domingo, 24 de maio de 2009

Trabalhadores do mundo, uni-vos!


Ela caiu como uma bomba atômica sobre a cabeça do mundo. Ela, no caso, é a Criiiiiiiiise. Embora alguns acreditassem que não passasse de uma marolinha*, o fato é que de uma maneira ou de outra a tal crise mundial acabou pegando todo mundo de um jeito ou de outro.

Quem não foi afetado diretamente, acabou usando a falta de crédito e o sobe e desce da bolsa como desculpa perfeita para fazer alguns, digamos, ajustes no quadro de funcionários. Naquela empresa não foi diferente.

As coisas iam muito bem, mas sem saber exatamente o que vinha pela frente, o chefe achou melhor enxugar os setores antes que o pior acontecesse. A notícia de demissões correu toda a empresa em menos de 2horas. A atmosfera de pânico tomou conta do lugar.

Antes do final do expediente, o pessoal do sindicato já estava na porta do prédio convocando os trabalhadores para uma manifestaçãos sem hora para acabar. Um representante foi escolhido para negociar.

Longas horas depois, um acordo finalmente foi firmado entre as partes. O sindicato sugeriu um programa de demissões voluntárias que oferesse algumas vantagens para quem saísse; para os que ficassem, haveria uma redução na jornada de trabalho e, lógico, uma redução no salário. Se tudo corresse bem, seria necessário demitir apenas 10% da lista inicial. Ainda era ruim, mas naquele momento era o melhor que se podia fazer . Isso tudo numa sexta-feira.

Na segunda-feira, os funcionários que toparam entrar no pdv já ficaram em casa, os outros chegaram para trabalhar sabendo que sairiam mais cedo e que no fim do mês receberiam menos. O clima ainda era de incerteza, afinal, apesar de todos os esforços, ainda havia o risco de integrar a lista dos 10% que seriam demitidos.

Logo no início do expediente, o próprio chefe foi ao quadro de avisos afixar a lista dos demitidos. Todos largaram o que estavam fazendo e, com o coração na mão, foram até o quadro. Ninguém queria ver seu nome ali. Suspense. A lista era curta, apenas uma vítima. Cada um que olhava aquele papel e não se achava ali sentia um alívio imediato. E assim foi até que a dona do nome se reconheceu.

Ela foi firme, corajosa, não derramou uma lágrima, mas todos notaram que ela tinha sido a escolhida para o sacrifício. Ela teria de sair para que a empresa continuasse viva. Ela.

- ... mas quem é ela?! Não consegui ver direito daqui.
- Não sei, tô tão feliz que não sou eu que nem prestei atenção.

Pergunta daqui, pergunta dali, até que um dos funcionários, ainda em estado de choque, conseguiu pronunciar algumas palavras para revelar a identidade da demitida:

- ..eee..eela é a... a... aaa... ti...tia do...do... do... café!
- A TIA DO CAFÉ?!
- a tia do café?!
- a tia do café?!

A empresa toda, em uníssono, gritou um profundo e dolorido 'nãããããããããããããããããããããããão'.

Em menos de 5 minutos os pessoal do sindicato estava na porta do prédio, desta vez com três carros de som, dois trios elétricos, bandeirolas, faixas e aos berros mandavam o recado ao chefe:

- NÓS ACEITAMOS DEMISSÕES VOLUNTÁRIAS!
- Ééééééé!
- NÓS ACEITAMOS REDUÇÃO DA JORNADA!
- Ééééééé!
- NÓS ACEITAMOS ATÉ UMA REDUÇÃO DO SALÁRIO.
- Uuuuuuuuh!
-...MAS NÃO PODEMOS SER CONIVENTES COM ESSE ABSURDO, COM TAMANHA DESUMANIDADE PARA COM NOSSOS TRABALHADORES! DEMITIR A TIA DO CAFÉ CONFIGURA UM ABUSO DESMEDIDO. NÓS NÃO ACEITAMOS! NÃO!
- Não! não! não!

Os trabalhadores das empresas vizinhas, ouvindo o motivo da manifestação, se solidarizaram à causa. Logo a ruas vizinhas já estavam tomadas por manifestantes. Outras centrais sindicais dirigiram-se para o local. A imprensa. Ongs. Cidadãos comuns. Líderes de todas as religiões... até o Dalai Lama apareceu por lá!
A tropa de choque, chamada para apaziguar os ânimos, limitava-se a observar de longe. No fundo no fundo, eram também solidários à manifestação.
Ao chefe, acoado e se pelando de medo, restava apenas rever sua posição, admitir a meleca que havia feito e voltar atrás:
- Senhoras e senhores, estou profundamente envergonhado comigo mesmo. Peço perdão a todos vocês por meu erro. No momento, só me resta declarar, diante de todos vocês, que a tia do café fica, ela é peça fundamental nessa engrenagem... saio eu no seu lugar!!
- EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEh!
E assim foi. Na terça-feira, tudo voltou ao normal. Sem chefe, as coisas funcionaram muito bem, talvez porque o cheirinho de café, que tomava conta de toda a empresa, tranquilizasse todos e dissesse, silenciosamente:
- Vai ficar tudo bem! Vai ficar tuuuuuudo bem!
.
Moral da história?! Seja qual for o tamanho da crise, haja o que houver, nunca mexa com a tia do café!
.

*adivinha quem! adivinha quem!

Um comentário:

Regis disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH não acredito... Nenhum comentário nesse post revolucionário! Gente, vamos nos mobilizar!!!