domingo, 21 de agosto de 2011

A última Coca-Cola do deserto





Ela sempre sonhou em conhecer as pirâmides do Egito e, depois de meses de planejamento, decidiu que já era hora de transformar esse sonho em realidade. Comprou um pacote, devidamente parcelado em 10x sem juros, e uma semana depois embarcava rumo às pirâmides.



Embora tivesse ido sozinha, lá não ficaria sozinha, pois seu pacote era um de excursão, isso quer dizer que a turma toda andaria em comboio para todos os lados. Um alívio para ela que sofria de um raro distúrbio psicopatologicomotor* que a fazia se perder onde quer que estivesse. Ela lidava bem com isso, mas sabia que uma coisa era se perder numa cidade como Curitiba, por exemplo, que bastava perguntar para qualquer um onde ficava seu hotel e pronto; outra coisa, porém, era se perder no Egito onde se fala árabe e até mesmo o inglês é difícil entender. Arriscar pra quê?! Foi feliz da vida na tal excursão... nem se importava que era um grupo da 3ª (praticamente 4ª) idade.



No primeiro dia, a turma toda saiu para conhecer o comércio local para fazer comprinhas. No segundo... no terceiro... no quarto... bom, finalmente no quinto, o grupo ia conhecer as pirâmides! Ela estava empolgadíssima! Não dormiu na noite anterior, checou 700 vezes se a bateria da câmera estava carregada, pensou em mil roupas, enfim... parecia criança que ia conhecer o Mickey no dia seguinte!



Às 7h da manhã, horário local, senhorinhas, senhorinhos e mocinha, todos a postos no saguão do hotel. O guia deu algumas instruções e repetiu, 17 vezes, a que considerava a mais importante: 'Não se afastem do grupo'.



Adivinha! Claro que ela se perdeu! Embora as chances fossem mínimas, dado que o grupo era composto por 45 integrantes de cabelos brancos e camisetas amarelas, além dela, mesmo assim, contrarianto as improváveis possibilidades, ela se perdeu! E não foi numa curvinha aqui e em outra ali... ela se perdeu completamente... a ponto de perder as gigantescas pirâmides de vista! Estava sozinha no meio do deserto!



Ao invés de ficar paradinha no lugar, nãããããão, ela continuou andando, andando, andando... e se perdendo, se perdendo, se perdendo cada vez mais. O horizonte tremulava, o sol castigava, seu protetor solar já não fazia mais efeito, seu cantil... bom, ela não levou o cantil porque não gosta de carregar coisas desnecessárias. Péssima decisão, não?! Apenas mais uma dentre as várias que tomara ao longo do dia.



Depois de horas caminhando na areia fofa do deserto, ela estava exausta, faminta, desidratada e desesperada.



Não havia o menor sinal de vida para qualquer lado que olhava: nenhum posto de gasolina, nenhum Mc Donalds, nenhuma farmácia... nenhum estabelecimento onde se pudesse comprar um refrigerante geladinho. Claro que esse pensamento já indicava sinais de delírio por conta da insolação.



Mais a frente, no trêmulo horizonte, porém... o que é aquilo? Um ponto vermelho. O que poderia ser? Ela rastejou o mais rápido que conseguiu, mas aquilo parecia uma miragem. Não desistiu. O ponto vermelho ia ganhando forma, era... parecia... não podia ser... mas era! Uma geladeira da Coca-Cola! Ela tinha certeza de que era uma miragem. Porém, para espanto da lógica, não era! Tratava-se de uma genuína geladeira da Coca-Cola... detalhe: ligada! Ao que tudo indica, a fonte de energia eram os painéis solares no topo da geladeira (essa Coca-Cola... não perde uma oportunidade, heim?!). Ao perceber que era real, ela reuniu as poucas forças que lhe restavam e correu para a geladeira. Ao abri-la, porém... seus olhos não podiam acreditar no que via... não podia ser: só havia uma lata de Coca-Cola... uma... mas não era Zero! A última Coca-Cola do deserto não era uma Coca Zero. Desmaiou.



Dois dias depois ela foi encontrada por um grupo de Tuaregues que deram a ela um GPS, uma bússola e um camelo que sabia o caminho pro hotel.
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* acho que sofro do mesmo distúrbio...


A Fada da Cozinha



Ela estava morando sozinha havia 3 meses. O novo emprego ficou longe demais da casa dos pais, então achou que finalmente era hora de cortar o cardão umbilical, romper as amarras paternas, decretar sua liberdade!



Alugou um pequeno apartamento a menos de duas quadras do escritório. Ia trabalhar a pé todos os dias. Grande vantagem, comparando com as 3h e meia que perdia no trânsito para ir e mais 3 e meia para voltar. Estava feliz com sua decisão, porém... passada a euforia de desfazer as caixas e colocar tudo em seu lugar, os pequenos 'porenzinhos' começaram aparecer.



Filha única, sobrinha única, neta única, a única coisa que aprendeu a fazer na cozinha foi sentar-se à mesa e comer a comidinha da mamãe, que, aliás, era um primor! Em parte, tal problema era culpa da mãe super-hiper-mega-master-blaster protetora: não deixava a filha fazer nada que pudesse colocar a vida do seu bebê em risco, ainda que as estatísticas não demonstrem grandes taxas de homicídio por ovo frito ou miojo de micro-ondas!



Nem precisa dizer que a saída da filha de casa foi quase um velório, né?! Mas a mocinha foi forte e resistiu a todos os apelos da mãe e do pai para que ela ficasse em casa... e financiasse um helicóptero para levá-la ao trabalho do outro lado da cidade.



Ela tentava manter a pose de independente, mas fato foi que, depois de 3 semanas, ela começou a emagrecer a olhos vistos. A mãe, claro, percebeu desde o primeiro grama, entretanto, magoadíssima que estava, resolveu não se oferecer para ajudá-la, ainda que aquilo partisse seu pobre coração em pedacinhos. Sentia-se afrontada e queria que a filha implorasse por ajuda.



Tudo corria na medida do possível até que coisas estranhas, magicamente estranhas, começaram acontecer. Certo dia, ela chegou em seu apartamento e... choque: a mesa esatava posta! Havia sopinha quente, torradinhas e suco de laranja!



A princípio, não pareceu tão estranho assim. Era óbvio que sua mãe havia passado por lá. Após falar com ela, porém, descobriu que a senhorinha não saíra de casa o dia todo, fato que seu pai confirmava jurando de pés juntos. Acreditou. Foi dormir intrigada, embora de barriguinha cheia.



Na noite seguinte... de novo! Lá estava a mesa posta. E mais: havia frutas frescas, pão quentinho, queijos e... uma cafeteira com timer programaoa para fazer o café meia hora antes de sair de casa pela manhã. Era perfeito! Ligou de novo para sua mãe que, mais uma vez confirmou que passara a tarde toda com amigas.



Estranho, muito estranho. E assim foram as noites nas duas semanas que se seguiram. Sua mãe continuava negando que era ela quem estava fazendo aquilo e ainda fez a filha parecer meio maluca dizendo que uma coisa dessas não podia estar de fato acontecendo.



Naquela noite, entretanto, algo mudou. Além de todos o mimos culinários, havia um bilhetinho na geladeira:



- Bom apetite, querida. Beijos da Fada da Cozinha! PS: acreditar em coisas mágicas, faz coisas mágicas acotecerem, mas se duvidar delas... terá de aprender a cozinhar!



Desde então, parou de querer saber quem ou o que preparava seu jantar, abastecia sua geladeira e lavava a louça suja! Qual o problema de acreditar em magia? Ainda mais numa desse tipo: tão útil!




sábado, 13 de agosto de 2011

Top 5 - Gostinho estranho



1º Gosto de geladeira - Não existe Sazon sabor geladeira, nem tampouco Ruffles com esse sabor inusitado, maaas, isso não quer dizer que você não o conheça! Quem nunca foi comer aquele pedaço de bolo de aniversário abandonado, sem tampa, há 3 dias na geladeira e sentiu um gostinho invasor... quase indescritível, um gosto de... bom, na falta de melhor referência, resta classificar tal gosto com sendo de geladeira!



2º Gosto de armário - Esse é um sabor que apenas os mais sensíveis são capazes de perceber, aqueles que têm realmente um paladar apurado. Esse gosto geralmente pode ser percebido em bolachas. Ah-rá! Já comeu bolacha com gosto de armário?! Não? Faça o teste (ou não!): deixe um pacote semiaberto no armário por uma semana. Após esse prazo, prove um dos biscoitos... além de meio murchos, olhaí o gosto de armário!



Gosto de pote - não, não, não... ao contrário do que possa parecer, não é preciso arrancar uma lasquinha de algum pote e comê-la para saber que gosto é esse, mas aposto que muita gente sabe qual é esse. Sabe quando a gente insiste em colocar no micro-ondas aquele potinho plástico madeinChina que não nasceu para isso? Pois então, esses potinhos em questão acabam transferindo para o alimento parte do seu gosto, que inclusive deve ser tóxico (!), além de acrescentar um tempero indesejado. Eca!

4º Gosto de Bom Bril - esse é de lascar! Trata-se de um gostinho que costuma grudar principalmente em copos. Sim, sim, sim... há pessoas que simplesmente adooooooram lavar copos com Bom Bril alegando que eles ficam mais limpinhos e não embaçam. Até concordo, o problema é que se não forem extremamente bem enxaguados, assim que a bebida entra em contato com a superfície bombrienta ela assume esse gosto predominante. Dia desses tomei um chopp com esse gosto... e como explicar pro garçom que eu queria trocar a bebida porque estava com gosto de Bom Bril?! Situação, viu?!



5º Gosto de sabão - embora toda gordura tenha gosto de sabão (sou só eu que acha que a gordura do bife de contrafilé tem gosto de sabão???), não é do sabor que se parece com sabão que me refiro aqui. Esse gosto anda de mãos dadas com o gosto de Bom Bril, depende apenas da predominância de um ou de outro. Mais uma vez, esse sabor depende da displicência do enxaguador que apenas mostrou a louça pra água e deixou ali resquícios daquilo que, na verdade, era para limpar a tal louça. Eca, eca, eca! Esse sabor é capaz de estragar o melhor dos paladares.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A semana e a cozinha



Segunda-feira - sim, aquele dia difícil. A noite passou rápido e não foi suficiente para acabar com o sono. O café da manhã tem de começar com um bom balde de café para fazer o dia pegar no tranco! O almoço, levando em conta os possíveis (prováveis) exageros do fim de semana, é algo bem leve, bem leve mesmo: um prato de salada, basicamente! Jantar? Banho e cama!




Terça-feira - é só comigo ou a terça-feira de vocês também tem 72 horas? Pra mim, o pior dia da semana porque o descanso do fim de semana já passou da validade e o próximo fim de semana ainda está muito distante. Aproveitando que o tempo rende às terças, o café da manhã pode ser a coisa mais demorada do mundo. Há ainda tempo para uma colação no meio da manhã! Almoço: ainda pensando nos estragos do fim de semana, saladinha, mas com as verduras que você mesmo plantou pela manhã e pela morosidade do dia, estarão em ponto de colher na hora da sua refeição. O jantar... bom, depois de um dia desses... banho, leitinho morno e cama.



Quarta-feira - enfim, o meio da semana útil! Sair da cama já tem um motivo: o café fresquinho. Nesse ponto, mal é possível lembrar das barbaridades alimentares cometidas no fim de semana, por isso, aquela feijoadinha cheirosa praticamente pula no prato. Embora, no jantar, a consciência faz questão de lembrar que é melhor pegar leve, então, adivinha: banho, frutinha e cama!



Quinta-feira - o melhor dia da semana! Por quê? Porque só falta amanhã! Além do café fresquinho, pra comemorar, um pão francês quentinho, fresquinho, recém saído do forno - isso se a preguiça deixar o corpinho se arrastar até a padaria logo cedo! É tudo por uma boa causa: é quinta! O dia flui tão bem que, na hora do almoço, o prato de salada no almoço já ganha uma lambadinha de churrasco! O jantar... olha! Alguém preparou o jantar!



Sexta-feira - é quando a coisa começa a degringolar! Dia de ir trabalhar de carro - pra quem não vai todos os dias - então, é possível comer um pãozinho a mais, caprichar na geleia, pingar o leite no café, comer um pedacinho daquele bolo que não se sabe bem de onde surgiu e, ainda, já que se está de carro, dá pra levar aquele pacote de bolachinhas pra ir beliscando enquanto enfrenta o tráfego monstro da sexta! No almoço a coisa piora... consideravelmente. Sexta é dia de almoçar com o pessoal! Comendo salada?! Que isso! 'Vamos comer pizza, gentê!'. E, claro, nunca fica nos dois pedaços, ou três, ou quatro... Jantar? Antes aquela passadinha no bar - enquanto o trânsito melhora - para relaxar com o pessoal. Daí, já viu: uma cervejinha leva à outra e a outra leva aos petiscos e acepipes. Depois, um jantar de verdade, enquanto espera o efeito do álcool passar para poder dirigir com segurança!



Sábado - começou ontem! E, depois de uma noitada, o café da manhã só acontece lá pelo meio dia. Mas, quem se importa: hoje é sábado! Melhor pular o café e ir direto pro almoço. Qualquer coisinha, melhor guardar espaço para aquela festa de aniversário do sobrinho, naquele buffet fantááááástico! Lá, bom, lá é que a coisa toda acontece: coxinha, quibinho, esfirrinha, hot doguinhos, hamburguinho (!), bolo, cajuzinho, beijinho, brigadeiro... e, para os adulto, cerveja, caiprinha, batidinha... E garçons que se multiplicam... mal se engoliu o último pedaço e já tem uma bandeja pela frente! É tudo tão lindo, tão cheiroso, tão apetitoso... e é sábado e foi salada a semana inteira... relax!

Domingo - depois de um sádado com festa infantil... melhor passar a fruta e água! Que nada! Mamãe está esperando a semana toda para preparar o prato favorito! E nem adianta ir pra lá sem apetite! Ela fará aqueeeeele prato e vai ficar olhando até sumir a última garfada! Barriguinha cheia? Espero que não, por que ainda tem aquele pudim de leite condensado esperando para ser devorado! Algumas horinhas depois, hora do café da tarde com pão caseiro, bolo fresquinho, café, geleia caseira, bolachinhas caseiras...



E assim termina mais uma semana que vai começar de novo e vai passar... e a culpa... bom, essa, a saladinha cura! hehehehe