quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Lembranças do Rio...

Geralmente, quem visita o Rio de Janeiro pela primeira vez traz consigo boas lembranças de lindas paisagens, do céu azul e ensolarado, do Cristo Redentor, do Pão-de-Açúcar. Eu não. Fui ao Rio pela primeira vez em 1986, era bem criancinha, e, ao contrário da maioria, guardo dolorosas lembranças de lá. Assalto? Tiroteio? Bala perdida? Nada! Nesse tempo nem existiam bandidos no Rio de Janeiro. Meu trauma fica por conta da comida!!
Quem já passou dos 20 e poucos anos deve se lembrar que nessa época a economia ia muito, muito, muito mal das pernas: inflação galopante, congelamento de preços (quem aí foi fiscal do Sarney?!!!) e racionamento de alimentos. Carne e leite viraram artigo de luxo disputado a tapa em portas de açougues e padarias às 5 horas da manhã. Mas, até mesmo em tempos difíceis, as pessoas precisam de um pouco de diversão. E vamos nós viajar, ficar longe de casa, longe da cozinha de casa, longe do açougue confiável de perto de casa!
Cidade maravilhosa, solão de dezembro, passeando o dia todo, a uma certa altura do dia, os turistas, que também são gente, têm de parar para recarregar as baterias. Lógico que, como já devem supor, Mc Donald’s não era opção. Paramos numa lanchonete (...que as lanchonetes não me ouçam...) e papi fez o pedido pra toda a família: “X salada pra todo mundo!”. “Ueba!”, gritou meu estômago nesse instante, obviamente, antes de ver do que se tratava. Quando o pedido chegou, a cara do pseudo-x-pseudo-salada já não era nada boa: pão-francês murcho da primeira fornada do dia (era tardezinha, quase noite), uma folha de alface (que sabe Deus se viu água antes de ir parar ali) e um “bife” solado-esturricado fazendo as vezes de hambúrguer. Opa! Bife em pleno racionamento de carne?! Fé!
Primeira mordida. Além de amolecer meu dente-de-leite, já pude sentir que tinha algo de muito estranho e diferente com aquela carne. Olhei pra minha mãe com lágrimas nos olhos e sem dizer uma palavra, implorei para não ter de comer aquele alien até o fim. Com meu pai por perto?! Nem pensar. Comi. Comi. Comi. Entre uma mordida e outra, respirava fundo e pedia ao Cristo Redentor misericórdia e uma boa digestão. Nem uma, nem outra.
Até hoje, passados mais de vinte anos, fico me perguntando: carne de que bicho era aquela? Cachorro? Gato? Cavalo? Impossível dizer. Acredito que o “x” não se referia ao “cheese”, mas, assim como na matemática, indicava a incógnita a ser descoberta. Qual a origem de “x”? Não sei. Não há cálculo capaz de responder. Só sei que o gosto está até hoje na minha lembrança e acho até que ainda estou digerindo o tal bife. Lembranças do Rio que me marcaram pra sempre...

Um comentário:

Lílian disse...

Oh, fiquei com dó!