domingo, 30 de maio de 2010

Café com leite ou leite com café?

Tão popular no Brasil quanto arroz com feijão, o pingado também tem lugar garantido no café da manhã de muitos brasileiros por aí. Tem aroma de casa de mãe, misturado com sabor de lembranças. Aposto que todos são capazes de associá-lo a alguma emoção.


A primeira pessoa que me vem à lembrança quando penso nessa bebida é minha vó. Ela era totalmente viciada no leite com café. Sim, leite com um pingo de café, bem clarinho, com muito, muito, muito açúcar e à 200ºC!! Uma coisinha tão simples, mas era uma dose instantânea de felicidade pra minha vovó. Assim como, o contrário, a ausência de uma boa xícara dessa bebida na horinha certa, era capaz de fazê-la esmorecer, beirando a depressão ou... dependendo de quanto tempo tivesse passado da hora... ela ficava num mau-humor galopante!


O vício foi devidamente repassado para todos os filhos. Quatro herdaram a preferência por leite com café e toneladas de açúcar, minha mãe, porém, contrariando a tradição da mãe dela, sempre preferiu o café com leite, com pouco açúcar, mas tão fumegante quanto vovó apreciava.

Os primos, todos, perpetuam a tradição. Já na minha casa... mamis não conseguiu cultivar esse gosto nas 2 filhas. Tanto eu quanto minha irmã fomos criadas à base do leite com Toddy (nenhum outro achocolatado... apenas Toddy, sempre Toddy!). Não tenho certeza do porquê: se por pura teimosia de criança que não gostava do sabor do pingado e se negava a tomá-lo ou se porque minha mãe não achava certo (como ainda não acha!) criança beber café, ainda que misturado ao leite.


Fato é que, até hoje, café com leite/leite com café não é minha bebida favorita. Pra mim, café é bebida nobre que merece ser saboreada pura, simples, foooorte (se fosse whisky seria cowboy!), morninho, acariciando cada uma das papilas gustativas. Mas, sabe como é, de vez em quando a genética fala mais alto e, para variar um pouquinho, preparo um café com leite (saudades da vó...). Entretanto, a influência materna dita a dose: mais café do que leite, sinalizando que mamãe não fracassou completamente na transmissão do valor!


Na última quinta-feira, 27, o Estadão (n° 245) dedicou seu caderno Paladar a essa bebida. Traz regrinhas para fazer um bom pingado, dentre as quais, a de que deve ser servido num copo americano (bem padoca, né?!) e que o melhor parceiro no café da manhã é um quentinho e cheiroso pão na chapa. Mas o que me chamou mais a atenção foram dois depoimentos: o de Patrícia Ferraz e o de Janaína Fidalgo. Ambas, de maneiras diferentes, associam o inocente pingadinho a trauma de infância porque as mães obrigavam-nas a tomar uma xícara toda manhã!! Eu e minha irmã não tivemos esse problema! Mas achei engraçado, porque café com leite, pra mim, é sinônimo de bebida de mãe e, pelo jeito, não só pra mim. Essa parece ser, então, a bebida oficial das mães... a preferência deve brotar junto com o instinto materno ou coisa assim.

Me pergunto se um dia, se mãe, virei a suspirar por uma xícara de café com leite. Será?! Continuo achando que café com leite ou leite com café está mais associado à emoção do que ao paladar.



domingo, 23 de maio de 2010

Virada Cultural 2010 - parte III de III

(...continuando)

A intensidade do sol piorava cada vez mais. Já a pino, algumas pessoas foram desistindo: bom porque assim cheguei à grade, mau porque ali nada me protegia do sol. Sorte que, mesmo o tempo tendo estado péssimo durante toda a semana, meu otimismo sagitariano me fez passar protetor solar 60 antes de sair de casa e, mais, me fez levar o potinho na bolsa para repassá-lo ao longo do dia.


O pastel, aquele singelo pastelzinho pingando óleo, já fora digerido e meu pobre estômago nem tinha esperanças de que fosse ver comida tão cedo. Além disso, por motivo já mencionado, não bebi nada de líquido desde a hora que saí de casa, às 7h... e o líquido, no caso, foi café! No entanto, mesmo que eu me dispusesse a beber água, cerveja, chimboquinha ou vinho Chapinha... não seria possível: os adegueiros ambulantes não chegavam à grade! A solução tanto pra fome quanto pra sede? Trident! Com um chicletinho aqui, outro ali, fui aguentando o dia todo.


O próximo show? Arnaldo Antunes com seu álbum Iê-iê-iê. Confesso que senti medo da reação da Avenida São João, afinal, o show anterior teve direito àquelas rodas de porrada (gigantesca!!), totalmente rock’n roll... daí chega o poeta e sua banda, toda de figurino, para derramar sobre o público canções totalmente conceituais. Mas, gênio é gênio! Além disso, nada supera a experiência! O senhor Antunes está há décadas na estrada e soube dominar não apenas o palco, mas principalmente o público que, mesmo não conhecendo todas as músicas, vibrou com todas elas. Eu, fãzaça, fiquei feliz por mim e por ele!! Ainda mais porque tocou uma das minhas músicas favoritas: ‘judiaria’. Uma versão hard core para o rei da dor de cotovelo, Lupicínio Rodrigues. Vale também mencionar que a presença do Edgard Scandurra, o dito virtuoso ex-guitarrista do Ira!, causou uma certa comoção nos saudosos fãs da banda que subiu no telhado. Como diria meu estimado Paulo Leminski: ‘O que vai embora não embolora’!


Findo o show... mais uma Era até o próximo. Nesse meio tempo algumas coisas. A primeira e mais importante: o baterista dos Raimundos* ficou para curtir os shows depois do dele e estava dando sopa na plateia VIP, o pessoalzinho que estava atrás de mim, chamou e o cara atendeu muito simpaticamente. Enquanto todos pediam fotos e autógrafos... a mim só interessava uma coisa ‘Posso te pedir uma coisa?’ ‘Claro, linda!’ ‘Me dá um gole da sua cerveja, pelo amor de Deus!’. Foi a cerveja mais gostosa que já bebi na minha vida. A sede estava me dominando! Vendo meu olhar de uva passa ele ofereceu a cerveja toda... lógico que não recusei!! Ah, que simpatia! Salvou minha vida! Também deram o ar da graça o Rafael Cortez do CQC, o Walace Lara (ou seria o César Trali?!) da Globo e a Cristiane Alcalá da TV Cultura, para quem concedi uma entrevistinha... mas só porque era para essa emissora e porque ela foi minha professora e orientadora na pós-graduação... hehehehe!!!


Uma vida e meia depois, os Titãs, os 4 que restaram (de uma banda que já foi de 8!), entraram no palco já com o céu escuro. A expectativa para esse show era a pior possível. Depois do CD Acústico, a banda, na minha pobre opinião, perdeu o rumo da prosa e descambou para um popzinho sem graça. Os shows não lembravam nem de longe os tempos de Titanomaquia e Domingo. Mas, porém, no entanto, todavia, qual não foi minha surpresa ao perceber que a banda acordou pra realidade (identidade) e estava mais rock’n roll do que nunca!! Uma sequencia inacreditável de músicas dos bons tempos: AA UU, Bichos Escrotos, Diversão, Pulso (com a histórica participação de Arnaldo Antunes!!), Cabeça Dinossauro (não acreditei!), 32 dentes (achei que a cerveja que bebi tinha alguma coisa que estava me provocando alucinações), Porrada (idem anterior, vezes 10 ao quadrado), Polícia, Vossa Excelência (essa mais recente, mas de conteúdo recheado de impropérios e chingamentos), Lugar nenhum, Televisão (numa versão 2010 totalmente roqueira, sem o ôôôôô!), Flores, Go back, Sonífera ilha (essas três bem mais tranquilas, momentos para respirar!) e mais algumas do novo CD, duas bem pesadas e duas mais baladinhas (cicatrizes! Perdoáveis em vista de todo o resto!). O show foi como há muito, muito, muito tempo não via. Valeu o sol na moringa, a fome, a desidratação, as 8 horas em pé! Saí de lá no bis (‘É preciso saber viver’) antes que o efeito rock passasse!


O percurso da grade ao fim da plateia parecia não ter fim! A Estação da Luz parecia que ficava em Changrilá! Andei, ande, andei, andei (pedi 39764789650475082374023984903490384093750748707603985093674039768930478407509457897304957980234394738567385t46587239 informações, afinal, me perco até na palma da minha mão!!), passei pelo caminho inverso da Estação Pinacoteca (onde comecei meu dia!) e finalmente cheguei na estação. Cansada, dolorida, desidratada, faminta, rouca, mas feliz por ter aproveitado pelo menos metade da Virada Cultural 2010.


Qual será a programação em 2011, heim?! Já estou contando os dias!


*Devo confessar que depois da 17859409893977ª formação dos Raimundos, parei de tentar guardar o nome dos integrantes, então só me lembro o de quem era da primeira formação. Desculpa, batera!!


PS1: a foto é da rua em frente à Estação Pinacoteca, de manhã tomada pela criançada e à noite, momento da foto, com apenas poucas pessoas, indo embora, marcando o final do evento... quase melancólico, não?!

PS2: passei quase toda a semana sem voz! efeito colateral!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Virada Cultural 2010 - parte II de III

(continuando!)

Já na China (sim, andei feito burro velho!) lá estava: o Palco Rock! O show da Pitty tinha acabado de acabar. Uns diziam que tinha sido um show animal, outros diziam coisas que não se diz nem a um animal (trocadilho ótemo!). Mesmo milhares de pessoas indo na direção oposta, ainda assim, a plateia desse palco estava absurdamente lotada. Dá um passinho aqui, outro ali, mais uma corridinha acolá e eu já estava há umas 20 fileiras de cabeças a partir da grade.
O próximo show era Ramones. Aaaaah, me deixem viver essa ilusão, por favor! Na verdade, segundo a programação, o show era ‘CPM22 ( Ramones)’. Cri nisso. Músicos no palco, ‘one-two-three-four’ no gogó e dá-lhe ‘Hey Ho, Let’s go!’. Infelizmente, 20 minutos depois eles já tinham tocado as 20 músicas do repertório previsto (Ramones, né?!), foi então que bateu o desespero. Badauí anuncia: ‘agora a gente vai tocar umas músicas nossas’. Nããããããão. Propaganda enganosa... quero meu dinheiro de volta! (?) O problema é que não tinha pra onde correr, literalmente. Pior: o povo que me cercava estava adoraaaaaaando. Medo, né?! Fui forte e aguentei. Quando acabou (ufa!), um longo intervalo para desmontagem/montagem dos equipamentos.
Enquanto isso, vendedores, com a força de 10 mamutes, circulavam irritantemente pra lá e pra cá com verdadeiras ‘adegas’ sobre a cabeça. Dentro daquelas caixas de isopor, havia uma diversidade de bebidas capaz de fazer inveja a muitas cartas de bebidas de muitos restaurantes (ah, tá!): vinho Chapinha (que os vinhos de verdade não me ouçam/leiam), Chimboquinha (oi?!), Ceveja (Brahma e Skol! ó!), Coca-Cola (zero e normal! uia!), Guaraná Antártica e água!! Ignorei todos, afinal, sigo a lei da ‘ação e reação’: cada ml de líquido ingerido se transforma, invariavelmente, em pipi, o qual precisa, necessariamente, urgentemente, sair de dentro de você uma hora ou outra... para isso, a única alternativa oferecida num evento desses é... banheiro-químico-depois-de-quase-24h-de-milhões-de-pessoas-passando-por-lá! Por esse prisma, uma possível desidratação no final do dia parece ser bem mais agradável, pois não?!
Algumas pessoas foram desistindo, outras chegando... e eu, andando, andando. Já estava a duas cabeças da grade. Sendo que uma dessas cabeças pertencia a uma menina totalmente chapada que queria, insistentemente, ver o oco.
Sim, o próximo show: Raimundos. Mais massacrantemente pesado do que nunca. Bacana, bacana. Era evidente que todos eles, os Raimundos, estavam muito felizes por estar ali, tocando para uma multidão que tomou conta de toda a e extensão da Avenida São João. E o Sol, lá no céu, quase a pino, tão animado quanto o povo lá embaixo. Já era possível sentir o cheiro de miolos bem-passados. (continua...)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Virada Cultural 2010 - Entre mamadeiras e cervejas – parte I de III


Minha Virada Cultural começou gastronômica (ou quase isso) ganhei um bolo do meu amigo, infelizmente o bolo não era do tipo que se come, mas do tipo que se lamenta. Aaaaaaaaah... Perdeu, amigo! O dia foi sensacional!!

Comecei os trabalhos no domingo. Aliás, um lindo domingo de Sol e céu azul. Primeira parada: Praça Júlio Prestes para ver/ouvir Palavra Cantada. Quem não conhece, pelo amor de Deus, não percam mais tempo e ouçam as lindas músicas desse grupo. Se você não é mais criança, um dia, certamente, já foi.
Liderado pelos simpáticos, graciosos e talentosos Sandra Perez e Paulo Tatit, esse grupo faz música para crianças (de todas as idades!) respeitando seu universo lúdico e inocente, mas também sua infinita inteligência em pleno desenvolvimento. Os arranjos são ótimos (impossível ouvir sem querer sair pulando e dançando!) e as letras são inteligentíssimas, fofas e engraçadinhas. Fiquem curiosos, coloquem ‘Palavra Cantada’ no youtube e comprovem o que estou dizendo*! Além do show que acontece no palco, outro acontece na platéia. Pais, mães, filhos, avôs, avós, netos e avulsos (eu!) cantam, pulam, dançam... todos com a mesma idade de criança. Uma viagem à aurora querida de todas as vidas. O cardápio?! Mamadeiras daqui, papinhas dali, pacotes de bolacha divididos por todos ao redor (afinal, criança, quando vê, fica com vontade, né?!), algodão doce melando eternamente mãozinhas e cabelos.

Findo esse espetáculo, saí sem rumo. Passei em frente minha casa (também conhecida como Pinacoteca do Estado de São Paulo) onde a apresentação da Banda Sinfônica do Estado estava no clímax. Coisa linda de se ouvir (e ver, dada a grandiosidade do grupeto). Ali parei por alguns minutos e, enquanto mascava um dos 1245789563 Trident do dia, pensei em como é linda a cidade de São Paulo e como esse evento casa-se perfeitamente com a diversidade de absolutamente tudo que há por lá.
Parte do público dormia, parte acordava. Esses porque levantaram cedinho pra curtir o dia e aqueles porque curtiram desde de ontem e não resistiram à boa música (canção de ninar, ainda que fosse heavy metal!!) e às convidativas cadeiras para puxar um ronquinho e recarregar as baterias para mais uma rodada de shows (e, muito provavelmente, de vinho barato... desse falarei mais adiante!). Eu, fazendo parte do grupo que acordava mais a cada minuto, resolvi botar as perninhas para trabalhar.

Atravessei a Estação da Luz: pessoas indo trabalhar, chegando do trabalho, voltando da Virada, chegando na Virada, todos juntos, cada um pro seu lado. No lindo (lindo mesmo) hall da estação, pianistas amadores dedilhavam notas a duas, quatro, seis (!) mãos! Era música?! Claro que sim!
Na rua oposta à minha casa (seria a Cásper Líbero?!), estava o Palco dos Independentes... de lá vinha um som que me parecia familiar: ‘...mas como pode ser isso?! Ouço pandeiros e cavaquinhos e, ainda assim, isso parece com alguma coisa que conheço?! Estou eu virando pagodeira?!’ ...passados os segundos de surto, constatei: ouvia 'Another Brick in the Wall' numa versão pagode... pa-go-de! A quadrilha que tocava isso era o Sambô. Ui! Continuei andando, antes que a coisa piorasse.

No meio do caminho tinha... uma feira! A vida cotidiana acontecendo em pleno fim de semana de Virada Cultural. Naquela rua, senhorinhos e senhorinhas arrastavam seus carrinhos com suas frescas provisões, na calma tranquilidade das manhãs de domingo. Uma ilha de cotidiano em pleno caos cultural. Tudo normal, não fosse... a barraca de pastel! Sim, o pastel de feira, capaz de unir gregos e troianos, patrões e empregados e, durante aquele dia, também roqueiros, pagodeiros, baladeiros, bêbados, mendigos. Ao redor da barraca, todo esse pessoal gritava pedindo o pastel escolhido: ‘Bauru! Pizza! Carne! Queijo! Camarão! Frango com catupiry!’ ‘Come aqui ou pra viagem?!’... tudo numa sintonia digna de um antigo pregão da Bovespa. Todos se entendiam, todos saiam satisfeitos. Inclusive eu, oras! Garanti meu almoço às 10h30, afinal, não sabia quando poderia comer novamente. De pastel no estômago, continuei andando.

Já nos arredores da Galeria do Rock, o público era o extremo oposto daquele da Palavra Cantada. Uma roda de capoeira acontecia ante uma plateia atenta e/ou sonolenta, sóbria e/ou bêbada. Mais a frente, legítimos índios da tribo ’25 de março’ faziam seu sonzinho em troca de uns trocados. Tanto a roda quanto a tribo nunca devem ter tido plateia tão volumosa!
(continua...)

*...ou não, gosto não se discute, né?!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Virada (de sono) Cultural 2010


Esse foi o fim de semana da Virada Cultural em São Paulo. Cheguei tarde em casa totalmente esgotada, sem a menor condição de digitar uma frase se quer, maaaaaaaas prometo que durante essa semana postarei relato detalhadíssimo de minhas aventuras nesse evento inacreditável!!
Aguardem!! hehehe

domingo, 9 de maio de 2010

Fast food?!

- Bom dia! Vai pagar em dinheiro ou cartão?

- Bom dia!!! Ainda não sei... Acho que em dinheiro. Não, cartão! Dinheiro! Cartão, cartão!

- CPF na nota, senhora?

- Será?! Não sei. Quero! Quero sim!

- Pode falar.

- 29...34...78... não... 29...24...48...98736

- CPF inválido, senhora.

- De novo: 2924489...9 ou 8? Espera, deu branco! Vou pegar o CPF na bolsa... um segundinho!

- (...)

- Mas onde foi que eu coloquei aquele danadinho? Estava aqui até ontem! (...) Ah, troquei de bolsa e acho que deixei na outra. Que pena! Faz sem CPF mesmo.

- (respira fundo) Pode fazer o pedido.

- Sabe, ainda não me decidi! O que você me recomenda?!

- (conta até 10) Big Mc, batata grande, refrigerante grande?

- Não, não, tudo muito grande... estou com pouca fome...

- Cheese burger, batata pequena, refrigerante pequeno?

- Hummm, talvez... como é o cheeseburger?

- Basicamente hamburguer e queijo (dã!)

- Ah, é mesmo! Cheeeeeeese e burger!! Entendi! Mas não, muito simplesinho. Quero algo um pouco menos vulgar...

- Quer olhar nosso cardápio, senhora?

- Não, não! Confio em você! Além disso, estou sem meus óculos, não estou enxergando nada! Aquele ali da foto, bonitão, qual é?

- Cheddar Mc Melt, senhora.

- Hummm, parece bom. O cheddar que você diz é queijo cheddar?

- Exatamente, senhora. Batata e refrigerante?

- Queijo cheddar e o que mais?

- Hamburguer, picles, catchup, mostarda, cebola dourada no shoyo e pão. Batata e refrigerante?

- Hummm, parece bom! Acho que vou querer esse.

- (bufando) Batata e refrigerante?

- Não, não, só o lanche, querida! Estou com pouca fome.

- CHEDDAR AQUI (gritando para colocarem logo na bandeja)

- Já está pronto? É aquele ali? Não, não... pede pra fazer o meu sem cebola, por gentileza! Detesto cebola!

- CHEDDAR ESPECIAL SEM CEBOLA! (quase histérica)

- E sem mostarda, tá? Destesto mostarda!

-CHEDARESPECIALSEMCEBOLAESEMMOSTARDA... MAIS ALGUMA COISA, SENHORA? (gritando como se a senhora estivesse a 1 km de distância)

- Deixa ver... hummm... não, não... é só isso, mesmo!

- R$ 5.

- Eu tinha falado dinheiro ou cartão?

- Cartão.

- Aqui.

- Débito ou crédito?

- Dédito. Não, crédito. Débito, débito!

- Débito, senhora?

- Isso mesmo. Foi o que eu disse!

- Pode colocar a senha.

- (129877? Não... 127798... 981277? 978721?) Xi, esqueci minha senha! Bloqueei meu cartão! Poxa vida! Tá aqui, ó, vou pagar em dinheiro.

- (grrrrrr) Não tem mais trocado, senhora?

- Não!

- PRECISO DE TROCO PRA 100! (gritando bem mais do que o necessário, já que a gerente estava ali do ladinho)

- (...)

- Seu troco, seu lanche (graças a Deus!).

- Ah, vou querer pra viagem!

- (jogando o lanche no saco de papel)

- Obrigada, querida! Deixa ver seu nominho... adorei você, sempre que vier aqui, faço questão de ser atendida por você! Tchau-tchau!

*

No dia seguinte a atendente pediu demissão.


domingo, 2 de maio de 2010

Origami na ponta do garfo


Uma das regrinhas de etiqueta à mesa que parece ser a coisa mais simples do mundo, mas que pode complicar a vida dos menos habilidosos é aquela que se refere às folhas de verdura. Diz-se que nunca, jamais, de maneira nenhuma, de forma alguma você deve cortar folhas de verduras no prato para levá-las à boca. Ou seja, ainda que você esteja diante de uma folha do tamanho de uma orelha de elefante, você terá de se lascar para enfiá-la inteira na boca, de uma vez, sob pena de ser execrado publicamente por algum fiscal da moral e dos bons costumes à mesa (geralmente quem exerce esse simpático papel é aquela tia chata que acha que é rica, aquele primo metido à besta, ou aquele cunhado que não perderia, por nada nessa vida, a oportunidade de fazer você passar um ridículo).


Se não se pode/deve cortar, o jeito então é dobrar. Taí, talvez o mérito do feito fique por conta da habilidade de conseguir fazer tantas dobras quantas forem necessárias para fazer com que uma folha inteira caiba numa única bocada. Não parece coisa muito complicada, pois não?! Mais ou menos.


Quando a salada é sua, você até consegue ter o domínio da situação. No preparo, tira os talos aqui, rasga as folhas grandes ali e pronto, com apenas algumas viradinhas no garfo, já é possível comer a salada sem que se pareça um cavalo comendo capim: metade pra dentro, metade pra fora.


O problema é quando se encontra algum sádico por aí que resolve colocar todas as folhas inteiras na saladeira: rúculas com talos de 2 metros, agriões com 45 ramificações de talos, alface americana que mais parece uma tigela, alface crespa com 3 metros de comprimento por 17,5 de envergadura. Uma complicação que só vendo... comendo.


A rúcula é minha cruz pessoal. Adoro, mas só Deus sabe a briga que travo com seu talo cada vez que ela vai parar no meu prato. A parte da folha é facilmente manipulável, mas o talo é de uma teimosia irritante. Eu dobro, ele volta, dobro de novo, ele volta de novo, quando acho que o venci e estou levando a ruculíssima à boca, pimba!, o talo desenrola e fica pra fora da boca! Situação de pânico. O que fazer?! Tirar a folha toda? Enfiar o talo com a mão? Seja lá qual for a escolha, a cena certamente será ridícula.


O agrião não fica muito atrás no nível de dificuldade, afinal, se perde no comprimento, ganha na quantidade de talos. Dobrar tudo aquilo requer paciência de monge!


Alface americana: somente o imperialismo norte-americano explicaria a presença dessa alface sem gosto e sem graça em praticamente todos os buffets de salada da Terra!! Para começar, ela é praticamente 100% talo. Isso aumenta enormemente a dificuldade de dobrar suas folhas. Quando o sádico em questão resolve colocá-la inteira na saladeira, instala-se o caos. Ela é quase uma folha de repolho!! Quem faria uma salada com folhas inteiras de repolho?!


A alface crespa parece inofensiva, mas quando não é previamente rasgada, torna-se um desafio hercúleo dobrá-la no prato. Seu tamanho costuma variar muito, então há casos em que se pode estar diante da tal orelha de elefante mencionada anteriormente. Dobra aqui, puxa ali, prende esse ladinho, segura aquele ali... quando vai ver, tem-se um lindo origami de alface na ponta do garfo... dá até dó de comer!!


Longe de ser um comportamento selvagem, como palitar os dentes em público* (hehehehe), não cortar ou cortar a verdura não irá torná-lo um ser humano melhor ou pior, mas é um primeiro passo rumo à aristocracia, às altas rodas da sociedade, à realeza (ah, tá!). Ok, não aumenta os valores da sua conta bancária, mas também não custa nada fazer bonitinho à mesa, né não?!


Para que a vida das pessoas fique um pouquinho mais fácil, não custa nada deixar aqui um singelo apelo: oh grandes e pequenos saladeiros do mundo, ao preparar uma salada, por misericórdia, rasguem as folhas e tirem os talos das verduras para não fazer da refeição uma aula de origami!!



*aquele artifício de colocar a mãozinha na frente da boca na tentativa ineficaz de disfarçar o que acontece ali atrás só chama ainda mais atenção. Melhor mesmo é, de boca fechada, ir ao banheiro, trancar-se lá e só voltar quando puder sorrir novamente!