Virada Cultural 2010 - parte III de III
(...continuando)
A intensidade do sol piorava cada vez mais. Já a pino, algumas pessoas foram desistindo: bom porque assim cheguei à grade, mau porque ali nada me protegia do sol. Sorte que, mesmo o tempo tendo estado péssimo durante toda a semana, meu otimismo sagitariano me fez passar protetor solar 60 antes de sair de casa e, mais, me fez levar o potinho na bolsa para repassá-lo ao longo do dia.
O pastel, aquele singelo pastelzinho pingando óleo, já fora digerido e meu pobre estômago nem tinha esperanças de que fosse ver comida tão cedo. Além disso, por motivo já mencionado, não bebi nada de líquido desde a hora que saí de casa, às 7h... e o líquido, no caso, foi café! No entanto, mesmo que eu me dispusesse a beber água, cerveja, chimboquinha ou vinho Chapinha... não seria possível: os adegueiros ambulantes não chegavam à grade! A solução tanto pra fome quanto pra sede? Trident! Com um chicletinho aqui, outro ali, fui aguentando o dia todo.
O próximo show? Arnaldo Antunes com seu álbum Iê-iê-iê. Confesso que senti medo da reação da Avenida São João, afinal, o show anterior teve direito àquelas rodas de porrada (gigantesca!!), totalmente rock’n roll... daí chega o poeta e sua banda, toda de figurino, para derramar sobre o público canções totalmente conceituais. Mas, gênio é gênio! Além disso, nada supera a experiência! O senhor Antunes está há décadas na estrada e soube dominar não apenas o palco, mas principalmente o público que, mesmo não conhecendo todas as músicas, vibrou com todas elas. Eu, fãzaça, fiquei feliz por mim e por ele!! Ainda mais porque tocou uma das minhas músicas favoritas: ‘judiaria’. Uma versão hard core para o rei da dor de cotovelo, Lupicínio Rodrigues. Vale também mencionar que a presença do Edgard Scandurra, o dito virtuoso ex-guitarrista do Ira!, causou uma certa comoção nos saudosos fãs da banda que subiu no telhado. Como diria meu estimado Paulo Leminski: ‘O que vai embora não embolora’!
Findo o show... mais uma Era até o próximo. Nesse meio tempo algumas coisas. A primeira e mais importante: o baterista dos Raimundos* ficou para curtir os shows depois do dele e estava dando sopa na plateia VIP, o pessoalzinho que estava atrás de mim, chamou e o cara atendeu muito simpaticamente. Enquanto todos pediam fotos e autógrafos... a mim só interessava uma coisa ‘Posso te pedir uma coisa?’ ‘Claro, linda!’ ‘Me dá um gole da sua cerveja, pelo amor de Deus!’. Foi a cerveja mais gostosa que já bebi na minha vida. A sede estava me dominando! Vendo meu olhar de uva passa ele ofereceu a cerveja toda... lógico que não recusei!! Ah, que simpatia! Salvou minha vida! Também deram o ar da graça o Rafael Cortez do CQC, o Walace Lara (ou seria o César Trali?!) da Globo e a Cristiane Alcalá da TV Cultura, para quem concedi uma entrevistinha... mas só porque era para essa emissora e porque ela foi minha professora e orientadora na pós-graduação... hehehehe!!!
Uma vida e meia depois, os Titãs, os 4 que restaram (de uma banda que já foi de 8!), entraram no palco já com o céu escuro. A expectativa para esse show era a pior possível. Depois do CD Acústico, a banda, na minha pobre opinião, perdeu o rumo da prosa e descambou para um popzinho sem graça. Os shows não lembravam nem de longe os tempos de Titanomaquia e Domingo. Mas, porém, no entanto, todavia, qual não foi minha surpresa ao perceber que a banda acordou pra realidade (identidade) e estava mais rock’n roll do que nunca!! Uma sequencia inacreditável de músicas dos bons tempos: AA UU, Bichos Escrotos, Diversão, Pulso (com a histórica participação de Arnaldo Antunes!!), Cabeça Dinossauro (não acreditei!), 32 dentes (achei que a cerveja que bebi tinha alguma coisa que estava me provocando alucinações), Porrada (idem anterior, vezes 10 ao quadrado), Polícia, Vossa Excelência (essa mais recente, mas de conteúdo recheado de impropérios e chingamentos), Lugar nenhum, Televisão (numa versão 2010 totalmente roqueira, sem o ôôôôô!), Flores, Go back, Sonífera ilha (essas três bem mais tranquilas, momentos para respirar!) e mais algumas do novo CD, duas bem pesadas e duas mais baladinhas (cicatrizes! Perdoáveis em vista de todo o resto!). O show foi como há muito, muito, muito tempo não via. Valeu o sol na moringa, a fome, a desidratação, as 8 horas em pé! Saí de lá no bis (‘É preciso saber viver’) antes que o efeito rock passasse!
O percurso da grade ao fim da plateia parecia não ter fim! A Estação da Luz parecia que ficava em Changrilá! Andei, ande, andei, andei (pedi 39764789650475082374023984903490384093750748707603985093674039768930478407509457897304957980234394738567385t46587239 informações, afinal, me perco até na palma da minha mão!!), passei pelo caminho inverso da Estação Pinacoteca (onde comecei meu dia!) e finalmente cheguei na estação. Cansada, dolorida, desidratada, faminta, rouca, mas feliz por ter aproveitado pelo menos metade da Virada Cultural 2010.
Qual será a programação em 2011, heim?! Já estou contando os dias!
PS2: passei quase toda a semana sem voz! efeito colateral!
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