domingo, 16 de agosto de 2009

Por acaso ou por destino, como queiram...


Todos os dias, na hora do almoço, era aquele restaurante que ele escolhia. Não era o mais sofisticado, nem o mais aconchegante, nem mesmo era acolhedor, o preço não era bom e a comida era ruim, mas, religiosamente, todo santo dia, lá estava ele.

Entrou ali pela primeira vez por acaso, ou por destino, como queiram. Estava em mais uma das tentativas de parar de fumar e numa crise incontrolável de abstinência entrou na primeira porta que viu para comprar cigarros. Foi quando se deparou com ela.

Uma garçonete de rosto comum, corpo comum, gestos comuns que, naquele momento, não se sabe se por conta da abstinência de nicotina, era a mais linda das criaturas que ele já tinha visto. Amor à primeira vista.

Ao invés do cigarro, sentou-se numa mesa e pediu que ela lhe trouxesse uma água:

- com ou sem gás?!

Seu coração quase saltou pela boca. Era tímido de doer:

- s...s...sem.

Uau! Nunca, num primeiro encontro, uma conversa havia fluído tão rápido, tão bem! Só podia ser um sinal! Decidido a conquistá-la, ia voltar lá todos os dias... mesmo ficando esse restaurante a cinco quadras de seu escritório, mesmo sendo caro, feio e tendo cadeiras tão, tão desconfortáveis, afinal, Ela estava ali... e era tão delicada, gentil, atenciosa.

Na hora do almoço, no dia seguinte, fez seu prato no buffet e sentou-se na mesma mesa do dia anterior. Queria cultivar a memória visual de sua amada. Depois de duas garfadas, sem sentir o gosto da comida, não se sabe se pelo nervosismo, pelo amor ou pela falta de gosto da própria comida, levantou o braço trêmulo para chamar sua amada. Estava decidido a puxar conversa:


- pois não?!

- s...s...sal!


Sal! Foi a palavra mais curta que achou naquele momento. Naquele e em todos os próximos. Todos os dias ele a chamava e pedia sal. E foi assim por meses e meses e meses.

A dona do restaurante, que observava a cena todos os dias, sacou que o caso não era exatamente de sal, chamou sua funcionária e deu a dica:


- você ainda não notou?! Esse cliente vem aqui todos os dias e pede sal pra você! Ele fica tão nervoso que só pode estar afim de você, sua boba!
- ele não faz meu tipo.
- ah, mas até que ele é bonitinho, apesar de ser tímido de dar dó...
- sim, sim, mas não é isso que me incomoda nele...
- é o quê, então?
- prefiro caras doces...


Gosto não se discute!
Depois de dez meses, de uma hora para outra, ele não apareceu mais no restaurante. Soube-se depois que estava tratando de problemas renais e da pressão alta: excesso de sal na alimentação. Quem contou foi a enfermeira do hospital vizinho ao restaurante. Enfermeira que por acaso, ou por destino, como queiram, estava saindo com ele.

4 comentários:

Chéri disse...

Muito boa!

Beijocas, moça.

Regis disse...

ando tendo problemas com sal também!!!

Unknown disse...

kkkkkkkkk
muito bom

Unknown disse...

Obrigada, Daniel! Não tão boa quanto as suas! hehehe
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Miguelito, Miguelito, Miguelito!!
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Bianca, kkkkkkkk, obrigada!! hehehe
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Bjs!