domingo, 22 de julho de 2012

Leitinho, chazinho e Diazepam... que soninho*!!

- ...tá dormindo?
- ... não, e você?
- (...) não, né?!
- Que horas são?
- 1h30...
- Será que essa p%$#@ de festa não vai acabar?
- Acho que não, viu?! Estão desde às 16h nessa barulheira...
- Vou chamar a polícia...
- Chama não! O bairro inteiro está lá... seremos os chatos se chamarmos...
- Amor... já somos os chatos: fomos os únicos que não foram convidados!
- E se chamarmos a polícia, daí que não seremos mesmo!
- Tá, e o que você sugere?
- (olhar convidativo)
- ...iiiiiiihhhh, nem vem... tô sem paciência pra isso...
- ...nieeehhh... eu também... mas foi o que me ocorreu... Que acha de vermos um filme?
- Quero dormir... só isso...
- É... eu também... amanhã trabalhamos... domingo não é dia de virar a noite vendo filme, né?!
- NEM FAZER FESTA ATÉ ESSA HORA!
- Ok... vamos ver o que podemos fazer... não tem aquele leite milagroso que sua mãe fazia e que te derrubava de sono?!
- Bem lembrado amor, vamos lá na cozinha... vou preparar um litro!
(1 litro depois)
-...tá dormindo?
-... não, e você?
- Argh! Não adiantou nada! 2h30 da manhã e a gente com esse olho estalado!
- E se a gente tomar chá de cidreira com camomila?
- Ah, será que não periga termos uma overdose?
- Nada! Vamos lá na cozinha comigo... vai que você dorme enquanto eu preparo nosso chá!
(1 balde de chá depois)
- ...tá dormindo?
- ... não, e você?
- Humpf! Que que tá acontecendo?
- Será que é a comida que está pesando no estômago?!
- Agora vai culpar minha comida?! O bailão da roça rolando lá fora e a culpa é da minha comida????
- Não foi isso, amor. Mas se você quiser a gente briga amanhã... tô sentindo meu corpo moído... tô sem forças pra brigar... além disso, se ficarmos agitados, o metabolismo vai ficar ainda mais acelerado, daí que a gente não dorme mesmo!
- Tem razão amorzinho...
- (tenho que lembrar de anotar esses argumentos para usar outras vezes!!) ... bom, nem leite derruba leão, nem chá duplo calmante... o que nos resta?!
- hummm... lembra quando minha vó passou uns tempos aqui em casa?
- Boa amor, me lembra dessa história chata que vai me dar sono...
- (tapa)... não é nada disso... presta atenção: lembra quando minha vó passou uns tempos aqui em casa?!
- Opa! Se lembro! Como iria me esquecer?
- Lembra que ela tomava uns remédios?
- ...leeeeembro...
-... então... sobraram alguns...
- Amor, só me lembra uma coisa... sua avó não estava meio tantam das ideias?
- Sim!
- E os remédios não eram pra quem está tantam das ideias????
- Também... mas lembra que quando ela tomava, caía pro lado e dormia???
- LEMBRO! Bora caçar esse aí!
(diante da caixa de remédios)
- Só tem um!
- Qual é?
- Diazepam... 50mg**...
- Vamos dividir?
- Acho melhor... vai que a gente dorme umas 15 horas seguidas, né?!
- (treck! schuiiim.. tricl!)
- Pra onde foi?!
- Sei lá... uma metade tá aqui...
- Acho que foi parar atrás da geladeira... me ajuda aqui... vamos arrastar...
- (arraaaasta!) Achei!
- E quem vai tomar a metade encardida?
- Você! Você que fez a metadinha voar!
- Se você não ficasse secando tudo que faço...
- Tenho uma ideia: vamos dividir em quatro e cada um toma um quarto limpo e um quarto sujo...
(2/4 depois...)
- ...tá dormindo?
- ... não, e você?
- Puuutz... será possível que nem Diazepam fez a gente dormir?!
- Que horas são?
- 5h30!!!! Tenho que levantar daqui 2 horas!!!!
- ...ó... ó... acho que tá fazendo efeito... tá sentindo os olhos pesarem?
- ...zZz...tô...
(dormiram, mas acordaram 1h depois...)
- ...tá dormindo?
- ... não, e você?
- Então é isso? Diazepam é isso??? Uma hora de sono e só? Por que sua vó dormia tanto????
- Não sei, amor... só sei que vou tomar banho, me arrumar e chegar uma hora mais cedo no trabalho.
- Boa ideia.

Claro que a história não termina assim! Foi os dois pisarem no escritório que um sono avassalador, galopante, alucinante tomou conta de seus seres. O leite derruba leão, o chá duplo calmante e o bandidinho do Diazepam resolveram fazer efeito um pouco fora de hora. Resultado: ele, no meio de uma reunião, presidida por ele, começou a falar mole, enrolar as palavras, virar os olhos, trançar as pernas... acharam que ele tinha recebido um santo e o mandaram pra casa; ela, no meio de uma dinâmica de grupo, tendo os mesmos sintomas que ele, ganhou um cartão do AA e o apoio de toooodos para que ela começasse os 12 passos! Pelo menos puderam ir pra casa dormir!!!


*Baseada em fatos reais... putz... parece mentira!
**Bom, nem precisa o Ministério da Saúde dizer que nenhum juquinha deve se automedicar, né?! Muito menos com medicamento tarja preta!

domingo, 8 de julho de 2012

A invenção do brownie

Ela era do tipo exageraaaaado! Era sagitariana*. Nada para ela era de pouquinho, de pitada, de isquinha. Para ela sempre um era muito pouco, dois poderia ser mais e três era quando começava a melhorar.

Aos que a criticavam, a resposta era: "o que é de gosto, regalo da vida!". E para ela, tudo era de gosto e tudo era regalo da vida.

Evidentemente, a cozinha de sua casa era território onde ela precisava de supervisão. Do contrário, uma única refeição para a pequena família de 4 pessoas seria suficiente para alimentá-los por 4 semanas! Por isso, o marido, depois de fartar-se (em ambos os sentidos!) contratou uma cozinheira que teria por missão controlar os exageros da patroa:

- Hoje para o jantar prepare um peru, arroz à grega, arroz com passas, arroz com nozes, sopa de lentilhas, também grão de bico, creme de milho, salada de batatas... e aquele leitãozinho.

Natal? Que nada! Dia ordinário.

À coitada da cozinheira cabia fazer ouvidos surdos às ordens da patroa e preparar uma refeição que acabasse no mesmo dia. Sempre ouvia broncas, claro! Mas ao marido cabiam os argumentos de que a cozinheira estava certa.

Pouco a pouco ela foi se desanimando de ir pra cozinha, nunca a deixavam fazer nada. Aquilo ali virou território da cozinheira. Até que um dia, a cozinheira, logo depois de preparar o almoço, sentiu-se mal e foi recuperar-se em casa. A cozinha estava livre!

Claro que ela não perdeu a oportunidade. O que fazer? O que fazer? Tanto tempo sem poder mexer em suas próprias panelas que nem sabia o que queria preparar primeiro. Pensou então em algo para o chá da tarde... um bolo! Isso! Um bolo de... chocolate!

Como não queria ouvir desaprovações do marido e dos filhos, resolveu seguir uma receita. Qualquer coisa, poderia dizer que a empregada deixou pronto antes de sair. Contudo, o que são as receitas para aquele que sofre de exagero? Mera inspiração.

Ao invés de 1 colher de manteiga, foi lá e lascou 6 na vasilha. Pra quê usar achocolatado se podia usar chocolate  e cacau em pó... também? Farinha de trigo, açúcar, ovo. Não, ovoS: 4! E já que era para ser de chocolate, por que não colocar uns tabletes também?? Picou em cubinhos e colocou na vasilha. E mexeu tuuudo. Massa densa, pesada, escura! Enquanto mexia, seus olhos percorriam as prateleiras procurando mais gostosices para acrescentar à """"receita"""": nozes! Martelou uma dúzia de nozes, deu uma picadinha e mandou para a vasilha.

À medida que misturava tudo, com toda a alegria do universo, ia imaginando o bolo gigantesco e fofinho que aquela massa ia se transformar. Capaz: pesada como estava, aquela massa teria de ter a força do Thor para crescer, além de uma pitada de milagre, já que ela se esqueceu de colocar o fermento!

Massa devidamente misturada, despejou-a numa forma enorme - uma vez que seu [exagerado] otimismo a fazia crer que a massa tomaria conta daquilo tudo! Em seguida, forno. Ficou olhando, olhando, olhando... e nada... a massa não se mexia! A manteiga ia fritando, o chocolate derretendo e nada de crescer. Lá se foram 30 minutos de forno, o cheirinho já tomava conta da casa, mas a massa não dava a menor pinta de que fosse expandir.

Preocupada, tirou a assadeira do forno. Ainda teve a audácia de se perguntar: o que será que eu fiz de errado? segui a receita tão direitinho!

Exagerada, sim; desperdiçadeira, jamais! Esperou esfriar um pouco e cortou um quadradinho para saber se, além de embatumada, também ficou intragável sua receita. Supresa: estava uma delícia. Molhadinho, saboroso. Seu bolo, embatumadinho, super marronzinho tinha ficado uma delícia... maaaas... o que dizer ao marido e filhos? Jogar nas costas da cozinheira? Não, não era de seu feitio. Seria sincera: teimou, foi para a cozinha, exagerou na dose e errou a receita. Que nada:

- Querem provar minha nova receita? Eu chamo de... de... maronz... brown... BROWNIE! Invenção minha.

Todos provaram e adoraram!! Nem se perguntaram em que momento ela se curou do exagero e foi capaz de inventar uma única receita daquela delícia. E assim foi inventado o brownie**, muito apreciado até os dias de hoje.

* como sagitariana que sou, digo como conhecimento de causa que somos sim exagerados! mas claro que no caso da personagem, exagerei no exagero!!
** é tudo mentira, mas poderia ter sido verdade!

domingo, 1 de julho de 2012

5 anos de Clara em Neve!

Sim, há 5 anos, todas as semanas (ou quase isso) venho escrevendo sobre as pequenas bobagens da vida sob a ótica da cozinha: crônicas, causos, algumas receitinhas, dicas... sempre tentando deixar a vida mais doce e mais boba!! E por mais esse ano de carinho e atenção de todos que reservam um tempinho para ler o que escrevo... MUITO OBRIGADA!!!