segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Em tratamento


Ela tinha 20 e poucos anos, mas desde os 16 trabalhava no Mc Donalds. Era seu primeiro emprego. Sabe aquele momento da vida quando você quer ter seu dinheirinho para comprar seus alfinetes, não quer mais depender de mesada, pois já se acha dono do próprio nariz, sabe quando? Foi nesse momento que ela decidiu ir à luta em busca de um emprego.

Claro que vislumbrou algo descolado, moderninho, um emprego que tivesse a ver com seu estilo de vida. Começou, claro, pelos lugares que gostava de frequentar. Teve de excluir o casa que frequentava nas madrugadas dos fins de semana, afinal, usava identidade falsa... bufff... ela adoraria trabalhar onde se divertia. Também teve de excluir sua loja favorita, o salário que ela ganharia não pagava nem a fivela de um cinto. Coisa chata! E assim foi até chegar ao único lugar que restou em sua lista: o Mc Donalds.

A princípio achou a ideia simplesmente ge-ni-al. Imagina só passar o dia todo sentindo aquele cheirinho de hambúrguer e batata frita!! Depois de quatro semanas, já não achava tãããão genial assim. Não aguentava mais sentir aquele fedor de gordura saturada o dia todo no seu nariz. Um horror! Decidiu sair.

Seu pai, no entanto, sujeito daqueles rigorosos cuja lei é uma só, ponto final, na outra linha, parágrafo, achou a ideia de sua principal fonte de gastos ganhar seu prórpio dinheiro simplesmente fas-ci-nan-te! Mais fascinante ainda foi cancelar os cartões da menina como forma de fechar aquela torneira aberta. Quando a pimpolha disse que não aguentava mais e, por isso, iria sair, ele foi firme e disse 'uma vez no mercado, sempre no mercado!'. Bobagem... não colou, mas ela se convenceu quando ele disse que se ela não trabalhasse não veria o dinheiro dele. Bem convincente.

Diante dos argumentos do papi, ela achou que encarar o gordurê não era tão mal negócio. Com o tempo, aliás, o gordurê virou o menor de seus problemas, afinal, passados meses, seu olfato já se habituara. Triste mesmo era o trabalho mecânico, as falas decoradas... aaaaahh, as falas decoradas. Passados 6 anos isso tornara-se um problema dos grandes.

Já graduada, convidada para ser trainee em uma grande empresa, disse... não! Depois de um certo tempo, ela não queria mais sair do Mc. Achava que não conseguiria viver sem aquele cheiro, o trabalho mecânico e as falas decoradas. Viciou!

Ela chegou num ponto tão crítico que se recusava a tirar suas folgas. Vendeu todas as férias dos últimos anos... e nem era por dinheiro! A única folga que tirou, adivinha aonde ela foi? Ao Mc Donalds! Pior, não se conteve em ser mera cliente e, passados 5 minutos, já estava anotando os pedidos na fila. Foi tirada à força da loja por um segurança.

Depois desse episódio, o pai teve de intervir. Procurou ajuda e encontrou um grupo de apoio para ex-funcionários dos Mc Donalds. Frequentou algumas reuniões e convenceu sua filha a assistir algumas reuniões.

Passados 2 anos de encontros diários, ela finalmente parecia estar curada. Chegou a ir ao Burguer King no último fim de semana! A coordenadora do grupo então achou que já era tempo de liberá-la para uma vida normal:

- Hoje é um dia muito especial para nossa companheira. Depois de 2 anos, hoje, finalmente posso dizer, minha querida, você está curada. Pronta para levar uma vida normal, espontânea, livre!

(aplausos de todos)

Ela, comovida, apenas acenou em agradecimento. Emocionadíssima, levantou-se e foi à mesa pegar um copinho de qualquer coisa para se acalmar.

- Vou pegar um refrigerante, quer alguma coisa? - perguntou à sua companheira da direita.

- Quero sim, por favor: um refrierante pequeno.

- Batata frita acompanha? Refrigerante grande por mais 25 centavos?

E foi assim que a coordenadora suspendeu a alta da pobrezinha que continua seu tratamento até hoje até não sabe quando.

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