Vontade estranha
Sabe aquela vontade de comer alguma coisa a qual você não sabe ao certo o que é? Uma vontade genuína, embora não deixe clara o que a satisfaria. Uma vontade estranha.
Não é como desejo de grávida. Essa é uma vontade clara que, diferentemente da estranha, não é a vontade que é estranha, mas sim o que a satisfaz. Explico: a vontade de gravidez brota nítida, por exemplo, vontade de comer feijão gelado com cobertura de caramelo, decorado com jujubas azuis (Jesus!).
Embora seja de absurdo mau gosto (e que somente uma pobre mulher com os hormônios sacaneando seu paladar fosse capaz de comer tal iguaria), eis uma vontade com todos os ingredientes.
Já a vontade estranha é abstrata. Sinestesicamente, misturam-se os sabores, aromas, imagens e texturas. Trata-se de uma vontade que beira o etéreo, o sublime, não revela sua identidade. Parece que a comunicação entre os sentidos não está funcionando perfeitamente.
Em certo momento, sabe-se o gosto, mas não se sabe de quê. Em outros, sabe-se o quê, mas não se lembra do gosto exato. Piração, né?! Mas aposto que todos já tiveram essa vontade de comer alguma coisa comprada não-sei-onde, pagada não-sei-quanto, pesando não-sei-quanto.
O pior é que essa é uma vontade do tipo insistente. Enquanto não se descobre o que a satisfaz ela não sai de perto. Resta, então, quando ela aparece, partir para o ataque, ir desvendando aos pouquinhos o mistério até chegar ao cerne.
Dia desses fui acometida por essa vontade perturbadora. Chegava a salivar de vontade (e quase de loucura por não saber o que eu queria comer!!), mas fui, com vagar, tentando perceber do que se tratava.
Depois de passar dias me empanturrando de guloseimas, hoje descobri que estava com vontade de comer bombom Opereta da Garoto. É um chocolate branco com castanha de caju, mas diferentemente dos outros, esse não traz pedaços da castanha, mas apenas seu sabor fundido ao chocolate branco, que aliás, nem sou tão fã, mas, quem explica uma vontade estranha?!
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