Milagre de Natal
Por razões que ultrapassam os limites do explicável, mais uma vez, ela deixou as compras da ceia de Natal para os 45 do segundo tempo. Sim, em pleno 24 de dezembro, lá ia ela, rumo ao supermercado. Dessa vez, tinha certeza de que seria a única. Que bobagem!
A um quarteirão já sabia que seu pensamento positivo não surtiu efeito: a fila de carros para entrar no estacionamento era a prova cabal. Desesperada (claro!), largou o carro na rua mesmo e correu para as gôndolas. O segundo desafio foi encontrar um carrinho... em vão. Nada de perder tempo, então: prioridades, prioridades, ela tinha prioridades!
Peru! O peru! Ela tinha que garantir o peru. Correu para o freezer: chester, chester, pernil, pernil, chester. Não tem peru?!
- Moço, eu preciso de um peru! - disse ao funcionário do supermercado... que, em outra data, entenderia como uma cantada chula, mas num 24 de dezembro... ela só poderia estar se referindo a ave, mesmo!
- No estoque não tem mais nada... é só que tem aí, senhora.
Apelou para São Longuinho:
- São Longuinho, São Longuinho, se eu achar um peru dou... trezentos pulinhos*.
São Longuinho não desampara... e lá estava um belo peruzão! Mas é como dizem: é preciso saber pedir. Ela achou o peru, mas nos braços de outro. Foi tudo tão rápido, nem deu tempo de refazer o pedido e o peruzinho já ia longe. Ela ficou tão desolada que nem teve forças para implorar por ele. Deixou que ele se fosse, era seu direito... alguém o escolheu antes dela. Era o destino.
Ainda percorreu mais quatro supermercados, mas não adiantava... esse seria um Natal sem peru. Família toda reunida... menos o peru.
Não havia, porém, mais nada o que fazer. Restava preparar a ceia sem a personagem principal. Levou um dublê de peru, um chester, mas sabendo que o coitado seria mais um motivo para zombaria.
O dia passou na mais profunda tristeza e a meia-noite se aproximava... e sua orelha já queimava. Resolveram então fazer o amigo-secreto para tentar animar o ambiente.
Sai um presnte aqui, outro ali, outro acolá... até que chega a vez da sogra:
- Minha amiga secreta é uma pessoa muito teimosa... haja o que houver, ela sempre deixa tudo para última hora... não aprende nunca! - todos já sabiam quem era a amiga-secreta, claro! - por isso, comprei pra ela uma coisa que tenho certeza será perfeita - todos pensaram que era uma agenda.... mas a caixa era enorme e o Jucão (cachorrão da família!) não tirava o focinho de perto dela - espero que ela e todos gostem. Minha amiga-secreta é minha norinha querida!
Ela se levantou para receber o presente... tooooda tristonha. Quando abriu a caixa, no entanto, seu sorriso abriu-se de orelha a orelha. Ganhou o que mais poderia querer naquela linda e triste noite de Natal: um peru assadinho!! Que curioso!
E assim, a ceia ficou completa! E foram felizes para sempre durante aquela noite... e todos passaram a acreditar no tal milagre de Natal... afinal, só isso explicaria o fato do Jucão não ter destruído aquela caixa para comer o peru, né não?! Mais: alguém finalmente acertou na mosca um presente de amigo-secreto!! É milagre ou não é?!
*essa é das minhas!
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Aproveitem o Natal!
Um comentário:
Hahaha!!! Delicioso divertido conto Fabi. Adorei a sogra e a nora. Que certamente se adoram. Sempre me dei bem com as sogras também. Tanto que tenho coleção delas, ex, todas continuam minhas amigas. Com os filhos delas, não posso dizer o mesmo. Mas também agora não posso reclamar. Tenho também coleção de ex - noras o que fala a favor da genética, será?? Bem, quanto ao milagre, ou o Peru, sou duma trupe que a muito já aderiu ao conceito de "ave natalina". Menos chique e literário mas.....
Feliz Natal e um Ano Novo recheado de suas deliciosas historietas.
Grande beijo
Marie.
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