não se sabe de quê. Em outros, sabe-se o quê, mas não se lembra do gosto exato. Piração, né?! Mas aposto que todos já tiveram essa vontade de comer alguma coisa comprada não-sei-onde, pagada não-sei-quanto, pesando não-sei-quanto.

O pior é que essa é uma vontade do tipo insistente. Enquanto não se descobre o que a satisfaz ela não sai de perto. Resta, então, quando ela aparece, partir para o ataque, ir desvendando aos pouquinhos o mistério até chegar ao cerne.

Dia desses fui acometida por essa vontade perturbadora. Chegava a salivar de vontade (e quase de loucura por não saber o que eu queria comer!!), mas fui, com vagar, tentando perceber do que se tratava.

Depois de passar dias me empanturrando de guloseimas, hoje descobri que estava com vontade de comer bombom Opereta da Garoto. É um chocolate branco com castanha de caju, mas diferentemente dos outros, esse não traz pedaços da castanha, mas apenas seu sabor fundido ao chocolate branco, que aliás, nem sou tão fã, mas, quem explica uma vontade estranha?!

domingo, 5 de setembro de 2010

O molho da discórdia


Quando um relacionamento de anos está prestes a subir no telhado, qualquer coisa pode virar o mote de uma discussão. Para eles, a causa do fim foi o molho da discórdia.

Eles estavam morando juntos havia 5 anos. Montaram um simpático apartamento, dividiam todas as contas e tarefas. A parte financeira era fácil de dividir, nada que uma calculadora não deixasse tudo muito claro. No entanto, a divisão dos afazeres era um pouco mais complexa.

Decidiram que uma vez por semana, uma diarista daria um trato na limpeza do apê. Nos outros dias fariam um rodízio. Certo! Ah, o amor... capaz de produzir acordos para as missões mais ingratas.

Roupas limpas e passadas: ok. Tudo no seu devido lugar: ok. Lixo recolhido: ok. Gato ainda vivo: ok. Tudo corria muito bem, obrigada, e aquele relacionamento tinha pinta de que duraria para todo o sempre. Isso teria sido possível, se e somente se ambos fossem alimentados por sonda, o que infelizmente não acontecia.

A máxima de que os opostos se atraem mostrava-se um fracasso a cada refeição naquela morada. Ela era aquele tipo preciosista, detalhista, neta de nona legítima. Ele fazia o tipo prático. Suas idas ao supermercado se resumiam a duas paradas: a primeira era no freezer para reabastecer seu estoque de congelados e segunda no corredor de enlatados, para reabastecer o estoque de... enlatados.

No começo, quando a paixão ainda estava amortecendo os paladares, tudo corria bem. Mas, aos poucos, a tal da rotina, foi apurando o paladar. Ele reclamava que a comida dela era sempre muito demorada. Achava simplesmente absurda a ideia de marinar uma carne por 3 horas! Ela, por outro lado, sentia uma pontada no coração cada vez que ele abria o freezer e 15 minutos depois a refeição estava pronta. Ela era praticanente de slow food, ele, de fast food.

Durante um tempo, cada um guardou para si mesmo as opiniões gastronômicas um do outro. Mas, à medida que as primeiras briguinhas foram aparecendo, aquelas pequenas mágoas foram emergindo das profundezas. Tudo era motivo: o tempero artificial que causara uma azia monstruosa, a semente do tomate fresco que ferira a gengiva, o excesso de sódio que prejudicara o bom funcionamento dos rins, a verdura orgânica que prejudicara as finanças da casa. No entanto, iam levando a vida, afinal, havia amor.

Certo dia, porém, a gota d'água da relação veio em forma de molho. O relacionamento estava prejudicado por um sem número de motivos, os quais ultrapassavam os limites da cozinha, mas era justamente ali, entre o fogão e geladeira, que eram encontrados os motivos para o início da peleja.

Naquele dia, o último, ela estava preparando o molho que iria ser derrramado sobre uma divina massa fresca que ela mesma prepara. Cortava com minúscia os tomates que seriam apurados com vagar. Ele, que estava esganado de fome, perguntava a cada 5 minutos se ainda ia demorar muito. Ela respondia que a comida tem seu próprio tempo. Ele então dizia que ia esquentar um lanche pronto enquanto esperava. Ela, delicadamente, pedia que não fizesse isso, para não estragar o apetite. Ele então suspirava e voltava ao modo de espera.

É sabido por todos que fome altera o humor, pois não?! E também provoca disparos de declarações infelizes. Foi o que aconteceu. Lá pela quinta vez que ela respondeu que ainda não estava pronto, ele proferiu o seguinte xingamento:

- Por que você simplesmente não esquenta uma lata de massa de tomate e joga em cima do macarrão?!

O coração dela parou por alguns segundos. Ele ainda acrescentou:

- Melhor: esquenta a massa de tomate e joga em cima do miojo!

Quanta brutalidade! Aquilo era intolerável. Ela então teve um rompante de fúria e dali pra frente o que se viu e ouviu não pode ser descrito nesse blogue de família. Apenas digo que foram desenterradas mágoas guardadas por 5 longos anos e milhares de refeições. Resumidamente, um dizia ao outro que a maneira como cada um preparava seu molho refletia sua postura diante da vida e tal e tal... Freud faria a festa!

Separaram-se, claro. Tudo teria sido diferente se cada um preparesse sua própria refeição, mas nãããããããão... eles resolveram fazer diferente, taí, cada um pro seu lado. É o que eu sempre digo: molho não se discute; se não gosta do meu, prepare o seu!