domingo, 9 de novembro de 2008

Pescaria em goela alheia!


Um dia como os outros. Um almoço como os outros. Uma garfada depois, levanto-me da mesa num pulo. Olhos arregalados. Respiração ofegante. Dor. Estava morrendo engasgada. Já podia ver a luz. Eu era uma menininha de uns 6 ou 7 anos. Tão jovenzinha pra deixar esse mundo.

Mas minha mãe não ia se render sem lutar por sua cria, num rompante de heroísmo materno, deu-me um tapão nas costas* - pra agilizar o processo?!... não! ela achou que o caso fosse de engasgo puro e simples - posta a garfada pra fora, percebi que ainda havia um gato com as unhas grudadas em minha garganta. Como o prato do dia não era gato**, minha mãe chegou ao diagnóstico: uma espinha de peixe atravessara minha goela.

Minha família é toda punk. Pratica o lema do-it-yourself em toda e qualquer situação da vida. Salvamentos não ficam de fora dessa lista! Minha mãe não é exatamente um exemplo de sangue frio, é daquele tipo que fica mais em pânico do que a vítima, mas algo precisava ser feito. Jogou minha cabeça pra trás (...se não morresse pela espinha enroscada na garganta, morreria com a minha própria espinha quebrada ao meio!) e meteu a mão na minha boca. Ia arrancar o osso do peixe na unha! Mãe é mãe, heim?!

O ato foi bonito, no entanto, pouco eficiente. Havia um problema de proporção: a manopla de uma mulher adulta na boquinha de uma criancinha pequenininha. Mas minha mãe é taurina, teimosa que só vendo, e cismou que ia conseguir!! Eu que sofra, portanto.

Muito, muito, muito tempo depois, deseperada, ela se deu conta que se tratava de uma luta inglória com as leis da física. Solução: "Chama a vizinha e pede pra ela trazer a pinça!". E lá se foi minha irmã, em desabalada carreira, chamar a salvadora!

E eu ali, de goela pro alto, maldizendo todo e qualquer ser que tivesse espinha... no calor da fúria, até as rosas entraram na minha lista, só mesmo os moluscos e anelídeos se salvavam nesse momento! Chega, então, a vizinha. Agora, ao invés de uma, eram duas enfiando o braço na minha garganta, além é claro da pinça de sobrancelhas!!

Se fosse um pirarucu selvagem, vivo, já teria se entregado, mas aquela espinha lutou o quanto pôde. A essa altura, já acreditava que nunca mais conseguiria fechar a boca. A pinça e o olhar de lince da vizinha, porém, eram dupla invencível! Venceram! Ufa! A espinha devia ter uns 15 centímetros, tamanha foi a dificuldade de tirá-lo da minha campainha. Sobrevivi. O salvamento saiu baratinho, custou o preço de uma pincinha de sobrancelhas.

Não preciso nem dizer que fiquei com um trauma lascado de peixe, né?! Depois desse episódio não queria mais correr o risco. O único peixe que comia era atum: em lata!

Anos e anos depois, já quase não me lembrava do acidente de outrora, resolvi comer um peixinho tão apetitoso que minha mãe fizera. Adivinha! A única espinhazinha que sobrou foi parar na minha garganta!!! Algumas pessoas atraem sorte, outras dinheiro, há quem atraia olhares... eu atraio espinhas de peixe! Bacana, né?! Hoje, sabendo dessa minha incrível habilidade, não me arrisco, só como os seguríssimos sashimis!!



PS: Hoje ia escrever sobre outra coisa, mas, logo cedinho, lendo o blog do Daniel, lembrei-me desse causo. Ia narrá-lo por lá mesmo, nos comentários, mas começou a ficar grande demais, resolvi, então, contá-lo aqui. Portanto, para ler desgraça semelhante, não deixem de dar uma passadinha por lá: www.cheriaparis.blogspot.com . É de chorar de rir... desculpa, Daniel... hehehehehe


*meus pulmões funcionam estranhamente até hoje!

**Deus do céu... não seríamos capazes disso, nunca, que fique claro! Amo os gatitos mais do que tudo na vida.

Um comentário:

Chéri disse...

Fazemos parte de um grupo de privilegiados: os que sobreviveram a espinhas de peixes na garganta. :)
E olha que, antes desses episódios, eu não comia peixe de jeito nenhum. Nem peixe e nem ervilha (sabe-se lá porquê).
Beijos!