domingo, 18 de setembro de 2011

História de um provérbio





Tão típico quanto seu nome, Rex era o típico cachorro de apartamento. Ganhado ainda filhotinho nunca conheceu outra vida que não aquela.



Seus primeiros passos foram dados no laminado de madeira, seu primeiro pipi foi feito na lateral da poltrona do seu dono, sua primeira bronca - por causa do pipi - foi um borrifo de água no focinho. Tudo ali, naquele apartamento.



O casal, seus donos, tratavam o pequeno Golden Retriever como um filho. Paparicado com todos os paparicos possíveis e alimentado com as melhores rações. Ah, sim, sua alimentação era à base de ração, como deve ser, a única exceção era seu petisco favorito no mundo: linguiça!



Os donos sabiam bem que aquilo não era o mais correto a fazer, mas como resistir àqueles olhos pidões e àquele rabicó alucinado quando via um pacote de linguiça?! Eles faziam de tudo, mas quando aparecia um comercial na TV, pronto... o pequeno Rex... que já não era mais tão pequeno assim... ficava doido! Latia desesperado, babava de fazer poça, corria, pulava, rolava, batia palmas e cantava o hino nacional... tudo para chamar a atenção dos donos para seu deleite, seu sonho de consumo, seu manjar dos deuses caninos. E eles, claro, cedicam sempre.



O tempo foi passando e o filhote foi virando um baita cachorrão que dava gosto de ver. Fofo e carinhoso como todo Golden, quase não dava para notar que o coitado mal podia esticar seu esqueleto grandalhão dentro daquele pequeno apartamentinho, mas nem o próprio Rex se dava conta do incômodo que vivia.



Certo dia, porém, o veterinário da família (!) chamou atenção para o fato de que o pobre cachorro estava ficando atrofiado e receitou longos passeios para que ele, o cachorro, pudesse se esticar à vontade. E foi o que fizeram. Todas as tardes, chegando do trabalho, o casal pegava o cachorrão e iam dar uma voltas pelo quarteirão até o pequeno parque ali pertinho.



Rex era só felicidade. Descobriu que a vida podia ser melhor do que já era: a terra fofinha, a graminha cheirosa, o vento fresco no focinho... as árvores... e as árvores? Por que nunca ninguém falou para ele que fazer pipi no pé da árvore era a coisa mais gostosa da vida canina???? Essa vida, mais as porções de linguiça, era tudo o que poderia desejar.



Percebendo a felicidade da peluda criatura, o casal teve uma brilhante ideia: levar o fofo cachorrão para uma temporada natureba num sítio de uns parentes. E lá foram eles nas férias seguintes. Ele, Rex, não sabia muito bem o que estava para contecer, mas se sentia tão vivo que podia vir o que viesse, ele estava pronto!



Já em terras interioranas, tudo corria na mais plena felicidade até que... Bom, Rex passava os dias solto pelo sítio correndo loucamente para lá e para cá. Passava horas e horas descobrindo, desbravando, batizando todas as árvores do lugar com seu pipi. Lá pela segunda ou terceira semana, porém, Rex começou a sentir que, embora estivesse felizão da vida, algo lhe faltava: a linguiça!




Dando-se conta disso, na tarde seguinte, resolveu ficar estirado na grama, lembrando do sabor do seu petisco quando de repente... o que era aquilo? Uma linguiça? Andando? Achou que estava ficando doidão, mas, por via das dúvidas, foi averiguar - sempre soube que a curiosidade matou o gato, não o cachorro. Mal teve tempo de dar a primeira fungada e 'nhoct'... mordeu a linguiça? Nada! A linguiça mordeu ele! Na verdade, claro, não se tratava de uma linguiça, mas sim de uma cobra. Medo!



Foram dias terríveis os que se seguiram. Rex quase fez a passagem, mas bravo como um guerreiro, resisitiu, todavia, não sem um trauma: pegou fobia de linguiça!



E é por isso que até hoje dizem por aí: cachorro picado de cobra tem medo de linguiça.

*


Bom, a história é mentira, mas o provérbio é verdadeiríssimo!!