domingo, 28 de novembro de 2010

O último pedaço

- Simplesmente delicioso! - eis a ideia que domina o pensamento de todos na festa.

Isso porque, de fato, o bolo, generosamente, distribuído entre os convidados, materializava a perfeição. A combinação de sabores, as texturas, o aroma, a leveza, tudo estava em perfeito equilíbrio.

Um bolo que ninguém ali poderia esquecer. Um bolo memorável. Um bolo que fez valer a quebra da dieta. Um bolo para contar para os amigos. Um bolo para... repetir!

- Preciso de mais um pedaço! - eis a ideia imediatamente posterior à conclusão de que aquele era o bolo mais perfeito que já fora provado.

Ninguém mais conversa. Todos na festa estão absortos. Na verdade, um único pensamento está na mente de todos, uma ideia fixa: comer mais um pedaço daquela delícia.

Ao fundo, a música toca solitária. Embora a mesa do bolo esteja um pouco distante, ninguém se mexe. Ninguém caminha em sua direção. Todos estão paralisados. Se o pensamento de cada um fosse verbalizado ao mesmo tempo, em uníssino, ouvir-se-ia: 'Preciso de mais um pedaço!'.

Numa fração de segundo, porém, todos se dão conta de que o pedaço que receberam havia sido enorme, portanto, depois de servir toda aquela gente, não restaria muito mais para uma repetição. Se (se) houver algum pedaço ainda.

Num sincronismo perfeito, todos os olhares voltaram-se para a mesa do bolo. Lá estava ele, solitário, sentindo-se, até então, despresado, largado, abandonado: o último pedaço de bolo. Mal poderia imaginar que passou a ser, naquele preciso momento, o mais cobiçado de todos.

A boa educação, todavia, ainda se fazia presente e, por mais que quisessem avançar naquele inocente pedaço de bolo tal qual animais famintos e vorazes, todos permaneciam imóveis. Sabiam, no fundo, que o mínimo movimento de um desencaderiaria a imediata reação de todos os outros.

Por alguns instantes podia-se ouvir os acelerados corações, o brotar da saliva, a adrenalina. Mas era só, pois ninguém se movia. Ninguém nem ao menos se entreolhava. Havia uma única direção para todos os olhares: o último pedaço de bolo.

De repente, vinda de onde ninguém viu, a mais veloz mão de que se tem notícia, num movimento único, rápido, preciso lança uma tupperware sobre a fatia de bolo e, antes mesmo que qualquer um pudesse processar o que estava acontecendo, percebendo o olhar de todos, a senhorinha diz:

- Vou levar esse restinho pra minha cachorrinha que adora um docinho!

Ninguém acreditou. Era óbvio que aquela velha comeria, escondida de todos, o último pedaço de bolo da festa.

*

Não sei quanto a vocês, mas na minha opinião, o último pedaço é sempre o mais gostoso de todos!


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