domingo, 15 de janeiro de 2012

Temporada Ouro Preto: O Sótão (pra não dizer que não avisei!)



Viagem não é viagem de verdade se não tiver aquele episódio que, depois que passa, faz a gente rir copiosamente da mega roubada que se meteu, certo?! Pois em Ouro Preto não poderia ser diferente. Aliás, a diferença é que a gente identificou a roubada já nos primeiros minutos e já choramos de rir lá mesmo!

O motivo foi O Sótão, um aparentemente inofensivo restaurante localizado na Rua Direita, 124. Era noite e entramos lá porque o grupo era imenso e não cabia n'O Passo sem que fosse feita reserva. Na estreita portinha d'O Sótão, um hotness (um ser estranhíssimo que lembrava o Raul Seixas) angariava pretensos comensais que subiam ou desciam a ladeira. Como começava a chover, a fome do pessoal começava a apertar e a preguiça depois de um dia cheio falava mais alto, resolvemos entrar.

Passando a porta, um salão vazio e ao fundo uma escada caracol que nos levaria ao sótão propriamente dito. O primeiro constrasenso do local, considerando que o tal sótão era apertado e tinha teto baixo, ou seja: por que diabos, então, não ocupavam a parte de baixo do local???? É a fidelidade ao conceito da casa em detrimento do conforto dos frequentadores, pois não?!

No salão, diversas mesas espremem-se numa arrumação aleatória. Como a turma recém-chegada era composta por cerca de 30 pessoas, a solução foi fazer um arrranjo esquisitíssimo em "L" nas mesas. Layout torcicolo! Aliás, o dono da casa que nos atendia não media esforços para que não desistíssemos de permanecer no local. Elencava num entusiasmo de fazer inveja a qualquer recreador infantil, todas as atraões da casa. Dentre as vantagens incomparáveis que a casa oferecia, o Biafra (sim, o rapaz era a cópia perfeita do Biafra!!!) nos apresentou, orgulhosamente, o launge com vista para a cidade: na verdade uma varandica bem da sem vergonha, com algumas cadeiras quebradas encostadas e com vista para o varal de calcinhas da casa vizinha!! Preferimos nos referir ao espaço como "longe"!!!

Outra atração da casa? Sim, claro que havia! Música ao vivo. Oh, Gosh! Não demos sorte. Na nossa noite, um senhorzinho (em estágio avançado de depressão) dedilhava tristemente seu violão e arranhava as mais enfadonhas letras da MPB... foi o set mais triste que já ouvi na minha vida! Mas, se a trilha sonora era tristonha, a animação do Biafra cantando o cardápio fazia o contraste necessário para manter o nível de gargalhadas da noite.

Depois de mil quinhentos e vinte e cinco milhões de negociações e rearranjos... finalmente combinou-se que o grupo seria servido pelo rodízio de panquecas, ganharia caipirinhas e seria servido de tudo o mais que se pedisse. Devo confessar: não comi as panquecas, mas pessoas de minha confiança comeram e disseram que eram deliciosas!! Primeiro (e único) ponto positivo.

O próprio Biafra estava servindo nossa mesa e a cada nova panqueca, uma nova rodada de falatório. Numa dessas, ele aproveitou para revelar que além de tudo, ainda fazia balas de coco caseiras (sabem aquela que tem que ficar puxando, puxando, batendo, puxando e batendo e puxando? então, essas mesmas!) e, claro, aproveitou a deixa para vendê-las, sob ameaças de que só as fazia uma vez por semana e aquele era nosso dia de sorte!!! Ah, vá!

Tudo ia (na medida da boa vontade) bem, até que a chuva apertou lá fora e, quando pensa que não, ping-ping-ping... uma goteira bem no meu copo de cerveja!!!!!!!! probleminha prontamente solucionado pelo Biafra, que colocou uma cumbuca na mira da goteira!! Que graça.

Quando achávamos que não falava mais naaaaada acontecer... eis que começam as rodadas de idas ao banheiro! Cada um que de lá voltava, vinha com a cara mais de espanto do que a outra. Fui até lá conferir. Para começar, o tal banheiro ficava exatamente ao lado da cozinha que na verdade não tinha paredes, funcionando como uma cozinha americana com balcão. Opa! Cadê a Vigilância Sanitária de Ouro Preto, gentê?! Ao entrar, o segundo choque: o vaso sanitário ficava embaixo de uma escada, para mirá-lo, era preciso, no caso das meninas, um duplo malabarismo, afinal, além de esforçar-se para não sentar no suspeitíssimo vaso, ainda era preciso fazê-lo num ângulo agudo (negativo), contrariando a Lei da Gravidade. O papel higiênico? Sim, sim... vários rolos, váááários deles... todos numa graaaaande bacia em frente ao vaso, todos começados... sendo, de sua livre opção, a escolha de qual deles usar! Bi-zar-ro!

No fim, depois que todos estavam satisfeitos: a conta. Estraaaaanha. Os bons de conta do grupo encarregaram das complexas operações, mas, dias depois ainda falava-se da tal conta que deixou todos muito intrigados quanto às operações que resultaram num total que ficou meio suspeito, viu?! Estão avisados.

Enfim, o Sótão foi, sem dúvida, a experiência mais bizarra da temporada em Ouro Preto. De acordo com relatos, a comida é boa, mas, em contrapartida, tem todo o resto. Assim, visitando Ouro Preto, é de sua livre escolha a entrada nesse mundo esquisito... depois não digam que não avisei!

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Bom, termina aqui a temporada Ouro Preto, a partir do próximo domingo, volto às bobagens variadas das cozinhas da vida!

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