segunda-feira, 13 de junho de 2011

A divisão meninas e meninos




Quando eu era criança (há pouquíssimo tempo atrás) as semanas que antecediam as férias do meio do ano, coincidindo com as festas juninas, eram uma época de festa! Além de merenda temática, com muita canjica, arroz doce e curau, aconteciam também as festinhas particulares, reservadas às turmas da sala e é disso que eu quero falar.


Não sei como as coisas funcionam hoje, não tive a oportunidade de me interar com as mamães de plantão, mas antigamente... digo, digo, há pouco tempo atrás, no meu tempo de criança no primário (não é mais primário, né?! Leia-se: no meu tempo de ensino fundamental I), a professora dividia a sala da seguinte forma: as meninas trazem um pratinho e os meninos um refrigerante.


Divisão muito prática, mas pouco justa. Vejamos porquê.


Desde aquele tempo essa organização me deixava meio encafifada. O raciocínio era 9e continua sendo) o seguinte: crianças não podem cozinhar, logo, bolos, brigadeiros, beijinhos, tortas, coxinhas, quibinhos e afins deveriam ser preparados por um adulto e não, nunca, jamais pelas criancinhas. Seguindo por esse caminho, fica fácil concluir que quem prepararia os quitutes que forrariam os pratinhos que seriam levados às badaladas festinhas de sala era quem? Quem? Quem? As respectivas mamães das menininhas! Assim sendo, a pergunta que sempre me intrigou é: meninos não têm mamães?!


Por que raios as mamães de meninos eram poupadas do forno e/ou fogão às vésperas das festinhas?! Não que ir para a cozinha seja um sacrifício... embora para algumas pessoas seja, mas creio que, de maneira equânime, há mamães de meninas e mamães de meninos que gostam de cozinhar, assim como há aquelas que não tem a mínima alegria e frequentar a morada do fogão e geladeira!


Naquela época não tinha o escopo necessário para formular hipóteses. Hoje, no entanto, arrisco três:


1) meninos, arteiros que só vendo, a caminho da escola, equilibrando os quitutes sobre os pratinhos, sentiriam incontroláveis impulsos para fazer ‘GUERRAAAA DE COMIIIIIDA’, entendendo a comidinha como munição, a festa correria sérios riscos de fracasso por falta de belisquetes. Sabendo disso, as professoras optavam por não alimentar a natureza bélica dos anjinhos;


2) meninos, arteiros que só vendo, consumiriam todo o tempo disponível das mamães que passariam suas tardes a ralhar com os diabinhos, não lhes restando tempo hábil para encarar o fogão. Sabendo disso, as professoras, compadecidas das mamães davam-lhes um desconto, poupando-as do fogão;


3) meninos, arteiros que só vendo, comilões que só vendo, engraçadinhos que só vendo não segurariam suas mãozinhas e beliscariam os quitutes por todos o caminho até a escola, chegando lá apenas os pratinhos vazios e a gracinha: 'a senhora mandou a gente trazer um pratinho... eu trouxe!'. Sabendo disso, as professoras, que poderiam não estar de tãããão bom humor assim, preferiam se poupar da fadiga desnecessária.


Deixei escapar alguma coisa?! O que mais explicaria o fato de mamães de meninos não poderem exibir seus dotes culinários para os amiguinhos de seus filhotes? Sim, porque, se por um lado as mamães de meninas precisam cozinhar (ou não, no caso daquelas que se abastecem numa padoca próxima de casa), as de meninos são privadas dessa atividade!


Durante anos essa prática abusiva vem cerceando o direito de mães de meninos provar que são sim boas de forno e fogão, ficando limitadas às impessoais e insossas garrafas de refrigerante!


E hoje em dia com mamães que trabalham fora? Todo mundo leva refrigerante?! Ou, ainda assim, meninas compram pratinhos e meninos compram refrigerante? A coisa vai ficando cada vez mais complicada, gentê!

Um comentário:

Ricardo disse...

Bom, a terceira hipótese eu já presenciei. Era época de festa junina e na classe nós fazíamos pratos de salgados ou doces para vender para os outros alunos e arrecadar dinheiro. E um dos meus amigos não aguentou ficar com o prato de rocambole de presunto e queijo em baixo da carteira e... Comeu tudo!
Mas eu tb nunca entendi essa forma de divisão. Se na classe tivesse muita menina, ia sobrar comida e faltar bebida, ou vice-versa. Seria mais lógico usar "números pares-bebida e números ímpares-comida"