domingo, 10 de maio de 2009

O Monstro do Lago Ness


Era uma noite gelada e úmida do mais tenebroso dos invernos. A neblina descia do céu como uma densa cortina branca. Mal era possível mudar o passo sem temer o que vinha pela frente. No céu, uma lua cheia, tímida, opaca lutava em vão contra a massa de nuvens que insistia em encobri-la.

Era uma noite escura. Quase não havia movimento nas ruas. Aqui e ali, dois ou três cachorros, donos de si, embolavam-se sobre maços de velhos jornais numa inútil tentativa de se aquecerem.

Era apenas o início da noite, mas as casas, quase todas, já estavam dormindo. Uma daquelas noites cujo único conforto se encontra sob mil cobertas. Janelas e mais janelas, ao longo dos caminhos, todas escuras, exceto aquela no fim da estreita rua.

Era uma noite silenciosa. Apenas o sussurro dos gélidos ventos conversavam por ali. O tempo passava sem pressa, vascilante, calmo.

Naquela noite, um grito ecoou. Agudo. Apavorado. Grito do mais puro dos medos. Rompeu a neblina. Assustou os cachorros. Acordou as casas.

Frestas de janelas espiavam a rua na tentativa de descobrir a origem daquele som de pavor.
Vinha daquela única casa acordada.

Lá dentro, a mãe corre apavorada para acudir o filho que gritara.

Em seu quarto, gripado, sobre a cama, sob cobertas, o filho, aos prantos, diante de um prato de sopa, dizia aos soluços:

- O Monstro, mamãe! O Monstro do Lago Ness está na minha sopa!

Era uma tira enorme de cebola. Molenga. Transparente. Intimidadora, fazia voltas no prato de sopa do pobre menininho que se protegia como podia, tampando os olhos com as trêmulas mãozinhas. Sim, era o Monstro do Lago Ness! Ou pior: era a monstra cebola da sopa.

A mãe, de arpão em punho, também usado como faquinha de mesa, arrancou aquele ser tenebroso que caíra acidentalmente justamente no prato do filho que mais detesta cebola.
Pronto. O monstro está longe.

O filho, orgulhoso de sua heroína, terminou seu prato de sopa quentinha, virou para o lado e dormiu um sono de quem sabe que está seguro.

E a noite seguiu como ia.


***


Só mãe mesmo!! Feliz Dia das Mães a todas as mamães heroínas de nossos mundos!

Nenhum comentário: