O ladrão "Quebra-Coco"*
A aparente tranquila madrugada quente ia alta. Na rua só se ouvia um latido solitário de algum cachorro insone. A lua estava cheia, azulava as casas, que dormiam sossegadas o sono da segunda-feira que começou sem ninguém perceber.
Naquela casa, porém, algo estava prestes a quebrar o sossego. Até certo momento, todos dormiam, embalados pelo silêncio, mas, num instante, a filha foi arrandada dos braços de Morfeu: acordou num pulo, na mesma velocidade que seu coração disparava.
A menina ouviu um barulho. Dali a pouco, novamente. De maneira ritimada, em intervalos médios, uma pancada seca quebrava o silêncio. A adrenalina do susto fez a menina concluir de pronto: é ladrão!
Nesses momento, é bobagem apelar para a racionalidade - que sempre é a primeira a sair correndo, deixando para trás apenas o abestalhamento, a tontice e afins! A menina então correu para o quarto dos pais; foi reunir o exército para enfrentar o bandido:
- Mãe-mãe-mãe - repetia enquanto sacolejava a coitada da mãe - acorda!
Não surtindo efeito, apelou:
- MÃE! ACORDA! TEM LADRÃO EM CASA... INVADIRAM NOSSA CASA!
A mãe então, num pulo, desvencilhou-se dos lençóis e meio acordada, meio dormindo, meio calma, meio infartada tentava entender o que havia ouvido, ao passo que planejava uma estratégia de defesa.
Nesse momento, a menina se deu conta de que o pai não estava na cama?
- Já pegaram o pai! Meu Deus... vão matar a família toda!
A viúva percebeu os estrondos:
- Que barulho é esse???? Estão batendo no seu pai!
- Parece que estão batendo a cabeça dele contra a parede!
- Será que ele ainda está vivo? Precisamos ajudar... - disse enquanto, no escuro do quarto, iluminado pelas frestas de lua que entravam pela janela, procurava qualquer coisa que pudesse usar como arma - Toma, pega aqui minha sombrinha, vou levar o guarda-chuva do seu pai...
Desceram as escadas, seguindo o barulho da cabeça do pai que era lançada, ritimidamente, contra a parede... ou seria a quina da pia? Enfim... de ponta de pé, pretendendo pegar o bandido safado, desgraçado, assassino... de surpresa.
Mimicamente contaram... 1, 2... 3: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH! gritaram as duas, enquanto pulavam de sombinhada e guarda-chuvada em cim a do larápio.
Por baixo de pancadas o bandido suplicava para que parassem, mas elas, no afã da fúria, com a força da raiva, embuídas pelo espírito de vingança pela morte de pai-marido... nem cogitavam a possibilidade de parar! Entre um grito e outro, no entanto, foram percebendo algo familiar na voz do assassino. A mãe, então, desferiu uma guarda-chuvada certeira no interruptor que fez acender a luz da cozinha:
- PAI???????????????????????? - gritou a menina.
- Cadê? Cadê o bandido? Pra onde ele foi? - perguntava a mãe enquanto procurava, de guarda-chuva em punho...
- Que bandido? Que que tá acontecendo???? Por que vocês estão me batendo???? Que que foi que eu fiiiiiz??????? - perguntava o pai, todo avariado pelas pancadas.
- O bandido, pai? Eu ouvi umas pancadas, fui no seu quarto e só encontrei a mãe na cama... e o pam-pam-pam... que não parava...
- Daí a gente desceu pra te salvar... ou o que restava de você...
- Salvar? Que salvar? Eu acordei com sede e desci pra beber alguma coisa... vi o coco verde e me deu vontade de beber água de coco! Eu que tava tentando abrir o coco... não tem bandido nenhum tentando quebrar meu coco!!!!
- Ma...mas... é agora que eu mesma vou quebrar seu coco!!! Quase matou nós duas de susto!!!! Que que leva uma pessoa a quebrar um coco no meio da madrugada?????????????
- Sede, oras!
*Causo baseado em fatos reais... acreditem...
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