domingo, 17 de janeiro de 2010

Medo!


Sou uma pessoa corajosa. Faço coisas que outras mocinhas não costumam fazer sem soltar gritinhos e pedir socorrinho... por exemplo: mato barata à base de chineladas e ainda tenho os culhões de virar a bichinha de patas pra cima pra não correr o risco dela se recuperar!



No entanto, há coisas que realmente me dão medo nessa vida. Coisas que me arrepiam só de pensar. A principal delas: feijão carioca!Não se trata de simplesmente não gostar da iguaria, não, não, não! É medo, mesmo! Pavor! Fobia! Acompanhados de enjoos, arrepios e trimiliques.



Não sei precisar a origem dessa repulsa, mas tem a ver com alguns traumas. Um deles aconteceu há muitos anos, quando ainda era uma criancinha e já sabia que não gostava da tal gororoba, mas convivíamos em paz: ele, o feijão, lá e eu acolá, bem longe! Acontece que numa certa manhã, ao raiar do sol, ainda cambaleando de sono, fui à cozinha para meu desjejum e dou de cara com minha mãe, vasculhando a geladeira, já pensando no almoço (coisa irritante, heim?! Nem tomou café e já está pensando no almoço!!!). Antes mesmo que eu pudesse dizer ‘bom dia!’ ela, numa fração de segundos indefensável, enfiou uma panela embaixo do meu pobre narizinho ao mesmo tempo que me perguntava: ‘será que esse feijão já está azedo?!’.



Deus, Deus, Deus! Quase morri de nojo! Só a pergunta já seria o suficiente para me assustar, não bastasse isso ainda teve a visão do inferno (fala sério: a aparência desse trem é repulsiva!) e pra completar o pesadelo ainda tinha o cheio gelado e, sim, azedo! Medo, medo, medo!



Anos e anos se passaram, com incidentes tão nojentos quanto, mas em menor proporção, apenas o suficiente para reforçar o trauma, até que um dia, quando minha mãe viajou e me deixou a incumbência de não deixar meu pai morrer de fome. Coisa simples, afinal ela passaria pouco tempo fora e deixaria comida pronta, bastava esquentar e preparar uma misturinha básica. Fácil, não fosse o feijão! Sabendo de meu problema, ela já deixou a coisa numa panela, então, bastava colocá-la no fogo e quando o futum começasse a exalar, bastava desligar e sair correndo!



Fácil, nos primeiros dias. Afinal, chega uma hora que, mesmo indo à geladeira, o alimento vence a validade, né?! Era verãozão e não sei por que diabos meu pai não colocou a panela na geladeira com o restante da garoroba e também não sei precisar porque passei alguns dias sem entrar na cozinha. Certo dia, porém, ao entrar, tive a certeza de que alguém havia matado uma pessoa e ocultado o corpo na cozinha de casa. O fedor era insuportável. Procurei, procurei, procurei: sem sucesso, pois não encontrei o corpo, nem qualquer coisa que pudesse exalar tanto mau cheiro.



Lavei a cozinha com cloro do piso ao teto, mas a fetidez continuava intacta! Já pensava em vender a casa quando meus olhos foram atraídos por algo que havia ignorado: a panela de feijão! Caberia ali o corpo de uma pessoa?! A curiosidade superou o medo e, prendendo a respiração, abri um cantinho da panela. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!! Era o feijão que estava fedendo aquilo tudo!!!!! Estava ali havia dias, no alto verão. A visão foi perturbadora: havia um palmo de lã-de-mofo sobre a gosma marrom. Quase morri, se não isso, quase desmaiei. Mas, de posse da mais pura frieza, coloquei a panela inteira, com tampa e tudo, no lixo e botei o lixo pra correr imediatamente!



Depois de episódios como esses, dá para entender por que tenho medo de feijão carioca*?! Urgh! Alguém leu 1984 do George Orwel?! Lembram-se da parte final da tortura?! Eu falaria que 2+2 são 5 à primeira imagem de uma panela de feijão!



*engraçado, não entra nessa lista o feijão preto, que aliás tem sabor muito bom e aroma melhor ainda!



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