domingo, 28 de março de 2010

Um pedido de ajuda


- Hoje temos uma nova amiga conosco. Você quer se apresentar e contar sua história?

- Oi, meu nome é Fabiane e estou aqui pela primeira vez...

- Oi, Fabiane, seja bem vinda! (em coro)

- Eu estou um pouco nervosa. Bom, vou começar minha história pelo começo. Sempre tive muitos amigos, de todos os tipos. Procuro não julgar as pessoas pelo o que elas pensam, compram, usam ou deixam de usar. (suspiro) Há algum tempo um desses meus ‘amigos’ me ofereceu pela primeira vez. Recusei porque estava vivendo uma fase muito saudável. Estava feliz e não precisava de nada para estimular essa felicidade. O tempo passou e algumas coisas aconteceram na minha vida. Foi quando esse suposto amigo me ofereceu novamente. Aceitei. Consumi, mas sem pensar muito nas consequências. Foi tão rápido... (pausa dramática) No dia seguinte, não esperei que me oferecessem, comprei, pela primeira vez. Sempre depois do almoço. Até então, era um momento de relax. Um pequeno bálsamo no meu dia. Pouco depois, precisava depois do jantar também. Os motivos não faltavam: um dia difícil, um dia fácil, uma alegria, uma tristeza. Minha sobremesa já não era mais o chocolate. Na verdade eu já dependia daquilo para completar meu dia. Alguns amigos, os verdadeiros, começaram a notar mudanças no meu comportamento. Alguns tentaram me alertar, mas, para cada um que vinha com esse discurso, eu tinha a resposta pronta: eu tenho o controle! Eu achava que tinha... (voz embargada). Ou tinha, mas fui perdendo. Fui me perdendo (explosão de choro). Em pouco tempo, as doses diárias foram aumentando em proporções descontroladas. Eu já estava no ponto de substituir refeições. Mas eu não percebia, não via... eu preferia não ver (aos soluços).


- Calma, aqui você está entre amigos. Entendemos o que você está dizendo. Temos histórias parecidas com a sua. Continua quando se sentir melhor.


- (respirando fundo) Eu recusava qualquer tipo de ajuda porque não achava que tinha um problema. Mas, semana passada, um amigo viajou para Minas, quando voltou, disse que provou um tipo diferente, puro... e me trouxe uma porção enorme, porque sabia que eu estava nessa onda. Aceitei. Em casa, me descontrolei completamente. Tive uma overdose. (choro, choro, muito choro) Quando me recuperei, foi como se a vida quisesse me dar uma nova chance. Pela primeira vez em meses, percebi que tinha um problema e que precisava de ajuda. Por isso estou aqui: eu preciso de ajuda. Eu estou há 24 horas sem comer doce de leite.


- Parabéns, Fabiane. (em coro)

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É isso mesmo, amigos, estou aqui, de cara limpa, admitindo que estou viciada em doce de leite! 'Garrei' um amor nesse trem que não consigo me livrar! De todos os tipos: em barra, cremoso, pastoso, semi-cremoso, os gostosos, os ruins, os caros, os baratos, os comprados, os ganhados!! O da overdose foi o Doce de Leite em pasta Viçosa, importado de Minas Gerais! De-li-ci-o-so!!

domingo, 21 de março de 2010

Detalhes



E por falar em detalhes... sim, são eles que também fazem toda a diferença quando o assunto é comida!


Alguns podem chamar de frescura, mas aquele cuidado, aquela atençãozinha a mais num pormenor transforma qualquer prato sem graça numa comidinha especial, qualquer refeiçãozinha num momento inesquecível. Ou... claro, vice-versa.


Tudo corria muito bem, obrigada, quando o passarinho da atenção voou pra longe e você coloca sal duas vezes na receita. Sal a mais, sabemos, é uma viagem sem volta. Qualquer tentativa de remendo piora a situação. O jeito é dobrar a quantidade de suco a ser servido!


Isso quando não acontece um acidente que inutiliza a receita. Comigo aconteceu com um picadinho de carne com batata. A receita estava quaaaaase pronta, então, decidi colocar uma poeirinha a mais de pimenta do reino. O pimenteiro não era desses chiques e modernos que moem os grãos na hora, era um vidrinho com uma tampinha furadinha. No que eu virei o fulaninho em cima da panela... o conteúdo veio abaixo, de uma vez! A tampinha não estava firme e acinzentou a receita toda. Lixo, né?!


Tem também aquele detalhe que mata você de vergonha ou de nojo... depende da sua posição: cozinheira (o) ou convidada (o). Sim, estou falando da mais indesejada das aparições num prato: um cabelo! Urgh1 É uma coisinha tão mínima, tão fina, mas que todos (ou pelo menos 99,99% da humanidade) torcem para não se deparar com um no prato. O detalhe que pode salvar o chef de matar um convidado de nojo é cozinhar de toquinha! Parece ridículo e, de fato, é, mas pior é sempre ser lembrada (o) por esse incidente.


Num restaurante são exatamente os detalhes que fazem daquele um lugar especial ou um show de horrores. Guardanapos de pano, por exemplo, são um detalhe que demonstra sofisticação. Já aqueles ‘guardanapinho’ de papel de seda, socados os quilos num suporte sobre a mesa e que não absorveriam nada, nem que fossem jogados no oceano, demonstram total falta de noção por parte dos donos! Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: guardanapinhos de papel desses que gente como a gente usa em casa... são baratinhos e honestos!


Os restaurantes, aliás, são quem mais devem ter atenção aos detalhes, sob risco de falência! São os cuidados com talheres, pratos e copos - que devem sempre estar impecavelmente limpos; mesas, toalhas, cadeiras; isso pra não falar da cozinha que deve ser vigiada do chão ao teto, além de cada panela, cada receita, para que, além de tudo, a comida tenha sempre um saborzinho, um temperinho, um detalhe que faz os clientes voltarem.


Em casa, naquela comida tão trivial, são os detalhes que fazem um sabor, um momento, ficar gravado pra sempre na memória, seja pelo tempero, seja pelo jeito de servir. Às vezes, nem era intencional, mas justamente o detalhe é que acabou virando o motivo de uma coisa simples se tornar tão especial!


Pensem nos detalhes, sempre!

domingo, 14 de março de 2010

Chopp sem colarinho, sem gravata e sem paletó!


Gosto cada um tem o seu e não se discute. Quando o assunto é chopp, porém, até existe uma certa unanimidade quanto à melhor marca nacional, pois não?! Difícil quem não prefira um chopp Brahma a qualquer outro. A polêmica maior, nesse caso, refere-se não ao conteúdo do copo, mas de que maneira ele chegou lá!


Há quem verse sobre a arte de tirar um belo chopp: inclinação do copo, distância entre o bico da máquina e a borda do copo, temperatura do copo, temperatura da mão que segura o copo, o tipo de copo! Xiiii, detalhes não faltam!


Acho curioso como se confere tantas minúcias a uma bebida que se toma de maneira informal, em momentos tão descontraídos. Não, não, não... não estou censurando quem atente aos pormenores, de modo algum... até mesmo porque, claro, também tenho minhas preferências!


Minha, digamos, implicância centra-se no colarinho. Sim, aqueles quatro palmos de espuma quente que insistem em dizer que é parte do chopp!


Imagine a cena: depois do expediente, numa tarde quente, daquelas de fazer o horizonte tremular, com asfalto em labaredas, nenhum sopro de vento para apaziguar a fornalha, nenhuma nuvem sequer para amortecer os raios de sol atirados à Terra como lanças de fogo, ou seja, uma dessas lindas tardes do nosso lindo verão tropical! Você está caminhando há algum tempo, vestindo a roupa errada (sabe aqueles dias que você jura que não vai esquentar tanto e sai com a ‘blusa do pijama’* por baixo do blazer e fica com vergonha de tirá-lo?!) e com o sapato de pele de urso (imitação de pele de urso, por favor!), de repente você avista aquele bar que tem o chopp mais geladinho do mundo. Sua boca já se enche de esperança de poder se refrescar. Você entra, se senta e pede um choppinho trincando ao garçom. Infinitos segundos depois, eis que surge a sua frente: o copo! De olhos fechados, para sentir o momento, sua boca toca a borda do copo que se inclina ligeiramente. O primeiro gole.


O primeiro gole? De quê? De chopp? Nããããão... o primeiro gole de chopp só aparece depois de uns três goles daquele creme quente e amargo que faz você sentir ainda mais sede! Como se não bastasse o instante de frustração vivido pelas papilas gustativas, você ainda ganha, de brinde, um farto bigodão branco!


Tem garçom que me olha torto, tem garçom que finge que não ouviu, tem garçom que pergunta ‘por que?’, tem garçom que se irrita e tem aquele que resolve explicar que o chopp é constituído de duas partes inseparáveis: o líquido geladinho e refrescante mais a espuma quente e insossa. Às favas as explicações, meu pedido sempre vai acompanhado da ressalva: sem colarinho, por favor! Pra mim, chopp bom é chopp sem colarinho! Bem informal! Como deve ser. Mas se você prefere tomar o seu com colarinho, gravata e paletó... fique à vontade! Só não deixe de aproveitar o último domingo do verão**!




*chamo de ‘blusa do pijama’ aquela blusinha, camisetinha ou coisa do gênero que é super, mega, blaster confortável, que já está meio encardidinha, com um furico embaixo do braço, mas que você morre de dó de jogar fora porque ainda rola um sentimento, sabe qual? É essa aí! E nem adianta falar que não tem porque é próprio do ser humano ter uma dessas!!


** já estou sentindo saudades!

domingo, 7 de março de 2010

Paixão arrebatadora!

(no supermercado)

- Ai, que bom que te encontrei aqui, menina! Estou morta de curiosidade...

- E eu não via a hora de te encontrar pra poder contar...

- Então me conta tuuuuudo! Você teve coragem mesmo? Alguém percebeu? Como ele é? Anda, fala já!!

- Calma, calma... vamos por partes! Primeiro: coragem é uma coisa que a gente descobre que tem e nem sabia. Quando esbarrei com ele a primeira vez, você se lembra, me senti atraída, mas nem me passava pela cabeça arriscar uma relação de anos, né?!

- Mas uma relação bem desgastada, né? Você vivia reclamando da qualidade...

- Sim, sim... mas sabe como é, a gente acaba se acostumando até com o que é ruim e também tem o lance da família... você conhece minha mãe, sabe como ela é com essas coisas... super tradicionalista.


- Sei bem, a minha não é muito diferente da sua...

- Mas, voltando... daí os encontros casuais foram ficando mais frequentes. Lembra-se daquele dia super frio que o encontrei numa loja de conveniência a caminho de casa? Aquele foi um dia que tremi, amiga!

- Mas você não teve coragem... ou teve?

- Naquele dia não, maaaas...

- Conta!

- Há duas semanas, não resisti! Meu marido viajou a trabalho, minha mãe tinha uma viagem com algumas amigas... eu sabia que tinha dois ou três dias para fazer o que quisesse... e fiz!!

- Fez?

- Fiz... e muito!

- Muito?! Ele é tudo isso mesmo?! Como ele é? Me conta!

- Incrível! Cheiroso como nenhum outro... forte, mas ao mesmo tempo suave... delicado, mas ao mesmo tempo marcante... meu coração dispara só de lembrar!

- E depois?! Você está apaixonada?!

- Não consegui mais largar, minha amiga! Estou completamente apaixonada.

- E agora?! Você vai contar pra sua família?! Sua mãe! Seu marido!! E seus filhos, já sabem?!

- meus filhos nem sonham... ainda não têm idade pra isso. Mas já contei pro meu marido.

- Não acrediiiito! Você contou pro seu marido?! Como ele reagiu?!

- No começo ele estranhou muito. Brigamos muito. Achou, inclusive, que você estava me influenciando, mas aos poucos fomos conversando... e agora até ele está gostando. Estou disposta a enfrentar tudo e todos por essa paixão arrebatadora...

- Vale tanto a pena assim?!

- Vale! Vale! Vaaaale!

- Ouvindo você falar até eu me encho de coragem, sabia?!

- Você não vai se arrepender, esteja certa!

- Então, tá! Confio em você... vou experimentá-lo hoje mesmo!

- Já leva duas caixas, amiga! Melitta rende, mas você acaba bebendo mais... esse café é divino!

- Amiga, nem acredito que você finalmente conseguiu trocar a marca de café na sua casa! Sua mãe sempre usou aquela outra baratinha e, depois, seu marido que só gostava daquele outro café tão ruim...

- Foi difícil, mas depois que meu marido provou o que é realmente bom... adorou! Sabe, ele ficou até mais romântico comigo!

(...)

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Confessem... vocês acharam que eu estava falando de outra coisa, né não?! Mentes poluídas!!! hehehehe