domingo, 14 de fevereiro de 2010

Era uma vez... (explicando o século XXI)

- Era uma vez, num reino muito rico e populoso, uma princesinha que adorava bolinho de chuva. Era uma paixão alucinada, uma fascinação inexplicável. Sempre que lhe perguntavam qual era seu prato favorito ela logo dizia, sem pestanejar ‘um prato cheio de bolinhos de chuva’. Em vão, as pessoas, fossem outros reis, rainhas, conselheiros, ministros ou rudes plebeus, tentavam explicar à pequenina que bolinho de chuva não era comida, que era apenas um belisquetezinho, um lanchinho. Aos argumentos desse tipo ela tinha a resposta na pontinha da língua real: ‘se eu como é porque é comida!’... o que não deixa de ter lá sua razão!! Engraçadinho ou não o fato é que a garotinha só queria saber dos tais bolinhos... todos os dias, fosse no café da manhã, almoço, lanche da tarde ou jantar. Bolinhos de chuva tornaram-se seu néctar dos deuses, seu elixir da alegria. E a pobrezinha (modo de falar) rainha mãe já beirava o desespero, afinal, como pode uma pessoa viver só de bolinhos de chuva? A fixação começou numa tarde chuvosa no reino, quando, pela primeira vez, a mãe resolveu encomendar da cozinheira do palácio a tal iguaria para servir a sua filhinha. Foi amor à primeira mordia. Dali em diante, todos os dias, a garotinha suplicava com lágrimas nos olhos para que os bolinhos fossem feitos. A dona rainha tentava resistir ao máximo, mas acabava cedendo com o coração apertado. Algumas semanas se passaram, então a mãe teve a brilhante ideia de pedir uma ideia à anciã do reino, uma velha senhora que tinha fama de curandeira, meio bruxa, cheia de sabedoria e autora dos melhores conselhos de que se tinha notícia. Escondida de todos, foi à vila mais distante do reino, onde a velha morava, e consultou-se com ela. No dia seguinte, ao raiar do dia, a menininha, ao despertar, gritou para que as criadas trouxessem seus bolinhos, mas, ao invés deles, entrou, nos braços da rainha mãe, um prato de frutas. Depois que a princesinha da mamãe gritou, esbravejou, rosnou e chorou, a mãe lhe disse que não serviria mais os tais bolinhos. Aos gritos a menina perguntava o porquê de tamanho castigo, então ela repetiu o conselho da velha senhora: “porque só se pode comer bolinhos de chuva em dias de chuva” e saiu do quarto, deixando a bandeja de frutas. A menininha enfureceu-se. Não tocou nas frutas, nem mesmo quando seu pequeno estômago real grudara nas costinhas reais, então, quieta, encolhida na cama, desejou com todas suas forças que daquele dia em diante chovesse todos os dias. Desejou com tanta paixão que assim aconteceu. Daquele dia em diante, chuvas torrenciais desabaram sobre o reino e também desabou o tal argumento da mãe que teve de continuar servindo os tais bolinhos à filha...


- Então quer dizer que essa é sua explicação para tanta chuva em São Paulo, mãe?!


- Você tem uma melhor?!


-Não! ...mas... então me diz: por que parou de chover nesses últimos dias?!


- A princesinha empapuçou! Não aguenta mais ver bolinhos de chuva na frente! Agora vai dormir menino, porque amanhã você tem aula cedo!


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Minha sugestão para tentar explicar para crianças esse fenômeno climático inexplicável que se sucedeu nos últimos dias em alguns estados do Brasil!! Um toque de doçura ao aquecimento global!


Um comentário:

Silvestre Gavinha disse...

Fabi maravilhosa, amei o conto da princesa dos bolinhos de chuva.
Você é uma bruxa e tanto.
Uma bruxa cheia de feitiços deliciosos.
E mesmo com quase meio século, nunca resisto a um conto de fadas e bruxas.
Beijo krida
Marie