domingo, 28 de junho de 2009

Use apenas em casos de emergência


Já é noite avançada, depois de um dia de estivador no trabalho. Ainda que o cansaço tente, quem impera de fato é a fome. A última refeição foi o almoço há quase 12 horas atrás.

A caminho de casa, a memória vai tenantda lembrar o que há na geladeira, no armário, naquele pote de biscoito. Mais uma vez a fome fala mais alto, então, o desejo de que haja uma lasanha para aquecer, acaba se confundindo com a realidade: mas não, não há uma lasanha na geladeira pronta para ir ao forno.

O supermercado 24 horas fica muito longe. Que tal a padaria?! Já fechou. Assim como o mercadinho, o empório, o armazém, a vendinha, a biboca e o moquifo. O jeito é torcer para que a fada-da-despensa tenha passada e deixado algo prático e gostoso depois de um 'tlim' de sua varinha.

Em casa, depois de quase arrombar a própria porta (fome!), o destino é a cozinha. Na geladeira... hummm... água, uma lata de cerveja, um pote de margarina, um naco de gorgonzola (... que na verdade já foi queijo fresco... melhor não comer!) e só. Na fruteira: a fruteira. A última maçã foi comida no café da manhã. No pote de biscoito, farelo.

A última esperança é a despensa. Esperando um lindo milagre de fim de noite, a porta é aberta. Passando por mil pacotinhos de coisas pela metade, escondido lá no fundo, um milagre: um pacote de miojo!! É a glória!

Por mais que digam que miojo é um horror, 'miojo, que nojo', que é ruim, que detestam, tenho certeza absoluta que na hora daquela fome de doer, um prato de miojo quentinho transforma-se num manjar dos deuses. Aquele cheirinho subindo pela fumaça, aquele amarelinho sem graça... tão apetitoso. E o sabor?! hummm... antes da primeira garfada, a boca se enche de saliva.

Quem nunca viveu uma cena como essa?

O miojo, aquele pacotinho colocado com desprezo e indiferença no carrinho durante as compras no supermercado sabe que será bem quisto, desejado, amado e adorado num dia de fome, e assim, ele espera. Vê todos os outros alimentos saírem, serem preparados com requinte, cuidado, dedicação, paciência, cercados de 'hummmns'... enquanto isso, ele, o pobre miojinho, ali, aguarda pacientemente a sua vez. Ele sabe que será o último da despensa, mas também sabe que no fundo, no fundo não é apenas um macarrãozinho sem graça, lotado de sódio e gordura, sabe que será um alento num momento de fome. Acima de tudo, ele sabe que seu grande tempero não está naquele sachezinho à parte, seu tempero, na verdade, é a fome alucinante. Esperto!

Há quem resista, mas é quase inevitável não apelar para o miojo numa emergência. Existem, inclusive, umas receitinhas para dar uma melhorada nesse macarrãozinho sem vergonha... mas isso é assunto para outro dia. Um amigo meu diz que as palavras miojo e delícia não cabem na mesma frase, mas, aguardem, em breve, dicas para transformar seu miojo numa delícia! hehehe O ingredientes básicos?! Miojo e fome (muita fome!)... o resto são firulas.

Será que me esqueci de alguma coisa?!

Atire a primeira almofada* quem nunca teve uma crise de esquecimento daquelas de dar vergonha.
Pensei que estava desmemoriando. Depois descobri que o caso era de distração aguda. A cabeça está em cima do pescoço, mas os pensamentos... ah, sabe Deus onde estão.
As últimas semanas têm sido um desfile de brancos e lapsos. Alguns são apenas bobagens, mas outros me fizeram ruborizar.
Exemplos?! Darei dois: me esqueci completamente do aniversário desse bloguinho!! Foi dia 23, mas só fui me lembrar no dia 25. Para remediar o lapso, decidi fazer um bolinho de aniversário pequenininho bem lindo e delicioso para fotografar (e posteriormente comer, claro!) e fazer um post comemorativo.
Lá fui eu pra cozinha. Pensei em fazer um bolinho bem prático, daqueles de liquidificador, daqueles que a gente mistura tudo e põe pra assar.
Coloquei (quase) tudo no liquidificador. Liguei. Desliguei. Abri a tampa... a textura estava meio diferente e o cheiro também. Ignorei. Ando distraída e sem paciência. Despejei a mistura na assadeira previamente untada. Levei ao forno previamente aquecido.
Quando me virei para colocar o liquidificador na pia... ali no cantinho, avistei o motivo da textura e cheiro diferentes da minha massa. Notei que havia me esquecido de um ingredientezinho bááááááááásico. Querem adivinhar?! ... errou quem disse fermento! Seria muito clichê! Todo mundo quando se esquece de um ingrediente, elege o fermento. Fui além, muito além: me esqueci de colocar o ovo!! O o-v-o. Lá estava ele, branquinho, encostadinho no canto da pia, quase saltitando para chamar minha atenção: 'ei, ei! olha eu aqui!'. Que puxa.
O mal já estava feito, mas não me fiz de rogada, tirei a assadeira do forninho elétrico, depejei a massa no liquidificador novamente, coloquei o ovinho e dei aquela mexida, como se nada tivesse acontecido!
O resultado?! Vergonhoso, lógico. O bolo ficou da espessura de um dedo mindinho bem magrinho. Praticamente um biscoito: baixinho, seco e crocante. Mas querer que o coitado do bolo crescesse, seria demais. Então, resignada, decidi encerrar as atividades naquele pequeno desastre culinário e não tive a cara de pau de querer confeitar aquele projeto de bolo.
No dia seguinte, peguei a foto de um bolo de verdade no site da Martha Stewart e fiz o tal post, atrasadíssimo, comemorativo de aniversário. Fiquei pensando: será que ela, A Martha Stewart, já se esqueceu de colocar o ovo num bolo?! Ah, acho que não, ela só se esquece de pagar impostos, né?! hehehehe
Só para constar: meu bolo seria de chocolate com recheio e cobertura de brigadeiro... fica para o ano que vem, combinado?!
*melhor não arriscar pedindo que atirem pedras, vai que tem alguém super-mega concentrado por aí!!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

2 anos e 3 dias de Clara.em.Neve!!

Dia 23 de junho, terça-feira, foi aniversário desse singelo bloguinho. 2 anos escrevendo bobagens e pensando em comida! Hoje, 2 anos e 3 dias!! Uma festa!
Meu muitíssimo obrigada aos amigos queridos que sempre dão uma passadinha por aqui, aos que estão próximos, aos distantes, aos que conheço pessoalmente, aos que conheço só pela net, aos declarados e aos anônimos. Muito obrigada a quem deixa comentários aqui ou me manda e-mail fofos. Adoro!
A primeira fatia desse bolo divino* vai para todos vocês!
Muitos anos de vida ao Clara.emNeve!!!!!
Continuem por aqui e chamem os amigos... hehehehe
*a foto do bolo divino em questão foi tirada do site da divina Martha Stewart (http://www.marthastewart.com/) ... no post de domingo explico o porquê.

domingo, 21 de junho de 2009

O que foi que eu disse?!

Quando escrevi o post "A genialidade por trás da comida de avião*", terminei dizendo as seguintes palavras: "(...) Ouçam todos, é melhor parar de reclamar da raçãozinha atualmente distribuída, temo que chegará o tempo em que a cozinha dos aviões se resumirá a um forno de microondas onde as quentinhas, trazidas pelos próprios passageiros, evidentemente, serão rapidamente aquecidas! Escrevam o que estou dizendo... ".
Acharam graça?!
Qual não foi meu espanto quando li no Estadão** a notícia intitulada "Nos aviões, lanche pago e taxa de banheiro***". A prática de cobrança de taxas extras já é adotada em algumas companhias aéreas estrangeiras e agora passa a ser utilizada pela brasileiríssima e espertíssima Gol.
É o seguinte, desde o início do mês, os passageiros que embarcam em Guarulhos com destino a Belém, Fortaleza, Natal, Porto Alegre e Salvador, além do kit-recreio (amendoim, refri e barrinha de cereal), terão a opção de pedir um combo (lanche, bebida não alcoólica e um chocolate), desde que paguem por ele, claro!

Há três opções de sanduíche: saudável (!), gourmet, caprese e kids. Cada um por R$10. Caro, heim?! O tal combo, para não morrer engasgado e poder tirar o gosto ruim da boca, sai por R$ 15.

Não, não, não é piada! Agora, na Gol é assim: "quer encher a barriginha no avião?! Peça pelo número!!". E sabe qual a justificativa?! Segundo eles: "a companhia decidiu começar o serviço depois de realizar pesquisas com os clientes". Oi?! Daria um tequinho da unha do meu dedo mindinho da mão esquerda para ver um desses formulários de pesquisa. O que será que perguntaram para chegar à brilhante conclusão de que os passageiros estariam sedentos por viajar numa lanchonete voadora?!
Se pensarmos na criatividade dos brasileiros, não demora nada para surgir um novo segmento nesse mercado. Vai chegar a hora que, em pleno ar, lá do fundo da aeronave, surgirá alguém, de isopor em punho, gritando: "Refrigerante, cerveja e água é dois real, é geladinho, aqui na minha mão". Duvida?! Mais um pouco e a própria Gol (ou outra companhia aérea, empolgada com o sucesso do novo ramo) irá lotear e alugar pequenos espaços dentro do avião para instalação de, digamos, quiosques onde o pequeno empreendedor poderá colocar uma máquina de churrasquinho grego, um carrinho de cachorro quente e muito mais... as possibilidades são inúmeras e, com perdão do trocadilho horrendo, o céu é o limite, ou melhor, nem o céu é limite!!

Nesse ritmo, a possibilidade de colocarem o microondas no avião para aquecer as quentinhas fica cada vez mais próxima e real. Depois dessa, não duvido de mais nada nessa vida. Geeeeente... estou me sentindo uma quase Mãe Diná.

Tomara que o dinheiro que as companhias economizarem seja investido na segurança dos voos para que cheguemos de estômago forrado e, principalmente, vivos ao destino.

* não leu?! Como não?! Então, vejam texto completo aqui:
** O Estado de São Paulo, terça-feira, 09 de junho de 2009, anos 130, n° 42238, Caderno Viagem & Aventura
***E os constipados nunca imaginaram que um dia levariam alguma vantagem na vida!! Taí, gente de sorte!

domingo, 14 de junho de 2009

Jura que já é junho?! Jesus!


O tempo: esse molequinho sapeca que sai correndo por aí, em desabalada carreira, e a gente nem percebe, quando vai ver, já passou. E não é que junho já está praticamente na metade?!

São tantas as tarefinhas a serem cumpridas que a gente só acaba vendo os dias no calendário e mal repara no mês. Esse fim de semana levei um susto quando vi repostagens em todos os lugares sobre as mandinguinhas para Santo Antônio*.

Sim, são as Festas Juninas colorindo as paróquias com suas bandeirinhas e perfumando as quermesses com seu cheirinho de gengibre e canela! E dá-lhe quentão para aquecer esse outono que não se manca que não é inverno!!

Minha mãe se empolga nessa época. Acho que esses ares interioranos que as festas de junho trazem mexem com o dna caipira dela. Ela é uma legítima descendente de caipiras: filha de pai e mãe caipiras, nascida em Jambeiro e criada até mocinha em Caçapava (...ou seria o contrário?!), Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

A ancestralidade caipira de mamãe, como ela mesma diz, vem à tona, a cozinha funciona a plenos vapores e, como se fôssemos todos morrer amanhã e precisássemos comer tudo num único dia, ela consegue preparar, numa mesma tarde, canjica com leite de coco, arroz doce com canela e leite condensado, bolo de milho com queijo e coco e, para completar, amendoim torrado para beliscar entre um doce e outro! E lá vou eu para o sacrifício de provar muito de tudo. Quantas delícias!

E assim, todos os anos, minha mãe faz questão de honrar a tradição caipira e deixar a família um pouquinho mais gordinha nesses gélidos dias de junho! E viva as guloseimas juninas! Viva!

Só ficou faltando o chá do padre**... me esqueci de comprar a Paçoquita e fiquei sem coragem de sair nesse frio polar só pra isso... mas ainda tenho duas semaninhas para resolver essa falha!

*...a mandinga que mais me chocou foi a que colocam o poverelo do santo, sem o menino Jesus, virado de ponta cabeça dentro de um copo de cahaça num armário escuro!! Gente, estão pegando pesado com o Santo! Isso é tortura das brabas. Será que não periga de acontecer o efeito contrário?! Eu, heim?!

domingo, 7 de junho de 2009

Será que vai chover?!


Sabe aqueles dias de boa preguiça? Dias de friozinho (ou de friozão como os dessa última semana em São Paulo), dias de garoa, dias de chuva. Sabe aqueles dias de saudade de seja lá o que for?! Saudade de outros dias, de outros lugares, tempos passados ou que ainda nem aconteceram. Sabe aqueles dias de lembranças?! Lembranças de pessoas queridas, de quem está pertinho ou muito longe ou muito, muito longe.

Numa dessas tardes, de um desses dias, bate aquela vontade de comer alguma coisinha aconchegante. Alguma besteirinha que não apenas satisfaça o estômago, mas que também provoque a memória, que remexa seu baú de lembranças. Sabe o que acompanha esses dias?! Bolinho de chuva!

Não, não, não é a coisa mais saudável do mundo, afinal, é um bolinho frito, mas e daí de vez em quando?!

Esse é um bolinho que me faz lembrar de coisas boas, de tempos bons, de pessoas queridas. É um bolinho que, pra mim, poderia se chamar bolinho de saudade. E que também é uma delícia para comer junto de pessoas queridas, acompanhando um bom papo, em dias que a gente talvez nem se dê conta de como é feliz por ter as pessoas que amamos por perto, ainda que estejam longe.

Esse bolinho faz tudo isso!

Quer uma receita bacana e que fica bem sequinha e crocante?! Taí, ó:


1 ovo

1/2 copo de leite

3 ou 4 colheres de sopa de açúcar (depende de como você prefere, mais docinho ou mais neutro... pra recehear com doce de leite ou geleia!!)

2 colheres de sopa rasas de amido de milho (pra deixar seu bolinho mega fofíssimo)

2 colheres de sopa de aveia (pra dar uma forcinha nas fibras, né?!)

1 e 1/2 xícara de chá de farinha de trigo ( se preferir, fracione com farinha integral)

1/2 colher de sopa de fermento em pó

açúcar e canela em pó para polvilhar


(Dica importantíssima: nunca, jamais, nem sob tortura, coloque margarina ou manteiga na massa... esses ingredientes é que fazem o bolinho chupar a panela inteira de óleo. Quer bolinhos sequinhos?! Esqueça a margarina e a manteiga!)


O modo de fazer é aquele para mestre cuca: numa tigela, misture o ovo, o açúcar e o leite. Assim que a mistura estiver homogênea, acrescente a aveia, o amido de milho e vá acrescentando aos poucos a farinha de trigo. O ponto é uma massa cremosa e consistente, nem muito líquida, nem muito seca. Por último adicione o fermento em pó com mais um pouquinho (uma colher rasa) de farinha e mexa bem. Deixe a massa descansar por mais ou menos 10 minutos. Enquanto ela repousa, coloque óleo (novo, heim?!) numa frigideira, panelinha, tacho ou recipiente de fritura de sua preferência e deixe aquecer em fogo brando. Forre uma tigela com gardanapos de papel. Quando o óleo estiver quente, mas não pegando fogo, nem soltando labaredas e fumaça verde, modele os bolinhos com a ajuda de duas colheres, diretamente no óleo. Deixe fritar dos dois lados (...eles se viram sozinhos na panela! Uau! Assim que um lado está frito, ele vira a bundinha pra cima pra fritar o outro lado!!!) e coloque na tigela forrada. Quando todos estiverem fritos (...Ah! importante: dizem as vovós que se você comer um bolinho antes de terminar de fritar todos, os outros irão ficar encharcados, crus e horripilantes!! Pelo sim ou pelo não, melhor fritar tudo antes de provar!), polvilhe açúcar e canela sobre eles. Se estiver inspirado, recheie com doce de leite ou alguma geleia que está dando sopa na geladeira. Agora é só passar aquele balde de café fresquinho (...ou chá mate quentinho!) e se entregar às memórias, a um bom papo, às cobertas, à preguiça ou ao que mais lhe agrade!


O bolinho é de chuva, mas nem precisa se preguntar se vai chover! Seja subversivo: coma bolinho de chuva em tardes de sol! Mais importante é ter do que ou de quem se lembrar com carinho.