Nem tão exótico assim!
Último dia das Olimpíadas de Pequim. Ante um desempenho quase constrangedor da delegação brasileira, salvo por alguns heróis e heroínas que pela raça (...e não pela grana!), com ou sem medalhas, mostraram o valor e a dimensão do espírito olímpico. Com horários que só as corujas se sentiram à vontade pra asssistir às exibições ao vivo, as emissoras se esmeraram em produzir resportagens e mais reportagens sobre o país sede, explorando até o último espetinho de escorpião os hábitos alimentares exóticos dos chineses.
Ficamos praticamente experts em culinária chinesa, pois não?! Pois é... a cada reportagem gastronômica, arrepios, gritinhos de "urgh!" e loopings estomacais. Aposto que muitos ficaram a se perguntar: "Como, como, Santo Deus, alguém é capaz de comer escorpiões, insetos, cachorros, pirocas de animais, caldo disso, caldo daquilo... como?!". A resporta é fácil: cultura. Mais do que qualquer costume, os hábitos alimentares são a mais genuína expressão cultural de um povo, com suas tradições e influências. Ainda que achemos esquisitíssimo alguém comer seres que por aqui matamos com rodox, é necessário que façamos uma forcinha extra para respeitar o cardápio chinês, afinal, pra outros povos, nossa alimentação também pode soar como algo absurdo. Imaginem a reação de um indiano ao ver cenas de uma típica churrascada brasileira!! A faca deslizando pela carne macia de uma vaquinha tostada, suculenta, crocante e... sagrada!! Além de ter engulhos, eles devem praguejar até a última geração dos profanos churrasqueiros .
Justiça seja feita: entre nós, brasileiros, também podemos encontrar hábitos alimentares esquisitíssimos. Pra mim, o mais absurdo deles é, sem dúvida, o hábito de comer feijão*! Como isso é possível?! Um escorpiãozinho aqui, outro ali, eu até entendo, mas fei-jão?! E pior, todos os dias!! Não como. Só de imaginar aquele caldo grosso, amarronzado, com umas bolotinhas boiando... tenho arrepios. Mas há quem goste e gosto, como se sabe, não se discute.
Nem os santos escapam dessa. São Longuinho, por exemplo. Reza a lenda que esse santo se alimenta, vejam só, dos pulinhos que damos em pagamento por ele ter encontrado o que perdemos. Quer coisa mais exótica do que isso?! Dia desses, perdi meu celular. Na hora do desespero, quando dei por mim, já havia prometido mil pulinhos para São Longuinho, caso ele encontrasse meu bebezinho. E não é que ele encontrou?! Minhas pernas viram um mingau ao fim da promessa e São Longuinho deve ter ficado de barriguinha cheia!! Aliás, se sua dieta regular recomenda três pulinhos, meus mil devem ter causado um estrago na silhueta dele. Deve estar fazendo abdominais até agora!!
Exótico ou trivial, o importante mesmo é ter comida no prato ou, se for o caso, pulinhos na conta! Vamos nos despedindo da China, com uma certa indigestão causada, não pelas comidas extravagantes, mas por americanos e argentinos, isso sim foi difícil de engolir. Perto do caldo no vôlei masculino de quadra e da lavada no futebol masculino**, comer gafanhotos nem parece assim tão ruim. Mas, por outro lado, tivemos sobremesas excelentes: César Cielo, Maurren Maggi, as meninas do vôlei e a galera prateada e bronzeada! Serviu pra tirar os gosto ruim da boca, não?! Vejamos o que o cardápio de Londres nos reserva.
*refiro-me especialmente ao feijão carioquinha de todos os dias.
**...as meninas, a gente perdoa, afinal, com a ausência total de incentivos, somente o fato de termos uma seleção feminina de futebol já vale por muitas medalhas...
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