domingo, 15 de agosto de 2010

Almas Gêmeas, Quadrigêmeas, Óctuplas...


O amor tem razões que a própria razão desconhece. A história deles começa assim:


Ele levava uma vida pra lá de comum. Trabalho, casa, amigos. Um dia se deu conta disso e entristeceu. Começou a buscar mudanças, novidades, transformações, mas ao que tudo indicava, seu destino era mesmo a pasmaceira.

Alguns amigos diziam que o que lhe faltava era uma grande, intensa, esfuziante, radiante, palpitante história de amor. Depois de muito relutar contra a ideia, deu-se por rendido e pôs-se a procurar por ela, a tal história de amor.

Falar é fácil, né?! Mal podiam saber os amigos que essa nova busca o deixava cada vez mais entristecido. Isso porque ele procurava, procurava, procurava e nada de achá-la, a tal história de amor.

Um dia, jururu que só, sentou-se numa mesa de bar e, assim, como um desabafo, ao ser perguntado pelo que desejava, pediu que o garçom lhe trouxesse uma moça bonita. Ele não podia adivinhar que 'moça bonita' era justamente o nome do drinque mais forte e cabuloso da casa.

Depois da primeira, o que se seguiu foi uma verdadeira orgia, tamanha fora a quantidade de 'moças bonitas' que desceram goela abaixo. Saiu de lá carregado pelo garçom.

No dia seguinte, a despeito da dor de cabeça que o alucinava, sentiu um alívio que há muito não sentia. Infelizmente. Sim, porque a partir daquele dia, não passou um se quer sem suaS moçaS bontiaS. Dia após dia, eram doses e mais doses. Resultado: em menos de um mês tinha se tornado um alcoólatra.

Os amigos ficaram desesperados, afinal, no fundo, no fundo sabiam que tinham lá sua pontinha de responsabilidade naquilo. Por que diabos não mandamos o cara montar um quebra-cabeça de 200mil peças?! Para aquela situação, só havia duas alternativas: convencê-lo a frequentar o AA ou inventar uma máquina do tempo e voltar no momento exato do primeiro gole.

A escolha não poderia ser mais óbvia, afinal, até terminarem a máquina do tempo, o pobre amigo já teria morrido de cirrose. Trataram, portanto, de munir-se dos melhores argumentos para levar o amigo a uma reunião do AA. Foi uma batalha, tendo em vista que ele nunca estava suficientemente sóbrio para admitir que era alcoóltra e que precisava de ajuda. Mas depois de muitos gritos, lágrimas, súplicas e pedidos, ele topou, porque, acima de tudo, ele era um cara gente boa, que não negava nada aos amigos.

No dia e hora marcados, lá estava ele, de cara limpa, ou quase isso, afinal, as moças bonitas ainda bailavam por seu sangue.

Entrou na sala. Não estava muito cheia, mas pareceu que uma multidão a lotava quando todos o aplaudiram. Sentiu-se envergonhado, mas havia prometido aos amigos que assistiria a palestra até o final só para provar que não tinha problemas com a bebida. Procurou um lugar para se sentar. Nem esolheu muito, só queria não ser mais a pessoa em pé sendo aplaudida por estranhos, sabe-se lá porquê.

Só depois de alguns segundos, reparou que havia se sentado ao lado de uma moça bonita, dessa vez uma moça mesmo. Ela também parecia constrangida.

- Seu primeiro dia?

- É.

- O meu também.

- Você é alcoólatra?

- Nããããão, mas meus amigos acham que sim.

- Os meus também.

- Que bobagem, né?!

- É mesmo. Sabe qual a justificativa deles pra me taxarem de alcoólatra?!

- Qual?

- Que só os alcoólatras bebem sozinhos. Eu sempre estou sozinha.

- Mas olha só que coincidência: meus amigos disseram a mesma coisa!

Deram-se uma risadinha e silenciaram por alguns segundos até que ele disse:

- Depois da palestra, você não gostaria de sair comigo pra beber alguma coisa?

- Adoraria.

E foi assim que, a partir daquele dia não se desgrudaram mais. Nunca mais beberam sozinhos. Bebiam juntos, religiosamente, todos os dias.

Os amigos de ambos ficaram tranquilos, afinal, beber acompanhado não caracteriza alcoolismo.

Eram almas gêmeas... embora, depois de alguns goles, eram almas quadrigêmeas, óctuplas... e assim por diante. Mas acima de tudo, felizes da vida. Estavam vivendo a tal história de amor, ainda que nunca estivessem sóbrios o suficiente para perceber isso.

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