domingo, 18 de julho de 2010
Ninguém manda no meu chopp!
Top 5 – atração fatal
1° molho de tomate e roupa branca – sabe aquela camisa branca, branquíssima, que você quase nunca usa justamente porque só de olhar a bonitinha já suja?! Pois é justamente com ela que você estará vestido no dia que todo mundo propõe almoçar no italiano. Você, democraticamente, aceita, mas já sente as pernas formigarem. Lá, não importa muito o que você peça, pode até ser qualquer coisa com molho branco, o fato é que, do nada, surge um respingo gigante de molho vermelho! Não adianta colocar o guardanapo na gola ou mesmo usar babador, o molho de tomate procura o branco assim como a bússola procura o norte. Inevitável.
2° faca afiada e ponta de dedo – num dia qualquer, como todos os outros, você está na cozinha preparando uma comidinha gostosa. Saca da gaveta uma faca, aleatoriamente. Passa uma, duas, três. Percebe que a coitada está mais cega do que uma toupeira. Então, põe-se a afiá-la com a dedicação de um monje até deixá-la afiada como a mais preciosa faca de um sushiman. De volta ao corte, na primeira passada da afiadíssima faca, adivinha o que você irá acertar em cheio?! Sim, o dedo! Isso explica porquê açougueiros usam aquelas luvas de malha de aço, pois não?!
3° porcelana de estimação e chão – almoço na casa da sogra. Para impressionar (ah, tá!!) ela põe à mesa seu jogo de porcelana inglesa, que ela ganhou de presente de casamento da prima da sobrinha da filha da tia da avó da cunhada da irmã da nora da mãe da sobrinha-neta de uma quase-integrante da nobreza inglesa do século XVIII. Pra ela, as próprias joias da coroa! Claro que, toda vez que as põe à mesa, faz questão de lembrar isso e, evidentemente, de fazer 785 recomendações. Ai, ai, infelizmente, não há recomendação que surta efeito quando, ao tentar ajudar a tirar as louças da mesa para levar à pia, a lei da gravidade mostra-se superior e soberana. Nem as ventosas de um polvo seriam capazes de impedir que uma das peças espatife-se em 8976543 pedacinhos no chão. É a vida!
4° taça de cristal e mão boba – taça de cristal, coisa fina! Em todos os sentidos. Quanto mais fino, mais caro é o cristal. E maiores o risco que se corre ao usá-las e, consequentemente, a probabilidade de que o jogo ficará desfalcado. Mas nada, nada, nada se compara ao tim-tim do cristal, bem como o seu delicado toque nos lábios, por isso, as pessoas ainda insistem
5° panela no fogo e momentos de contemplação – não sei bem qual é a ligação, mas basta colocar uma panela no fogo, parar de mexer, aguardando o cozimento de seja lá o que for, para, sem qualquer explicação, o pensamento voar para longe. De repente, uma simples formiguinha andando pela parede é motivo de contemplação da beleza e grandiosidade da criação divina! Ainda que o contemplador seja ateu, aquele se transforma num momento para, darwinisticamente falando, imaginar de que tipo de criatura a formiga evoluiu. Os pensamentos voam pra longe, longe... e só são chamados de volta quando os bombeiros, acionados pelos vizinhos, arrombam a porta para dar fim ao incêndio iniciado na sua panela!
domingo, 11 de julho de 2010
Um dia de cada vez
Para ele, essa final de Copa do Mundo teve um sabor diferente: o sabor amargo do medo.
Ele era um esperto e habilidoso croupier num grande cassino nas profundezas de um badalado oceano. Embora tivesse certos talentos, era só mais um dentre tantos funcionários. Há cerca de 2 meses sua vida mudou completamente. Um certo dia, um mergulhador chegou àquela profundidade e, sem mais nem menos, capturou o pobre funcionário que, sem chances de defesa, nem teve tempo de se despedir da turma.
Aquele não era seu fim. Depois de tanto tempo trabalhando num cassino ele viu e aprendeu muitas coisas, sabia que tinha uma habilidade especial, tinha intuição aguçada, percebia de longe um espertalhão que tentava levar vantagem na sua roleta. Ele era esperto e usaria isso a seu favor.
O sequestrador era um homem recém-falido que realizava seu último mergulho antes de vender todo seu equipamento para saldar uma ridícula parte de sua imensa dívida junto a to-dos os bancos da Inglaterra.
Em terra firme, o resultado da pescaria seria a panela, mas, enquanto amolava a faca, aquele homem, sem explicação, apiedou-se da pobre criatura e decidiu não jantá-la.
A quase-janta não ignorava uma oportunidade! Decidiu cativar o mergulhador. Olhando ao redor do minúsculo aquário, percebeu que seu sequestrador estava em apuros financeiros então, percebeu que poderia comprar sua permanência no mundo dos vivos. Fez de tudo para chamar a atenção do homem: saltos, piruetas, acrobacias. Finalmente o homem notou algo diferente acontecendo no aquário e passou a observar atentamente o que seu novo amigo fazia. O que era aquilo? Parece que são... sim, são números! 78, 25, 36, 12, 48. Correu, pegou papel e caneta. Entendeu na hora o que estava acontecendo e correu para a casa de apostas mais próxima. No dia seguinte o falido mergulhador era dono de uma das maiores fortunas da Inglaterra.
Mas, quando a pessoa tem talento para o fracasso, ninguém a segura, pois não?! Pois é! Deslumbrado e abestalhado, o homem não se deu conta de que sortudo era seu amiguinho, não ele! Achou que estava numa maré de sorte e resolveu apostar tuuuuuudo que tinha (tudo, tudo mesmo, incluindo a nova casa com tudo dentro, incluindo o aquário e seu conteúdo!) numa daquelas apostas de ‘o dobro ou nada’. Resultado?! Ele ficou com o ‘ou nada’ enquanto o outro apostador ficou com ‘tudo’!
O outro apostador, um velho dono de restaurante de frutos do mar na Alemanha, tomou posse dos novos bens, vendeu tudo, pegou o dinheiro e voltou para casa. Na bagagem, além de muito dinheirinho inglês, levou o aquário e seu morador... achou que daria um bom prato! Mais uma vez o coitado do sequestrado temeu pela sua vida, mas, mais uma vez decidiu que daria seu jeito.
Já na Alemanha, no (macabro) restaurante, num aquário maior, pôs-se a pensar o que faria para preservar sua vida.
Era quase meados de junho e o tal alemão preparava seu restaurante para receber os torcedores da seleção alemã de futebol durante as partidas na Copa do Mundo da África. Sim! Ele percebeu que seu novo dono era fanático por futebol! O futebol salvaria sua vida!
O aquário estava todo enfeitado com bandeiras de todos os países participantes do mundial. Pouco antes do primeiro jogo, usando sua espantosa intuição, começou a apontar a bandeira do país que venceria aquela partida. Demorou um pouco, mas a certa altura, um dos torcedores que assistiam a partida percebeu uma certa histeria no aquário e entendeu o recado! Achou engraçado e chamou os amigos para observar o morador do aquário.
E assim foi, jogo a jogo, placar a placar, acerto a acerto que Paul, o polvo, tornou-se um fenômeno mundial! O grande oráculo da Copa do Mundo. Contrariando especialistas, jornalistas,videntes, gurus e pais de santo, Paul passou a ser 'o' anunciador de resultados. Sim, sim, o medo da morte aguçou sua intuição!
Antes de todos os jogos o alemão, demovido da ideia de papar Paul, colocava o par de bandeiras de cada partida e o polvo dava seu veredicto.
Alguns resultados causaram polêmica e alguns apostavam no fim de Paul – principalmente quando ele anunciou que a Alemanha perderia para a Espanha! Mas após os 90 minutos, bingo! Ele estava certo, mais uma vez.
Hoje, porém, passaram-se os 90 minutos, Paul já sentia o cheirinho da manteiga fritando na panela que receberia as rodelinhas de seus tentáculos. Era seu fim?! Será que o polvo iria errar justamente o último e mais importante jogo do mundial?! Nos 15 minutos do primeiro tempo da prorrogação, Paul já planejava uma fuga espetacular. Quanto tempo sobreviveria fora da água?! Mais 15 minutos, o pobre polvinho já não sentia metade de seus tentáculos, estava tendo um AVC de tanto medo! Já via a luz quando, de repente, um grito de gol. Abriu um de seus olhinhos e mirou a TV: gol da Espanha!! Ainda faltavam 3 minutos para o fim, o alemão ainda mantinha a frigideira no fogo, Paul uniu os 8 tentáculos e rezou fervorosamente pelo fim daquela torturante partida. Fim! Acabou! Espanha campeã.
Mas, mais uma vez, Paul escapou da morte, da panela e da paella. O que será do polvo a partir de amanhã?! O que será de sua história?! Por via das dúvidas, todos os pratos à base de polvo saíram do cardápio do restaurante do alemão.
E assim, Paul, o polvo, vai vivendo... um dia de cada vez. Só não está mais feliz porque sabe que muitos de seus parentes virarão paella. Um minuto de silêncio, por favor...
.....................
Aaaaaah, fiquei feliz pela Espanha! Sempre bom ver a Fúria jogar... melhor ainda vê-la ganhar, né não?!
domingo, 4 de julho de 2010
E a culpa é de quem?!
Sexta-feira, 02 de julho de 2010, 6h30.
Blim-blom, blim-blom, blim-blom-blim-blom,blim-blom!
-Heim? Onde? O que? Por quê? Juro que não fui eu! Oi?! Já tô indo! – saltando da cama, tropeçando no lençol, calçando os pés trocados dos chinelos, vestindo a blusa do pijama.
(na porta)
- Booooooooooooooom dia, vizinho!
- Quem é você?! - esfregando os olhos, achando que aquilo diante dele era uma ramela gigante.
- Ah, brincalhão logo cedo! Maravilha! Posso entrar?! – entrando.
- (...)
- Você deve estar se perguntando o que seu vizinho está fazendo logo cedo na sua casa, não é?! Eu respondo: sorte! Não, não, não precisa pensar... eu explico: hoje tem jogo do Brasil, certo?! Certo. Tá lembrado que assistimos juntos ao último jogo?! Eu, você e mais umas 30 pessoas?
- Lembro, lembro sim, inclusive lembro que convidei as 30 pessoas, também lembro que não convidei você, mas você apareceu mesmo assim!
- Ah, adoooro esse seu senso de humor! Mas, então, como eu ia dizendo, assistimos àquele show de bola da nossa seleção contra o Chile juntos, aqui no seu apartamento. Churrasquinho rolando na varanda, cervejinha gelada, aquela maionese deliciosa que sua namorada fez, depois aquele sorvetinho italiano de sobremesa. Tudo uma delícia!
- Ah, que bom que você gostou! – irônico, claro! – Mas será que você pode encurtar a conversa, ainda gostaria de completar meu ciclo de sono que foi brutalmente interrompido por seu ataque histérico na campainha.
- Ok, serei breve, afinal, temos pouco tempo!
- Temos?!
- Sim! E se você não me interromper mais poderemos terminar logo com isso...
- Bufff...
- É o seguinte, estou aqui pra avisar que você deu sorte à seleção brasileira!! Ganhamos o jogo anterior e temos que repetir a dose pra manter a boa fase até dia 11! Passei aqui logo cedo pra você ter tempo para preparar tudo. Mas, veja bem, tem que ser tudo igualzinho, não pode faltar nada: galera, churrasquinho, cerveja, maionese, sorvetinho italiano... tudo!
- Você só pode estar brincando!
- Não, não estou! Pensa que aqueles caras que estão lá na África, vestindo aquela camisa, defendendo a nossa bandeira, estão dependendo de você, da boa sorte que você proporcionou a eles! Pense nos milhões de brasileiros que você fará feliz permitindo que a seleção canarinho ganhe a Copa do Mundo! O hexa depende de você... - bradando a plenos pulmões, com a mão direita sobre o coração, fazeno do sofá o seu palanque.
- Ma...ma...mas... são tantas coisas, não estava preparado pra isso, não tem nada em casa... eu ia assistir num restaurante! – note-se que o tal vizinho tocou o coração desse pobre inocente que já está zonzo pensando nos preparativos do dia da marmota!
- Por isso que eu vim tão cedo!! Meu querido, eu teria o maior prazer do mundo em ajudá-lo, afinal, também sou brasileiro, honro a minha pátria e daria minha vida por ela, maaaaaaaaaaaas, infelizmente, no último jogo, não toquei em nada, não movi uma palha, nem sequer abanei a brasa da churrasqueira, portanto, não posso alterar a energia daquele dia! Mas, estarei em casa, torcendo pra que você consiga preparar tudo a tempo – saindo - Volto aqui às 11h em ponto, como da última vez. Não decepcione todos aqueles que creem na seleção...
As horas seguintes foram de pânico total. Nunca se organizou uma reunião de amigos tão rápido! E não era qualquer reunião, era, praticamente, uma fiel reprodução do que acontecera na sexta-feira anterior. Exceto...
- Gol da Holanda?! Outro?! Puuuuuuuuuuutz... já era!
- Não, não, não pode ser! Eu fiz tudo igualzinho! Olha, gente, tá tudo aqui: churrasco, cerveja, sorvete italiano... Tudo igual, perfeito!
- Nem tudo – disse o vizinho, fria e condenadoramente - Cadê a maionese da sua namorada?!
- A maionese?! É que... que...
- Que, que, o quê?! Anda, fala, responde!
- É que a gente terminou no fim de semana e por isso ela não veio e não trouxe a maionese... – em prantos, não se sabe se pelo fim do namoro, pela ausência da maionese ou pela eliminação da seleção brasileira.
- EGOÍSTA! Você colocou sua vida pessoal na frente de milhões de brasileiros?! Vamos embora, pessoal, vamos pra algum bar, beber pra esquecer que existe gente tão mesquinha no mundo... alguém paga pra mim? Tô durão.
E até agora estamos sem saber se aquele gol contra do Felipe Melo, aquele que causou o apagão na seleção canarinho, foi mesmo culpa da ausência da maionese ou se foi juquice mesmo. O fato é que a Copa da África, pro Brasil, acabou. O lado bom (e hilário!) é que pra Argentina também kkkkkkk! E agora: Espanha ou Alemanha?!