segunda-feira, 30 de maio de 2011

El Bulli

Esse post é especial... um pouco adiantado (embora atrasado!), mas o motivo explica. O dia 30 de junho de 2011 marca um fim. Do Clara em Neve?! Claro que não! Toc-toc-toc. Marca o fim de algo muito importante (e não é o Clara em Neve?!), o fim de uma Era de burburinho, de borbulhas, de espumas, de esferas. Já divinharam a qual fim me refiro?

Daqui um mês o El Bulli, de Ferran Adrià, fecha suas portas como restaurante para se tornar um centro de pesquisas gastronômicas.





Nunca fui ao El Bulli (e, pelo frigir dos ovos, creio que nunca irei!), mas o que me faz escrever sobre esse restaurante não é o restaurante em si, mas o que as invenções de seu chef provocaram na gastronomia mundial.

De repente, conforme El Bulli foi ganhando mais e mais manchetes pelo mundo, a gastronomia moderna tornou-se aquela cuja missão não era mais contruir, agregar ingredinetes, mas sim descontruir a comida. Seria uma tentativa de dissociar sabor de textura de aparência? Mas a comida não é tudo isso junto?



É inegável que Ferran Adrià sacudiu cozinhas e cabeças pelo mundo afora, mas fico me perguntando... será que a multidão que lotou seu restaurante, que chegou a esperar 1 ano por uma reserva, saía de lá de barriguinha feliz? Tenho pra mim que uma refeição no El Bulli não era exatamente uma refeição, era uma experiência gastronômica, uma experiência de sensações. Assim sendo, na minha humilde - e quase constrangida - opinião, acho que, tornando-se um Centro de Pesquisa, o El Bulli será para aquilo que nasceu, irá atender um chamado de sua própria natureza.

Vale também registrar que é admirável a coragem de Ferran Adrià de 'sair de cena' no auge de sua fama. Entre aspas porque ele não sai exatamente de cena, seu nome sempre será lembrado, além disso, permanece no ramo das invencionices gastronômicas, mas não mais num restaurante. Como diria meu querido gênio, Paulo Leminski: 'Quem vai embora, não embolora'.



Quando gosto muito, muito, muito de algum prato que provo num restaurante, não titubeio e jogo todo meu charme para conseguir a receita ou, nada, nada, o ingrediente especial que deu aquele toque no prato. Porque tão gostoso quanto provar um prato que me agrada é poder prepará-lo eu mesma. Então pergunto: como ficarão os admiradores da cozinha do senhor Adrià que seguem a mesma filosofia que a minha? Como se prepara em casa aquele espuminha de não sei o que com esferas de não sei o que lá?!


Por isso, vai aí minha dica, Ferran: lance um compêndio de suas receitas com modo de preparo detalhado, ok?! Comprando o livro, mais uma epátula de silicone, grátis um Thermomix! Que tal?

Piadinhas à parte, está para findar mais um importante capítulo da história da gastronomia. O que será que vem por aí?


Caso queira, ainda tem um mês para conseguir, com cambista, uma vaguinha na lista de espera antes que o El Bulli feche!



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Enquanto isso, em alguma cozinha comum...
- Vó, o El Bulli fechou - disse a neta lendo uma notícia na internet à sua vó que preparava uma vigorosa polenta.
- Fechou, é?! Hoje cedo mesmo eu usei esse bule e estava funcionando direitinho! Cutuca o bico que desentope...
- Não, vó... não o BU-LE... o El Bulli, restaurante 'famosézimo' daquele chef que fazia essas comidas aqui - e mostrou uma foto de uma das criações de Ferran Adrià.
- Cadê a comida, menina?! E isso aí enche a barriga de alguém? Deve ter fechado porque todo mundo saía de lá com fome... manda esse povo todo vir comer minha polenta que tem muito mais sustância!






quarta-feira, 18 de maio de 2011

Como nasceu a torrada



Ele, um jovem português, aprendiz de padeiro, na pacata Lisboa do início do século XX.



Sua rotina diária era exaustiva. Começava bem antes do Sol se levantar, até mesmo o galo do vilarejo se espantava com o horário aquele rapazinho franzino se punha de pé todos os dias - ele mesmo, o galo, depois que o rapaz se levantava, ainda dormia mais uma ou duas horas de um soninho gostoso. Já dormia com a roupa do dia seguinte para desfrutar de mais 1 ou 2 minutos de sono, lavava os olhos com as pontas dos dedos, gargarejava rapidamente e já se colocava a caminho da loja de pães.



Lá chegando, de lampião em punho, dada a escuridão que ainda dominava o ar, o padeiro já estava enfarinhado dos pés à cabeça e gritava animadamente:



- Anda, gajo, que o dia já tardia!



O gajinho então se arrastava até a bancada e, não havendo alternativa, punha-se a trabalhar.



- Com alegria, com alegria, que a gente toda espera pelo pão do dia!



Sim, o padeiro, além de bom com os pães era bom com as rimas, ou pelo menos pensava que era! E o gajinho, depois de umas 3 ou 4 sovas, já estava esperto.



Tudo funcionava como uma harmoniosa orquestra... de apenas dois músicos... mas com muitos instrumentos, ou, melhor, ingredientes!



Mal o sol começava a despontar lá longe, o aroma dos pães já tomava conta da pequena Lisboa. Aos poucos, as casas iam acordando, as ruelas ganhando movimento e a claridade do sol ia avisando que mais um dia começava. Como todos os outros, aquele dia só começava, de fato, depois do almoço, ou melhor, depois do pequeno-almoço, como chamam lá o café da manhã.



Não tardava e a loja de pães estava lotada. O padeiro então virava atendente e o aprendiz ganhava a honra de comandar as fornadas. Essa era a hora boa para todos: os clientes famintos saíam satisfeitos; o padeiro, vendendo pão como água, mais satisfeito ainda e o gajinho... esse não queria nem saber de pães!



Aprendiz ele era, mas não apenas da arte de fazer pães. Ao invés de fazer brotar o gosto pelos pães, o padeiro-rimador acabou fazendo o rapazinho afeiçoar-se com as palavras. Mal o padeiro ia ao salão atender os clientes, o menino tirava do bolso de seu avental uma pequena caderneta e, com um pedacinho de carvão do forno que assava os pães, ia riscando palavras que lhe vinham às avalanches em seu pensamento. Eram tantas as palavras que brotavam em sua mente que nem pareciam vir de uma mente só! Entre uma fornada e outra, lá estava ele de papel e carvão em punho, deixando ganhar corpo os sons de sua imaginação.



Caso é que um certo dia, as vozes eram tantas, as ideias eram tantas que o gajinho entregou-se às palvras e esqueceu-se da vida... pior... esqueceu-se da fornada!



O nariz do padeiro, treinado de anos, sentindo que algo passava do ponto, largou os clientes e correu para os fundos, onde ficavam os fornos:



- Menino de Deus, olha o que fizeste!



Os pães não queimaram, não, não! O nariz do padeiro não deixaria a coisa chegar a tal ponto, mas passaram do ponto... os pães não estavam mais macios... estavam crocantemente assados. O menino, com o coração aos pulos, só teve tempo de esconder a caderneta e, praticando sua criatividade, fi logo tentando se explicar:



- É uma novidade! Acabo de inventar, chamam-se fatias torradas! Corta um para provar...



O padeiro, desconfiadíssimo, passou a faca de serra em um dos pães e croc-croc-mente tirou uma fatia. Levou à boca e, logo na primeira mordida, o velho padeiro se rendeu!



- Mais que delícia essa sua torrada!



Logo as fatias torradas ganharam o salão e cada um dos clientes. Virou sucesso instantâneo! E assim nasceram as torradas.



O aprendiz? Bom, esse, como se viu, era bom padeiro apenas no acaso. Bom mesmo ele era com as palavras, tanto que acabou virando poeta. Poeta de relatiiiiivo... sucesso... o nome dele era um tal de Fernando Pessoa!



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É tudo mentira, mas a mentira é minha e eu conto como eu quiser!! hehehehehe










quarta-feira, 11 de maio de 2011

Temporada Porto Seguro - Sorveteria Coelhinho



De barriguinha cheia, hora de completar o dia com um docinho, pois não?!




Na Passarela do Álcool, a maior oferta de doces fica por conta das cocadas (que, aliás, são deliciosas... mas comento sobre elas outro dia!), mas já que o jantar não foi nada tipicamente baiano, por que a sobremesa haveria de ser?




Minha sugestão, mais do que recomendada, é a Sorveteria Italiana Coelhinho. Também na Passarela do Álcool, a poucos passos da
Pizzaria do Noé. Impossível não achar, tendo em vista que tem um coelhinho gigante pedalando, incansavelmente, uma bicicletinha entre as duas janelas (eis aí ao lado a foto que não me deixa mentir!). Embora um tiquinho bizarro, é uma excelente referência, não tem como não achar o lugar!




O ambiente é pra lá de agradável. Decoração de bom gosto, iluminação aconchegante, cadeiras confortáveis, resumindo: um convite para desfrutar seu sorvetinho!




Sorvetinho? Apenas modo de falar. Na verdade, são apetitosas opções de sorvete elaborados pelo chef italiano Bruno Maremmani que, além de lindas, são também deliciosas. Destaque para três:




1) morango - pode parecer bobagem o que direi, mas acreditem, o sorvete de morango tem gosto de... mo-ran-go! Diferentemente dos outros que já provei por aí, que acabam tendo gosto de Quick (digam que sabem o que é isso, por favor!) ou Danoninho, esse tem o sabor da fruta natural, com direito àquele final azedinho do morango;




2) maçã verde - olha que coisa mais inusitada! Não me lembro de ter visto, nem provado, sorvete de maçã verde na minha vida, apostei no sabor, pela curiosidade, e me dei muito bem, o sorvete é incrível;




3) por último, meu querido, meu amor, minha paixão eterna... limão - em outra ocasião classifiquei o sorvete de limão do Vacanze Romane Coffee and Ice Cream* como sendo 'o melhor sorvete de limão do universo'... perrrrrdeu, playboy! o mais novo melhor sorvete de limão do universo é o da Sorveteria Coelhinho! Trata-se da combinação entre o doce e o cítrico, sem sobreposição de nenhum dos dois, resultando no equilíbrio perfeito. Vale uma viagem à Porto Seguro só pra isso, acreditem.




Me apaixonei tão loucamente pelos sabores limão e maçã verde que repeti essa combinação todos os dias, exceto no último, quando não tinha o de limão (aposto que fizeram de propósito... só pra eu ter de voltar à cidade por causa dessa delícia!), então optei pelo morango. No entanto, tenho certeza que os demais sabores são tão deliciosos quanto os que pude provar. Fiquem curiosos e passem por lá quando forem à Porto Seguro! Recomendo.




Aaaaah, importante, diferentemente da maioria dos outros estabelecimentos da Passarela do Álcool que só abrem à noite (principalmente os restaurantes), a Sorveteria Coelhinho abre à tarde, então, se estiver voltando de passeios à Arrarial D'Ajuda, Trancoso e afins, você pode parar para adocar o bico com um delicioso sorvete italiano!





*Ainda não leu esse? Leia aqui: http://claraemneve.blogspot.com/2008/02/o-melhor-sorvete-de-limo-do-universo.html

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Temporada Porto Seguro - Pizzaria do Noé



Meu leve desespero em viagens sempre é alimentação. Sim, sim, sim, tenho paladar chatíssimo não muito dado a extravagâncias.


Chegando em Porto Seguro, Bahia, a primeira pergunta na recepção do hotel foi: ‘Onde fica o Mc Donalds e o Subway?’. Ufa! Ficavam ali pertinho e tinha os dois! Eba! Na pior das hipóteses, variaria entre um e outro durante os 8 dias que se seguiriam. Felizmente não foi necessário.


Na primeira noite, andando pela Passarela do Álcool – que, aliás, estão tentando mudar o nome para Passarela do Descobrimento - depois de passar por 4 ou 5 barraquinhas de acarajé – não, não comi acarajé, como disse, não sou dada a extravagâncias gastronômicas – quase chegando no final do passeio, deparei-me com um folder anunciando que ali vendia-se pizza no cone.


Há pelo menos 3 anos caço essa tal pizza no cone, sem sucesso. Uma amiga comeu na Festa do Chocolate de Ribeirão Pires e cantou maravilhas sobre a iguaria, fiquei cheia de vontade, mas nos anos seguintes, quando fui em busca da bendita, cadê?! Desde então, procuro pela pizza no cone que fui encontrar a léguas e léguas de distância de minha província!


Entusiasmada, sugeri a minha amiga, companheira de viagem, que nos aboletássemos por ali. Assim, na sorte!


Deveria ter apostado na loteria porque teria acertado! O Restaurante ‘Pizzaria do Noé’ é um estabelecimento pequenininho, cujas mesas ficam todas no calçadão – assim como a maioria dos restaurantes na Passarela do Álcool – algumas sob um toldo e outras sob as árvores – um charme!


O serviço... aaaah, o serviço... de zero a dez? Onze, com louvor! Além de extremamente atenciosos, todos dominam o cardápio, dão sugestões e dicas, esclarecem dúvidas e fazem você se sentir a pessoa mais importante e bem vinda do universo. São incríveis.


E foi justamente o atendimento que contou pontos para que voltássemos nos dias que se seguiram, afinal, nem só de pizza no cone – que, a propósito, é deliciosa: massa saborosa, macia por dentro, crocante por fora e fartamente recheada - se faz um restaurante.


Nas noites posteriores, ficamos entre massas e pizza. Lasanha bolonhesa: deliciosa! Pene ao sugo: porção pra lá de farta! Pizza: ao gosto do freguês, no nosso caso, massa espessa, sem cebola, com muito tomate e azeitonas. Ah! E tudo leva manjericão fresquinho, que delícia. Será que eles têm um pé na cozinha?


Uma dica que dou: não vá pra lá com muita fome porque os pratos demoram de 25 a 30 minutos para ficarem prontos – tempo que quase nos fez comer a toalha da mesa, todas as noites! Demora perfeitamente explicada, tendo em vista que tudo é preparado na hora. Vale a espera.


Preços? Muito acessíveis. Não gastei mais do que R$ 15 por jantar (por pessoa).


Então, se você é como eu, que adora viajar, mas o estômago prefere a comidinha de casa, fica a dica: PIZZARIA DO NOÉ, na Passarela do Álcool, em Porto Seguro, Bahia.